segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Non, Je Ne Regrette Rien

Tenho tido uns sonhos estranhos. Ontem sonhei que matava um homem, sem querer. Por proteção. Era uma briga de trânsito envolvendo toda a minha família. Eu tinha um revólver e acabei atirando. E fiquei com o corpo nos braços, sem saber o que fazer. Enfim, meu pai decidiu ir pra casa (estava tarde) e deixar o defunto escondido embaixo da minha cama. No dia seguinte nos livraríamos dele. Um desconforto imenso, dormir com o homem que você matou embaixo da cama. E eu não estava conseguindo pegar no sono, então levantei pra beber água. Quando voltei, fui conferir o corpo e só tinha sangue. Ele não estava mais lá. Desespero, horror. O homem que eu matei estava vivo. E queria vingança.

Meu sono, naturalmente, é muito agitado. E, como gosto de dormir de manhã, acabo ficando mais tempo naquele estágio em que a gente lembra dos sonhos. Tenho reparado como nunca, nunca me dou bem neles. A história pode até começar tranquila, envolvendo um passeio em família, um flerte, uma ida à praia... Quando de repente aparece um ladrão ou assassino, animais peçonhentos, ondas gigantes (nossa, sempre sonho com ondas gigantes, e que estou afogando, e que estou caindo de um prédio que não tem fim... Sempre).

Tenho muita vontade de estudar o significado dos sonhos. Já ouvi falar que existe uma terapia que é toda baseada nisso. Porque um sonho nada mais é que o subconsciente jogando na nossa cara o quanto a gente não presta. Por isso, eu quase sempre omito algumas partes das minhas viagens oníricas. Porque acho que as pessoas vão ficar impressionadas. Ontem mesmo, falei pra algumas pessoas sobre esse sonho do defunto embaixo da cama, mas não contei que, depois de dar o tiro, comecei a socar o rosto do homem, porque não podia deixar o serviço pela metade e tinha medo de ele não ter morrido realmente. Socava com tanta força que seu crânio abriu, e minha mão encheu de sangue. Não foi legal. Eu sentia pavor o tempo todo... E arrependimento.

Na maior parte das vezes meus sonhos envolvem medos modernos: assaltos, assassinatos e brigas de trânsito que terminam mal. E eu sempre chego num ponto crítico onde não há mais escapatória. Ou as pessoas descobrem minha mentira, ou alguém me pega fazendo algo muito errado, ou a prova do meu crime desaparece. Me ferro muito, e das piores formas possíveis. Sendo que minha única saída, quase sempre, é acordar. Tenho medo de que, qualquer dia desses, eu fique preso no limbo.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A Falta que Faz um 3G


127 Horas conta a história de Aron Ralston, um alpinista que decide explorar as montanhas de Utah sozinho e acaba preso numa fenda, com uma pedra esmagando seu braço direito. Sem comida, água ou qualquer tipo de comunicação, ele não tem muitas opções. Então achei que, ou o filme seria muito curto, ou seria muito chato. Não foi nenhum dos dois.

Preso ali, naquela pedra, Aron faz o que dizem acontecer com todo ser humano à beira da morte: recapitula toda a sua vida. E a estrutura não é de um filme contado em flashbacks, como pode parecer. Não, Danny Boyle não é nada convencional. Ele faz uma montagem moderna, envolvendo passado, presente, futuro e ainda um plano da alucinação (sim, Nelson Rodrigues feelings). O resultado é um filme tenso e cheio de ação. Tudo bem que às vezes o ápice da ação é a tentativa de pegar o canivete que caiu no chão, usando um graveto.

A trilha sonora está muito bem colocada. É ela quem diz quando você deve se emocionar, se empolgar ou sofrer. Olha, e se tem uma coisa que eu fiz vendo esse filme, foi sofrer. Talvez porque sou muito sensível à dor dos outros, mas juro que ficava repetindo baixinho "não, por favor, não..." enquanto o filme passava. E James Franco soube transmitir essa dor como ninguém. Ele é mesmo forte candidato ao Oscar (acho que, se a Academia não estivesse devendo pro Colin Firth, o prêmio era dele).

Além de melhor ator, 127 Horas está indicado a melhor filme, roteiro adaptado, trilha sonora, canção original (If I Rise) e edição. Seria uma boa opção, premiar a edição de Jon Harris, já que o filme tem poucas chances nas outras categorias, mas ainda acho os cortes de câmera ousados demais pros senhores da Academia.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Você Está Convidado


Esse é o pôster do Oscar 2011, que vem assim, todo amigável, convidando você a participar do espetáculo. O site oficial também está com essa proposta, pedindo pra você se cadastrar e participar de previsões, bolões, assistir vídeos históricos, dos bastidores, etc... Tá bem bonito o negócio.


Ontem a Academia divulgou os indicados nas principais categorias. Parece que a maior surpresa foi ver Inverno da Alma figurando entre os 10 finalistas por melhor filme. E os irmãos Coen roubando o lugar de Christopher Nolan entre os indicados a melhor diretor. O que é uma das maiores injustiças que o Oscar já fez. Tudo bem que A Origem pode não ser o favorito do ano, como muita gente supôs, mas é inegável a genialidade de Nolan, que fez Amnésia, O Grande Truque (um dos meus filmes preferidos), O Cavaleiro das Trevas, entre outros, e nunca foi indicado. Acho difícil ele fazer algo melhor do que ele tem feito. Porque, assim... Chega muito perto da perfeição.

Parece então que a briga vai ser entre A Rede Social (filme do momento, de um diretor que já bateu na trave em 2009) e O Discurso do Rei, que é o tipo de cinema que os acadêmicos adoram: de época, classudo e com grande elenco. Ainda não vi O Discurso do Rei, mas não acho que a Academia vá voltar atrás. Ela tem se modernizado nos últimos anos... Premiou Guerra ao Terror ano passado, Quem Quer Ser um Milionário em 2009 e Onde os Fracos Não Têm Vez em 2008. Nada muito clássico, né? Vamos torcer pra que continue assim.

Nas outras categorias, o que mais me interessa é o embate entre a veterana Annette Bening (que vive uma lésbica no sucesso indie do ano) e Natalie Portman (que tem sido elogiada pelo seu difícil papel em Cisne Negro). Melhor ator é prêmio certo pra Colin Firth, que já tinha sido indicado ano passado e não ganhou. E o Oscar de melhor animação poderia passar a se chamar Oscar Pixar Animation Studios, né gente? Vamos sugerir isso aí.


Os apresentadores da noite vão ser James Franco (que tá indicado a melhor ator por 127 Horas, pode isso Arnaldo?) e Anne Hathaway. Tudo pra garantir uma audiência bem jovem e descolada no dia 27 de fevereiro. Até lá, vou tentando ver o maior número de filmes que eu conseguir e comentando os mais interessantes aqui. Estamos juntos nessa?

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Um Ano


“Conhecia as regras do escrever, sem suspeitar as do amar, tinha orgias do latim e era virgem de mulheres.”
Machado de Assis

Sempre fui um menino romântico. E não falo de escrever cartas ou mandar flores. Falo de idealizar uma história de amor. Que é, afinal, o que todo mundo quer. Viver uma grande história de amor. Ainda mais alguém como eu, que cresci arruinado pelo cinema americano e pela televisão brasileira. Então eu sempre achei que um dia minha grande história de amor iria acontecer. Enquanto isso, escrevi. Escrevi contos, romances... Falava de coisas que eu não conhecia. E não dava muito espaço às mulheres. Meninas, né? Não dava muito espaço... Porque sempre fui muito exigente e me levava a sério demais. E nenhuma ali se encaixava no papel que eu estava procurando. E quando você apareceu, achei que não íamos longe, e tentei ir com calma, pra gente não se machucar. Mas você era diferente e em pouco tempo eu já tinha percebido que era impossível lutar contra isso. Eu estava amando. Talvez, pela primeira vez.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Quimioterapia pra quê?

Dois personagens descobrem que têm câncer em estado avançado. Um deles é professor de química, marido de um mulher insuportável e pai de um filho deficiente. Cansado de ser humilhado pela família e amigos, e vendo seus dias chegarem ao fim, ele decide usar todo o seu conhecimento pra produzir e vender metanfetamina (uma droga altamente viciante), a fim de pagar seu tratamento. O outro personagem é uma mulher com o casamento em crise e mãe de um adolescente indisciplinado. Quando ela descobre que não tem muito tempo, resolve mudar seus hábitos e aproveitar a vida em vez de sofrer numa cama de hospital. Esses são os protagonistas de Breaking Bad e The Big C, duas das melhores séries em exibição atualmente.


Comecei a ver Breaking Bad por indicação de um amigo. Já estou na segunda temporada e terminantemente viciado. Walter, o protagonista, é um traficante. Mas com motivos nobres. Então a gente torce demais por ele. E ele cria uma teia de mentiras cada vez maior pra explicar a origem do dinheiro que paga seu tratamento, estando sempre à beira de ser descoberto (o que gera clímax quase insuportáveis).  É a série mais tensa que já assisti. Impossível não roer as unhas ou não levantar do sofá quando você acha que simplesmente, ele não tem mais saída.


The Big C tenta tratar do assunto com mais leveza, com toda uma atmosfera life is good. Laura Linney, que venceu o Globo de Ouro, faz uma personagem extremamente carismática, além de produzir a série. Gabourey Sidibe (a Precious) vive uma jovem que quer emagrecer, mas não tem disciplina pra isso. E as duas juntas são incríveis. Só assisti dois episódios da série, mas já posso afirmar que se trata de uma das coisas mais gostosas já feitas na televisão.

Breaking Bad está sendo exibida pelo AXN, toda terça-feira, às 21h, e The Big C passa na HBO, todo domingo, às 21h30. Se você não tem TV à cabo, dá pra baixar pela internet (é só jogar no Google). O que não dá é pra perder.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Eu Vejo Gente Morta


Ano passado o Brasil lançou dois grandes sucessos que envolviam espiritismo: a cinebiografia Chico Xavier e a superprodução Nosso Lar (que ainda não vi). Esse ano foi a vez de Clint Eastwood (o veterano diretor de Os Imperdoáveis e Menina de Ouro) embarcar nas tramas que envolvem vida e morte. Naturalmente, tenho repulsa por filmes com temática sobrenatural, mas resolvi dar uma chance ao velho, somente pelo seu currículo. E achei Além da Vida um filme bonito. Muito bonito. Do tipo que você pode comprar depois pra presentear aquela tia velha com a certeza de sucesso na sala de estar.

Tudo começa com um tsunami na Tailândia, em uma das sequências mais espetaculares que já vi, onde uma turista francesa (Cécile De France) acaba passando pela tal da experiência de quase-morte (que só vou acreditar que existe, se acontecer comigo). Ao mesmo tempo outras duas histórias nos são apresentadas. A primeira é sobre um médium (Matt Damon) que decide parar de usar seu dom, já que estava atrapalhando sua vida pessoal. E a outra, sobre um garoto (Frankie McLaren/George McLaren) que perde o irmão gêmeo e passa a buscar, incansavelmente, uma maneira de lhe fazer contato. É claro que, no fim, todas essas narrativas se entrelaçam belamente, no melhor estilo Iñárritu.


Clint tem muita experiência, então penso que deve ser fácil fazer um filme redondinho, com boa fotografia, roteiro e atuações. E achei Além da Vida assim... Um filme bom, mas sem ousadia. Eu fico comparando com Gran Torino (o meu preferido dele) e A Troca e acho que poderia ter saído alguma coisa bem menos adocicada e mais soco no estômago. Mas isso é um problema meu, que gosto de ser surpreendido, e talvez o diretor tenha optado pelo caminho da sutileza, o que é uma escolha. Vamos respeitar.

E calma, Além da Vida não é um filme espírita. Nem chega a tocar no assunto religião. É um filme sobre vida e morte. Sobre os perigos de ultrapassar essa linha tênue que divide os que ainda estão aqui dos que já foram embora. É sobre a capacidade de aceitar a perda e seguir viagem. Sem olhar pra trás.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

If you can't say something nice...


Uma das melhores coisas de se ter um blog é a caixa de comentários. Esse é o grande trunfo das novas comunicações: a possibilidade de interação e blá blá blá. Enfim. É que no começo do Frenesi, eu fazia muita questão de comentário. E ficava dando F5 como se não houvesse amanhã. E quando alguém comentava, eu precisava retribuir o comentário pra não perder o leitor; e me forçava a escrever qualquer bobagem, só pra marcar presença, etc... Toda uma coisa ridícula.

Quando eu decidi não comentar mais em posts onde não tenho o que dizer, minha vida como blogueiro mudou completamente. Porque também parei de ansiar por comentários. Claro que eu ainda gosto de ver novos números, mas juro que não faço questão do seu "ótimo post, beijos". Vai parecer arrogante, e talvez seja. Só não vejo mais sentido em ter que inventar texto pra mostrar que sou educado e atencioso com meus leitores. Eu não gostaria que fizessem isso com o meu blog, então não faço com o dos outros. Tá aí a educação.

Por exemplo, o meu blog preferido. Acho que leio o Já Matei por Menos a mais de um ano e, até hoje, só escrevi dois comentários. Simplesmente porque nunca tinha muito a acrescentar. Em compensação, indicava os textos a amigos e parentes, compartilhava pelo Google Reader e jamais deixei uma atualização passar batida. Isso sim vale a pena.

Não me entendam mal. Adoro comentários que discutem o tema, mostram outro ponto de vista, criticam, ou contam uma experiência pessoal. São vários os comentários que superam ( e muito) o próprio post. Só acho visita forçada uma sacanagem. Tanto pra quem faz, quanto pra quem recebe.

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Este post foi publicado em abril de 2010, no meu antigo blog, o Frenesi. E só estou republicando agora pra dizer que É TUDO MENTIRA e que se não fosse a política de boa vizinhança, ia ter muito blog aí com 0 comentários todos os dias. Talvez o meu.

Obrigado por serem fofos.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sobre Determinação e Pestanas

No fim de novembro do ano passado, decidi que iria aprender violão. E até brinquei, dizendo que não é o tipo de coisa que se decide aos 19 anos (hora em que as pessoas já se dão por satisfeitas com o número de habilidades que acumulam e passam a aperfeiçoá-las em vez de procurar novas). Mas eu sempre gostei muito de cantar e, por não saber instrumento nenhum, tinha duas opções: esperar a boa vontade de alguém que tocasse ou cantar no karaokê. E sempre foi OK, porque minha irmã adora tocar violão, e nosso gosto musical é parecido, e a gente sempre gravou vários covers no YouTube de modo que não sei como nenhum produtor musical descobriu a gente ainda. Mas agora com o nascimento do Caetano, eu meio que percebi a necessidade de ser autossuficiente nesse negócio de música. Eu precisava aprender.

Meu pai tem umas revistas de violão muito boas (pena que elas são tão antigas que os sucessos da época eram Chiquinha Gonzaga e Viriato Figueira) e peguei essas revistas pra aprender as primeiras notas e suas escalas básicas. Mas teoria musical é uma coisa muito pedante, então tratei de encontrar algumas cifras bem fáceis de tocar e parti pra prática. O começo é terrível. Eu demorava cerca de 10 segundos pra mudar de nota, e se eu começasse a cantar junto, errava a batida (porque não sou multitasking). A batida, inclusive, merece atenção especial, porque cada música tem a sua e eu nunca consigo encontrar a batida perfeita (Marcelo D2, me ajuda!). Resultado: Marisa Monte em ritmo de pagode.

Apesar dos dedos calejados, em algumas semanas eu já estava fazendo um som aceitável. E a sensação de fazer música (mesmo que de má qualidade) é muito gostosa. Aos poucos você vai se familiarizando com as cifras, notas e ritmos e percebe que quase tudo é possível. Até que chegam as pestanas. E pestana não é possível. Por isso, já me conformei em ter um repertório limitado. Meus dedos conhecem seus limites.

Essa música do Skank foi uma das primeiras que aprendi a tocar. Gravei a minha segunda voz separada e sincronizei depois, pra ver se reparam mais nela que no violão.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Matei Minha Mãe e Vim Contar


Fernanda Young é uma figura tão controversa pra mim que, no mesmo dia, sou capaz de considerá-la genial e uma fraude. Adoro Os Normais e acho Os Aspones a coisa mais engraçada que a Globo já fez, mas não sei o que pensar sobre seu ensaio na Playboy, por exemplo. No GNT ela já participou do Saia Justa, que eu gosto bastante, mas causou vergonha alheia generalizada com as entrevistas do Irritando Fernanda Young. Minha irmã tem todos os seus livros na estante e resolvi ler o último, pra tentar chegar a um veredicto.

Tudo que Você Não Soube é um relato maldoso escrito por uma filha a seu pai, quando este está prestes a morrer. Segundo a narradora, o objetivo é oferecer ao velho uma última chance de conhecê-la, mas logo a gente percebe que não é nada disso. O objetivo é vingança. Dentre as abominações cometidas pela jovem, a maior e mais perturbadora, foi ter martelado a cabeça da mãe. E é claro que ela se justifica, descrevendo com detalhes a série de abusos e descasos sofridos na infância.

O texto tem um andamento terrível e me pareceu pouco trabalhado, mas Fernanda Young usou de sapequice, explicando tudo através da sua personagem: "Isso aqui não é um diário, entendeu? Não foi escrito aos pouquinhos, com o passar do tempo. É minha história, contada de uma só vez, e sem grandes considerações, já que eu soube que você está nas últimas. Perdoe, portanto, este estilo conturbado". Pra mim isso tem outro nome: preguiça de revisar.

Em matéria de literatura, Tudo que Você Não Soube me pareceu um primo pobre de Dostoiévski (embora eu nunca tenha lido Dostoiévski). Mas é sempre divertido ver alguém exorcizar seus traumas de infância num romance. E gostei tanto do final (especificamente da última frase) que fechei o livro com a impressão de ter lido uma coisa boa. O que pode não ser verdade.

"Qual era, afinal, o grande problema comigo? Pai, é simples: eu vivia o inferno completo e um martelo foi o que me sobrou para tentar fugir. Porque, além de ser uma vítima da sua ausência, eu era a maior culpada dela. Já que eu tossia demais e nenhum homem aguenta ficar trancado dentro de casa com uma criança tossindo sem parar, o tempo inteiro. Você, então, estava fugindo de mim, e estava certo em fazer isso. Era isso o que me diziam, pelo menos. Entre um programa do SBT e outro. Olha, pai, tossir me dava tanta culpa, mas tanta culpa, que eu me trancava no banheiro, ligava o chuveiro para fazer barulho e sufocava minhas crises nas toalhas. Que ficavam manchadas de sangue, e aí me acusavam de porca. Eu, vomitando pelas narinas, não passava de uma porca."

PS: Tudo que Você Não Soube não é o último livro da Fernanda Young. Em dezembro do ano passado ela lançou O Pau, que minha irmã ainda não tem.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Boulevard of Broken Dream


Daqui a pouco tô indo pro Rio, na esperança de encontrar uma Amy Winehouse tão sóbria quanto a que cantou em Florianópolis, no sábado. Depois de ter vencido cada um dos obstáculos, parece que vai dar tudo certo e não vou ficar perambulando pelos becos da Barra às 3 da manhã.

Passei a madrugada de sábado pra domingo acompanhando o pessoal que estava no show em Floripa. Todo mundo fazendo elogios desmedidos e deixando minhas expectativas num nível insuportável. Foi uma decepção ela não ter cantado It's My Party, mas, em compensação, teve uma versão de Boulevard of Broken Dreams, do Tony Benett, que ficou um arraso na sua voz rasgada.

Até breve.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Pré-Vida

Passei a manhã de hoje ligando pra todos os cursinhos pré-vestibulares de Brasília e coletando informações sobre carga horária, início e término do semestre e preço das mensalidades. Cursinho pré-vestibular é uma das épocas mais tristes na vida de qualquer pessoa. São seis meses estudando o que você não gosta e sofrendo pressão de todos os lados. É inevitável criar expectativas. É inevitável que as pessoas criem expectativas. E o curso que eu quero não é dos mais fáceis. A UnB não é das menos concorridas. Tenho medo.

Sobre manter uma rotina intensa de estudos... Sou muito organizado e curioso. Talvez me falte um pouco de disciplina, mas nada que passar o dia no cursinho, sem outras opções de entretenimento se não os livros e apostilas, não resolva. Inclusive, o lugar onde eu pretendo estudar oferece aulas de segunda a sábado, monitoria e plantão de dúvidas na parte da tarde e academia e aula de dança à noite. Exatamente, só faltou a cama e a escova de dente.

Eu não queria fazer pré-vestibular, porque sei como é desgastante e me conheço a ponto de saber que dificilmente suportaria outro fracasso. Então já tinha até feito vestibular numa faculdade particular (que nem é das piores) e estava prestes a assinar meu atestado de óbito acadêmico assumir um compromisso de quase mil reais por mês, quando tive um surto de lucidez. Pra que ser tão apressado e se sujeitar a pagar tanto por uma coisa que você pode conquistar com um pouco de esforço?

Entre esses esforços está diminuir o tempo que passo por aqui (e pelo Twitter, pelo Facebook, pelo Filmow, pelo Flickr, pelo Google Reader, pelo YouTube, pelo Orangotag, pelo PokerStars...). Espero que vocês entendam. Mais que isso: espero que eu consiga.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Ensaio Sobre a Estupidez


Uma amiga muito querida me emprestou esse livro do Martin Page, chamado Como Me Tornei Estúpido. Achei uma indireta um tanto ousada, já que ninguém sai por aí dando livros cujo título é Como Me Tornei Obesa pra gordinhas, mas tudo bem, super levei na esportiva. O livro fala de um jovem francês que sofre de uma inadequação causada pela sua própria inteligência. Pra ser bem aceito pela sociedade em que vive, e desfrutar de uma vida mais leve e digna, Antoine decide se tornar estúpido. Burro. Vazio. O que, sem dúvida alguma, é mais fácil que o oposto.

Tenho pensado muito nisso ultimamente, em como pensar dói. Nem falo de inteligência, mas de pessoas com uma sensibilidade maior em relação ao mundo. Pessoas mais profundas. Ser assim é doloroso. Porque enquanto a maior parte da humanidade está lutando pra vencer pequenos obstáculos cotidianos, sem conflitos ou crises de existência, nós estamos sofrendo, pensando a longo prazo, nos corroendo de ansiedade, buscando um sentido maior pra tudo. E esse sentido, se existe, ainda é muito abstrato.

O trecho abaixo é parte do manifesto que Antoine escreveu pra explicar aos amigos a necessidade de uma transformação.

"Eu tenho a maldição da razão; sou pobre, solteiro, depressivo. Há meses reflito sobre a doença de refletir demasiadamente e estabeleci com toda a certeza a correlação entre a minha infelicidade e a incontinência da minha razão. Pensar, tentar compreender nunca me trouxe nenhum benefício, mas, ao contrário, sempre atuou contra mim. Refletir não é uma operação natural e fere, como se revelasse cacos de garrafa e arames farpados misturados com o ar. Eu não consigo deter o meu cérebro, diminuir o seu ritmo. Sinto-me como uma locomotiva, uma velha locomotiva que se precipita nos trilhos e que não poderá jamais parar, porque o combustível que lhe dá a sua potência vertiginosa, o seu carvão, é o mundo. Tudo o que vejo, sinto, escuto se engolfa no forno do meu espírito e o impele e faz funcionar a pleno vapor. Tentar compreender é um suicídio social, e isso significa já não desfrutar a vida sem sentir-se, a contragosto, e ao mesmo tempo, uma ave de rapina e um abutre que despedaça os seus objetos de estudo. [...] Não é possível viver demasiadamente consciente, demasiadamente pensante. Aliás, observemos a natureza: tudo o que vive muito e contente não é inteligente. [...] Na natureza, a consciência é a exceção; pode-se até postular que ela é um acidente, uma vez que ela não assegura nenhuma superioridade, nenhuma longevidade particular. No quadro da evolução das espécies, ela não é sinal de uma melhor adaptação. São os insetos que, em idade, em número e em território ocupado, são os verdadeiros mestres do planeta. A organização social das formigas, por exemplo, é muito mais bem-sucedida do que jamais será a nossa e nenhuma formiga tem cátedra na Sorbonne."

Cada vez estou mais convencido de que só existem dois caminhos que levam à felicidade: o primeiro é a ignorância e o segundo, a fluoxetina.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Laços Maternos


Gothel é uma velha, obcecada com a aparência, que descobre uma flor mágica, capaz de lhe manter a juventude. O que ela precisa fazer? Ir até a flor de tempos em tempos e cantar uma canção. Mas a planta também guarda o poder da cura, e por isso é capturada e oferecida como chá a uma rainha com a gravidez comprometida. A princesa nasce, adorável e com cabelos mágicos. Desesperada por uma maneira de continuar jovem, Gothel sequestra Rapunzel e a aprisiona no alto de uma torre, onde cria a mocinha como uma mãe sábia e superprodutora. Isso até o esconderijo ser descoberto pelo sedutor fora-da-lei Flynn Ryder e começar a baboseira romântica de sempre.

Essa é a trama de Enrolados, nova animação da Disney que estreia nesta sexta-feira em todo o Brasil (e que esteve em pré-estreia aqui em Brasília na semana passada). O estúdio segue no firme propósito de resgatar sua era de ouro, quando encantava crianças do mundo todo com príncipes, princesas e muita música. Ainda no ano passado lançaram A Princesa e o Sapo, animação deliciosa feita no antigo padrão bidimensional, e foi um sucesso. Já na adaptação da história de Rapunzel, preferiram aderir ao lucro instantâneo que gera um "3D" estampado no pôster. E sim, o visual é incrível, mas não, não acho que isso seja fator determinante na qualidade de um filme.


Enrolados é um conto-de-fadas gracioso e tem todos os elementos que fizeram dos clássicos da Disney, clássicos. Ainda não sei se as crianças de hoje vão curtir esses filmes assim como nós curtimos O Rei Leão, A Bela e a Fera, etc. Acho que não. Talvez a Pixar preencha essa lacuna. Mas não tem como ignorar a qualidade de Enrolados. Apesar dos clichês e da dublagem de Luciano Hulk, o filme consegue explorar muito bem o drama de uma filha que resolve desobedecer à mãe paralelamente à fuga do ladrão mais procurado do reino.

Em uma das cenas mais bem boladas do filme, Rapunzel, finalmente livre, reveza momentos de extrema felicidade com terríveis surtos de culpa. Por mais incrível que seja estar fora da torre que a trancafiou desde pequena, ela sabe que está indo contra tudo o que aprendeu até ali. Porque, como diz uma das músicas cantadas pela detestável Gothel, "sua mãe sabe mais". E quem ousaria desobedecer?

sábado, 1 de janeiro de 2011

Resoluções de Ano Novo


Fico me perguntando quando foi que perdi a empolgação. Isso ficou muito evidente na virada de ano. Não que eu esteja desanimado com 2011. Pelo contrário, acho que vai ser um dos anos mais bacanas da minha vida, mas perdi aquela sensação de caderno em branco. Parece que meus próximos três ou quatro cadernos já estão automaticamente manchados com tinta permanente e vermelha. É chato porque inocência é uma das coisas mais bonitas que existem. E uma das coisas que eu mais sinto falta. Acho que sou um tanto inocente no que diz respeito às pessoas (confio em quase todo mundo), mas incrivelmente malicioso quando o assunto sou eu mesmo. Deve ser porque me conheço bem, e tenho o adorável costume de me auto-sabotar desesperadamente.

Em 2011 eu só quero uma coisa: sossego (exatamente, tô numa vibe Tim Maia). Sossego pra poder levar a minha vida, no meu tempo e do jeito que eu achar melhor. Claro, espero que alguém me impeça quando eu estiver prestes a fazer alguma grande e irreversível burrada, mas se o caso não for tão grave, deixa que eu aprendo sozinho. Conselhos... Aceito com moderação.

Ah, só mais uma coisa:


PS: As imagens são dos tumblrs Mickey and Minnie e Lixeira Atômica.