segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Um Ano Muito

Fui ler as resoluções do ano passado e morri de pena de mim. Porque continuo dormindo pouco, comendo mal, vivendo em estado vegetativo e perdendo séculos em redes sociais sem qualquer compromisso com a realidade. O bom disso tudo é que não preciso ficar inventando novas metas pra 2013.

2012 foi tão eufórico e desesperado que não consigo classificá-lo como um ano bom ou ruim. Vou classificá-lo como um ano muito.

Então eu só queria que 2013 fosse um ano menos, porque até minha asma voltou.

Ninguém tem fôlego pra isso. Pra entrar na faculdade, terminar namoro e morar em quatro casas em regiões opostas de um Distrito Federal cada vez menor. Sinto meu corpo desproporcional e gigante, como o da tia Guilda do Harry Potter. Meus pés ficam pra fora da cama e isso é pura metáfora.

Depois de quase dois anos, voltei a morar com os meus pais. E pode parecer uma regressão no processo natural de amadurecimento (vai ver até é), mas eu considero uma volta necessária. É preciso estabelecer uma comunicação, atualizar a família e ganhar meu espaço. Também é preciso economizar.

Ontem fiz uma maratona de How To Make it in America (uma das séries mais legais que a HBO já produziu) e assisti Setembro, um desses filmes sérios do Woody Allen. Hoje acordei mais cedo pra nadar um pouco e tomar sol, enquanto observava duas crianças apostando corrida na piscina infantil (uma delas roubando descaradamente). A ideia era começar o ano com as séries e filmes em dia e uma inclinação inevitável para o exercício físico, quiçá a maromba, mas tudo que consegui foi começar o ano com o ombro queimado.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Os Melhores Filmes de 2012

Eu achei que o ano passado tinha sido ruim em matéria de cinema, mas não. 2012 veio e mostrou que as coisas sempre podem ficar um pouco piores. Ainda assim, consegui garimpar 10 títulos que fizeram o ingresso valer a pena. Aí estão os filmes que mais me emocionaram, encantaram e fizeram sofrer ao longo desses 12 meses. Todos foram lançados no Brasil de janeiro a dezembro de 2012 e o único critério utilizado para a escolha foi, mais uma vez, minha visão pessoal, parcial e pouco confiável.

10. Heleno



Com uma belíssima fotografia em preto e branco, Heleno conta a história do famigerado e problemático jogador de futebol que por anos brilhou no Botafogo. E se sua paixão e doença aparece aqui tão evidente e assustadora, a culpa é toda de Rodrigo Santoro, que entrega uma atuação marcante.



Viva os filmes de máfia! E todo o seu sangue, e suas frases de efeito, e seus elencos espetaculares. Este conta com um Tom Hardy canastrão e uma Jessica Chastain encantadora; usa a figura lendária do mafioso para discutir a própria lenda e faz tudo isso com um ritmo e tensão exemplares.



Um diretor novo fazendo um filme despretensioso e original. Poder Sem Limites fala de três adolescentes que, após uma noite incomum, começam a mover objetos e outros seres com a mente. O poder é sedutor e incontrolável, assim como a própria juventude.



No último filme de Jason Reitman (diretor de Juno e Amor Sem Escalas), Charlize Theron vive uma escritora de livros juvenis que, motivada por um convite de batizado, volta à sua antiga cidade e é obrigada a enfrentar sua frustração, infelicidade e loucura. É o retrato de uma geração que não soube crescer (como se alguma soubesse).



Ruby Sparks é uma menina linda, inteligente, cool e fictícia. Ou não. A história de Calvin, um escritor em crise criativa e sua personagem que ganha vida, é um triste exercício de metalinguagem. O filme parece uma comédia romântica bobinha, quando na verdade é um espelho indiscreto de todo artista frustrado com o ego gigante.

5. Precisamos Falar Sobre o Kevin


A história do cinema é cheia de filmes sobre crianças diabólicas e suas atrocidades nada infantis. Em Precisamos Falar Sobre Kevin, porém, o foco está na mãe do psicopata. E Tilda Swinton destrói no papel. A relação de Eva e seu filho é doentia e deixa a plateia atordoada, sem saber a quem culpar.

4. Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios


Camila Pitanga encarna a musa inspiradora de um fotógrafo libertário e, ao mesmo tempo, o objeto de adoração de um pastor evangélico. O cenário é ermo, a trama é incômoda e tudo é pura poesia. Não do tipo que encanta, mas do tipo que apavora.

3. Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge


Não é que eu seja fã do Christopher Nolan (e eu sou), mas a verdade é que ninguém pode desmerecer o que esse homem fez com um personagem de história em quadrinhos. A trilogia iniciada em Batman Begins, e encerrada aqui epicamente, é mais que uma franquia de super-heróis. É cinema. E da melhor qualidade.

2. As Vantagens de Ser Invisível


Hollywood respira aliviada, porque a nova geração de atores já mostrou a que veio. As Vantagens de Ser Invisível é um filme de temática adolescente, com Hermione, Kevin e Percy Jackson, todos extremamente seguros e carismáticos. Stephen Chbosky (que também escreveu o romance em que o filme se baseia) não se limita aos clichês adolescentes e entrega um trabalho maduro e comovente.

1. Drive


Drive é dessas obras incategorizáveis. Porque é uma história de amor, mas também é uma história de violência. Tem muito silêncio e, ao mesmo tempo, uma trilha sonora extremamente marcada que funciona como catalisadora de tensões. E Tem Ryan Gosling em seu melhor papel até hoje. É um filme sobre o conto do escorpião, a violência como demonstração de amor, nosso caminho inevitável para a morte e a beleza de tudo isso.

Atualização:

Antes do ano acabar, e depois de ter feito essa lista, fui ao cinema assistir As Aventuras de Pi. O filme entraria, sem dúvidas, na lista de melhores do ano. Muito provavelmente em segundo ou primeiro lugar. Falei dele aqui.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Meninos Não Choram

Faz um mês que estou emocionalmente abalado e não sei por que. Percebi o problema em uma noite de segunda-feira, quando, sozinho no meu quarto, fui ver Compramos um Zoológico e chorei por quatro vezes ao longo do filme. Quem viu sabe que ele não é tão triste nem oferece tantas oportunidades assim pra comoção, mas eu fiz acontecer.

Meu pai, por exemplo. Nunca vi derramar uma lágrima. Ele simplesmente não chora. Desconfio de que suas glândulas lacrimais não funcionem muito bem. Ou talvez ele vá todo dia pro banheiro chorar escondido, nunca se sabe. Minha mãe diz que já viu meu pai chorar duas vezes ao longo dos infinitos anos de casados que eles têm, mas até agora são só boatos.

Eu realmente queria ser menos sensível a essas bobagens. Ou chorar pelos motivos certos. Porque quando é pra demonstrar carinho, falar da minha vida ou sofrer com alguma perda, sou uma pedra. Agora, coloca um Toy Story 3 procê ver se eu não estarei em prantos do início ao fim, com direito a soluços desesperados na sequência final.

Acho que peguei toda a minha sensibilidade e joguei no campo das artes. É uma estratégia segura, porque a ficção tem essa vantagem maravilhosa de não ser real. E, por mais comovente que o filme for, em aproximadamente duas horas ele vai acabar. Eu tenho medo é dessa coisa louca chamada vida que não vem com o tempo de duração na capa.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Controlo o Calendário Sem Utilizar as Mãos


O que me entristece é a falta de perspectiva. Porque quando se tem 9 anos é muito fácil suportar períodos de tédio ou trabalho árduo. Porque as coisas terminam. O recreio chega. As férias chegam. O natal chega. Hoje eu fico olhando pro calendário e tudo o que consigo sentir é uma completa desesperança. Sabe essas pessoas que falam: nossa, não vejo a hora de dezembro acabar? Então. Tenho um pouco de inveja. Porque infelizmente, pra mim, quando acaba dezembro vem sempre janeiro.

Férias nunca é um bom negócio pra professor particular. A gente não tem décimo terceiro, então enquanto nossos alunos passeiam por Miami, a gente conta as moedas pra comprar um Big Mac. Além disso, tem a greve das federais, que acabou com o nosso ano. Ou seja: tô indo ali passar as férias estudando e sem dinheiro, forte abraço.

E dezembro chega como um vírus. As pessoas começam a andar pela rua cheirando a Sundown e cloro. As crianças saem de suas cavernas e dão risadas absurdas enquanto empinam papagaios. Os shoppings exibem suas luzinhas questionáveis. As famílias vão se aproximando, planejando amigo oculto, esquentando o peru... E você ali, com 15 textos pra ler, seminário pra preparar e todo o rancor do mundo.

Mas não era esse o problema. Acabei me perdendo com essa história de férias. O problema é que, independente da data, as coisas estão uma zona.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Mixtape - Polivox

Tenho feito cada vez menos. Como tudo na vida.

Tenho escrito menos, estudado menos, lido menos, dormido menos, comido menos e me importado menos. Tenho tido, assim como Fernando Sabino em Cartas Perto do Coração, uma overdose de particípios.

Então parei de me preocupar tanto com as mixtapes, criar contra-capas com a lista de músicas e disponibilizá-las para download. Primeiro porque vocês não valorizam o esforço e segundo porque chega uma hora na vida em que tudo parece um pouco demais. E a gente começa a cortar gastos (inclusive os de energia).

Coincidentemente, as 14 músicas desta mixtape são gravadas com menos instrumentos que o normal. Na verdade, a maioria das faixas consiste em arranjos de vozes e uma pá de sons produzidos pela boca. Tem Adriana Calcanhotto, BR6, Trio Esperança e umas versões ótimas de Beatles, Gotye, Fun e Rihanna.


Tem mais mixtapes aqui.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

W3


Eu não devia te dizer, mas essa chuva, essa janela, botam a gente comovido como o diabo.

Não tem parado de chover. E isso é bacana, porque alaga a W3 e oferece novas experiências de vida aos brasilienses (que, devido a evolução da espécie, já estavam criando duas corcovas maravilhosas nas costas), mas também é ruim, porque com a chuva vem essa camada espessa da mais pura melancolia disponível no mercado.

E tenho passado as noites mergulhado em mixtapes com as seguintes tags: sad, rain, heartbreak e loneliness...  E ouvindo Bookends até que o último traço de felicidade tenha sido exorcizado da minha alma. Porque tem isso, né? Além da chuva, que já pede pelas lágrimas, tem eu, que nasci com essa vocação absurda pro sofrimento.

Ando olhando pra baixo, pra não molhar os óculos, afundo o pé em poças oceânicas, chego molhado na casa dos alunos; e tudo vai ficando apático depois das dez. E eu perco a vontade de ler, de escrever, de estudar... Só consigo permanecer entre uma série e outra, maldizendo novembro e pensando no tanto de coisa que ainda tenho pra amanhã.

Os tênis estão todos molhados. E não tem sol pra secar.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Complexo de Walter White

Estava sentado no ônibus às quatro da tarde, num estado de quase sono, quando recebo um tapa na cara. Desses com a mão aberta. Abri os olhos pensando que esse era um jeito no mínimo curioso de abordar um conhecido, mas a figura que vi de pé na minha frente não lembrava nem vagamente qualquer amigo. E apontava um revólver pra minha barriga.

Pediu o celular, estava visivelmente nervoso. E eu, com uma calma estranha, entreguei meu aparelho robusto de 50 reais. "O outro!", "Que outro? Só tenho esse...". Mas eu sabia que ele falava do iPod touch que eu trazia carinhosamente no bolso da calça e que, de longe, parece mesmo um iPhone. Por alguns segundos fiquei perdido nesse raciocínio e o cara se enfureceu. "Você quer morrer?". Agora o cano da arma encostava a minha testa. E eu olhando aquilo tudo só conseguia pensar que, por favor, eu assisto Breaking Bad! Lido com coisa muito pior que uma arma na cabeça.

Estendi o aparelho como quem entrega um filho e adverti: "Mas é um iPod". Acho que ele não ouviu. Saiu correndo, limpou o caixa, mandou o motorista parar, sumiu na BR. Quando tudo acabou, vi que a mulher do meu lado chorava copiosamente.

Eis uma que nunca assistiu Breaking Bad.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Beto e Inês

Fui num sebo gastar o dinheiro que não tinha e acabei comprando o roteiro de Cenas de um Casamento (meu filme favorito do Bergman), publicado pela Nórdica em 1973, por uns 15 reais. E uma das coisas mais gostosas de comprar livros em sebos é a certeza de que aquilo já passou pelas mãos de outras pessoas. Ao contrário das roupas de segunda mão, que se enchem de cheiros e bactérias alheias, os livros vão se enchendo de gotas de café, marcações inconvenientes, umas lágrimas, uns rabiscos e uns rancores. As dedicatórias então... Confesso que procuro por elas. Se forem muito boas, já vale a compra, independente da obra.

A minha edição de Cenas de um Casamento Sueco veio dedicado à Inês. Antes de começar a fuxicar a vida alheia, é preciso lembrar que esse filme conta a história de um casamento em decadência. Tem umas verdades absurdas, destrói toda a construção familiar e faz a gente pensar que o melhor mesmo é ficar sozinho. Os protagonistas, Marianne e Johan, se amam, mas as coisas vão caminhando de forma inexplicável rumo a um abismo de insultos e tapas na cara.

E em 1976, Goiânia, surge esse homem, Beto, que, tomado de desespero e amor, resolve comprar o livro e dar pra esposa. Como uma última tentativa de salvar o casamento. Talvez a leitura provoque em Inês um insight tão violento de identificação que as coisas realmente se resolvam.


"É necessário enfrentar os problemas a tempo", diz ele. Mas agora, em 2012, vendo o livro jogado numa prateleira de sebo, só consigo pensar em duas explicações pro destino dos dois. Ou os problemas foram realmente resolvidos e de tal forma que o livro perdeu por completo sua utilidade, ou Beto fez sua tentativa tarde demais.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Autoestima Baixíssima, Ego Gigante


Ruby Sparks, o filme novo dos diretores de Pequena Miss Sunshine, poderia ser só mais uma dessas obras com pretensão metalinguística, roupagem indie e final previsível, o que de fato é; mas também é um filme adorável, com um Paul Dano afetado, uma trilha sonora deliciosa e um roteiro, no mínimo, interessante. Na história, Calvin é um jovem escritor de sucesso que, em bloqueio criativo, começa a fazer um trabalho de redação a pedido do seu terapeuta, onde precisa criar uma garota que goste do seu cachorro de estimação apesar da sua fobia social e seu hábito de mijar como uma fêmea. Mas as coisas fogem um pouco do controle e Ruby Sparks, essa menina idealizada, interessante e carismática, de uma hora pra outra cria vida e passa a morar com Calvin.

O absurdo da situação é explorado ao máximo quando Calvin descobre que pode fazer de Ruby o que quiser. Basta escrever que ela está feliz, por exemplo, pra que ela passe os dias seguintes rindo pras paredes. Se ele quer que ela sinta sua falta, é só datilografar e Ruby vira uma namorada grudenta e possessiva. Exatamente como qualquer escritor. E então o filme entra numa intrigante discussão sobre os limites éticos de se relacionar com alguém que você pode manipular e o que isso significa pro seu ego.


Em uma cena específica, a ex-namorada de Calvin diz que ele não consegue se relacionar com ninguém além de si próprio. E lá está Calvin pra provar o contrário: namorando uma criação da sua mente. Uma mulher que é exatamente como ele quer e faz exatamente o que ele escreve. Toda essa masturbação criativa é tão triste que só me fez lembrar da Hannah, protagonista de Girls. Ela também é escritora e, como bem descreveu uma amiga minha, sofre de autoestima baixíssima e ego gigante. Uma combinação tão corrosiva que, por si só, transformou toda uma geração cheia de potencial nesse monte de gente que fica sofrendo no Twitter às duas da madrugada.

Porque somos geniais, não há dúvidas. O problema é que também precisamos de alguém gritando isso o tempo todo.

Só pra confirmar.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Sobre Meninos e Cães


Eu tinha 8 anos quando você nasceu. Redondo, peludo e com uma manchinha branca na cabeça. Eu só conseguia pensar que nunca existiria um cachorrinho tão adorável, engraçado e sem jeito. Éramos duas crianças e tivemos uma infância maravilhosa juntos. Mas você cresceu, ganhou personalidade e definiu quais eram suas prioridades na vida: comida, nossa companhia e bolinhas de tênis (mas a ordem pode estar errada). Ninguém correu tanto, Buddie. Você era incansável! Jogar a bolinha pra você pegar era não só uma das coisas mais divertidas do mundo como também uma das mais surpreendentes. Acho que seus genes de caçador britânico se manifestavam de tal forma que nenhuma barreira era suficientemente grande. Nunca vou esquecer quando a bolinha caiu no lago do parque e você, sem pensar duas vezes, pulou, nadou e voltou com ela na boca, like a boss.

Sabe? Ter um cachorro muda a vida da gente. Você foi a primeira criatura que parecia depender de mim e que me amava sem esperar absolutamente nada em troca. E era recíproco. Poucas coisas vão ser mais gostosas que seu abraço, quando você ficava sobre duas patas, eu agachava e, de um jeito mágico, nos abraçávamos exatamente como dois humanos. Poucas coisas vão ser mais tristes que seus uivos pro caminhão de gás e sua decepção posterior, ao perceber que o som de Pour Elise já havia desaparecido no fim da rua e não tinha mais necessidade de continuar cantando. Poucas coisas vão ser mais brilhantes que seus olhos. Um brilho que acabou cedo demais.

A catarata precoce tornou tudo opaco e sem vida e as coisas ficaram bastante confusas. Postes, degraus e buracos começaram a surgir e mudar de lugar sem o menor aviso. Era difícil. E logo os ossos começaram a reclamar, porque passar a vida correndo atrás de bolinhas de tênis também tem seu preço. Os últimos meses devem ter sido difíceis. Desculpa pela distância, viu? Desculpa. Mas acho que foi melhor assim. Eu não conseguiria te ver partir.

E você foi tão forte, cara! A morte já tinha te visitado outras duas vezes, mas parece que comer veneno e passar 10 minutos na boca de um pit bull não foram suficientes pra te derrubar. (Tem certeza que você é um cachorro e não, sei lá, um touro?) A única coisa capaz de te vencer foi mesmo o que vence todos nós: o tempo. Essa força invisível, violenta e desgraçada que vai destruindo nosso corpo, mudando nosso rosto e levando quem a gente ama.

Hoje eu só queria agradecer por esses treze anos de vida do seu lado. Pela sua fidelidade, carinho e amor sem igual. Por conseguir transformar todos os seus instintos e toda a sua irracionalidade em compreensão. Porque nem toda a ciência do mundo vai conseguir explicar nossas conversas. Obrigado por estar sempre lá.

Dizem que na terça-feira uma criança jogou a bolinha pra você buscar. Espero que você tenha se divertido com ele. Tudo que eu queria agora era ser esse menino e poder te jogar a bolinha mais umas duas ou três vezes antes de sentar com você embaixo de uma árvore pra discutirmos como a vida não faz sentido e é cheia de injustiças. A maior delas, sem dúvidas, é deixar um coração tão bom quanto o seu simplesmente parar de bater.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Estejam Online


A carência fica bem mais evidente na madrugada, porque rola um desespero, né? Quatro da manhã e as chances de encontrar alguém interessante online são mínimas. O coração acelera só de pensar na possibilidade de um vácuo infinito que duraria até o dia seguinte, quando as pessoas aos poucos acordariam e (sem muita paciência) ouviriam minhas mazelas. E quase nunca há o que dizer. É só a necessidade de ser ouvido, de perceber algum tipo de comunicação e sentir que você não é o único no mundo.

Durante muito tempo pensei em morar sozinho como um ideal de futuro perfeito. Sempre me achei muito pouco carente de companhia. As coisas que mais me agradam são, em sua maioria, entretenimentos solitários. E minha maior preocupação era ter um bom livro à disposição no criado mudo. Não sei mesmo quando foi que comecei com essa necessidade de comentar o tal livro com alguém. E de marcar o filme como visto no Filmow, o episódio como assistido no Orangotag... E trocar as experiências. Nem sei se faço isso pela troca mesmo, ou pelo desejo infantil e canalha de ser ouvido.

A internet fez uma coisa péssima: facilitou a interação. Facilitou de tal forma que a gente nem sabe se aquilo pode ser considerado interação. Assim fica impossível levar a sério as amizades. Ninguém está realmente fazendo alguma coisa pelo contato. Basta permanecer, trocar um ou dois emoticons e ir dormir se sentindo popular como nunca. Mas não queria entrar nessa da guerra de egos, da vaidade louca... Não. Só queria pesquisar um pouco o que tem motivado meus surtos de carência online.

Porque pior que ser carente só mesmo ter noção desse estado. E quanto mais tento me controlar, guardar as fotos e calar a boca, mais tweets desnecessários, publicações vergonhosas e posts como este.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Transtornos Afetivos

Quando dei por mim, tava pesquisando sobre transtornos afetivos e me encaixando em todos os perfis. Tô com esse novo vício de estudar quadros patológicos da psicanálise como se fossem signos. E ir descobrindo que não só minha família, mas também meus amigos e toda a humanidade são bem doentes.

Arrumaram pra mim os telefones de uns psicanalistas com boa fama. Dizem até que o plano cobre.

Talvez eu marque uma consulta.

Não sei por onde começar.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Problemas com o Miocárdio


Nada pode ser mais prejudicial à arte que viver. Eu tenho tido particular dificuldade em encontrar ânimo pra ficção e pra toda a concentração e apreciação que ela exige. Porque tudo começou a parecer bastante ridículo agora. A gente vai ganhando certa noção do absurdo que é trabalhar por horas numa história que não tem a menor razão de ser e começa a se questionar se seria realmente válido trazer isso ao mundo. É como ter filhos. Ninguém sente falta deles enquanto não existem. E até quando existem, às vezes, pensamos se não teria sido melhor deixá-los onde estavam.


E eu tô cada vez mais relapso com os contos e com esse futuro provável romance que tenho guardado na cabeça e nuns papéis espalhados pelo criado mudo. Lirismo passou longe. Nunca estive tão entregue ao cinismo dos novos tempos e não sei o que fazer pra recuperar a sensibilidade. A ansiedade tá pulsando e destruindo toda e qualquer inspiração. Ninguém mais tem tempo pra pagar de Shakespeare.


Escrever no blog é um pouco mais fácil. Primeiro porque existe audiência (ridícula, mínima, mas ainda assim uma audiência) e segundo porque isso aqui é meu templo de autoafirmação. É fundamental ter um lugar pra escrever três ou quatro parágrafos por semana dizendo coisas que te identificam como a pessoa que você quer ser. Ou a pessoa que você gostaria que os outros pensassem que você é. É um jeito de economizar com, sei lá, psicólogo? Namorada? Drogas?


Posso dizer que hoje começo a entender os babacas da escola. Aqueles meninos que, minha nossa, preferiam jogar bola ou beijar meninas no recreio em vez de ir pra biblioteca ler Nelson Rodrigues. E como era divertido passar por eles com o livro debaixo do braço e uma sensação absurda de superioridade. Mas eles só estavam num outro nível. Não inferior, nem superior, mas diferente. Um nível onde as emoções são mais orgânicas e o palpitar no coração vem direto do toque, do suor, da saliva... E pra alguém que durante muito tempo só sentiu o coração bater mais forte por causa dos livros e filmes, esse novo estilo de vida tem sido um grande catalisador de infartos.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Belos, Malditos e Incompreendidos


Terminei semana passada Os Belos e Malditos, romance de F. Scott Fitzgerald que narra a trajetória decadente de um casal rico de Manhattan. Anthony e Gloria são lindos e inteligentes, vieram de famílias instruídas, são bem relacionados e tinham tudo para dar certo, mas não dão. E as coisas desandam porque nenhum dos dois soube lidar com a maturidade. Enquanto Gloria se deixava levar por uma vaidade louca e um romantismo doentio, Anthony foi tragado pelo álcool, cigarro e pelas festas intermináveis que o casal promovia em sua casa. Coincidentemente, terminei o livro justamente na época de maior esbórnia da minha vida. E tudo ficou com a maior cara de aviso.

Mas não acho que o livro seja panfletário, muito pelo contrário. Fica claro que Fitzgerald era fascinado por esse estilo de vida irresponsável que mais tarde veio caracterizar a Era do Jazz. Suas descrições são cheias de adjetivos que elevam e seduzem e em momento algum a culpa é posta na bebida ou nos festejos. A culpa é de Anthony e Gloria. Eles que viviam numa inércia retumbante. Passavam semanas sentados: soltando baforadas de cigarro, enchendo taças de vinho e vendo seu dinheiro desaparecer.

O problema é que ao longo de toda a narrativa, as atitudes do casal parecem bem razoáveis. Anthony era um escritor talentosíssimo, só precisava de tempo pra gerar a obra-prima que, de certo, carregava com ele em algum lugar. E Gloria, com sua beleza e carisma únicos, nasceu pra ser atriz de cinema. Qualquer coisa menos que isso seria um crime contra os deuses da arte. Só que o livro acaba e Anthony não publica nada. E Gloria nunca faz um filme. E os dois permanecem fracos demais pra levantar do sofá.

"Então amadureci e abri mão da beleza das ilusões encantadoras. Minha fibra mental tornou-se áspera e meus ouvidos, tremendamente aguçados. A vida brotou como um mar em volta de minha ilha, e, dentro em breve, eu nadava. (...) O tédio, que não passa de um outro nome e um disfarce frequente da vitalidade, tornou-se a alavanca inconsciente de todos os meus atos. A beleza, eu a tinha ultrapassado, vocês compreendem. Eu amadurecera."

Separei outros dois trechos pra quem quiser saber mais:

Sobre Gloria:

"Aposentou-se. Ela que dominara incontáveis festas, que aspergira sua fragrância por tantas salas de baile, diante do tributo amoroso de tantos olhares parecia não ligar mais. Quem agora se apaixonasse por ela era logo dispensado, quase com raiva. Ela saía indiferentemente com os sujeitos mais indiferentes. Vivia rompendo compromissos, não como no passado, a partir de uma segurança tranquila de que ela era impecável, que o sujeito domesticado por ela voltaria como um animal domesticado - mas com indiferença, sem orgulho nem desprezo. Ela raramente se inflamava contra os homens; bocejava nas suas caras. Dava a impressão – tão estranha – à sua mãe, de estar ficando fria."

Sobre Anthony:

"– Trabalho! – zombou ela - Ah, pobre tipo! Seu enganador! Trabalho: isso significa grandes arrumações na escrivaninha e nas luminárias, fazer muita ponta nos lápis, e "Gloria, pare de cantar!", e "Por favor, mantenha esse diabo do Tana longe de mim!", e "deixe que eu leia minha primeira frase para você", e "levarei muito tempo para acabar, Gloria, por isso não fique acordada me esperando", e um tremendo consumo de chá e café. E só. Dentro de mais ou menos uma hora, ouço o velho lápis que deixou de rasgar o papel e dou uma olhada. Você tirou um livro da estante e está "consultando" alguma coisa. Em seguida está lendo. Em seguida bocejando – e tome cama, se revirando para lá e para cá porque está tão entupido de cafeína que não consegue dormir. Duas semanas depois e toda a cerimônia se repete."

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Aos Amigos que Restam

Desculpa pelo descontrole. Pela total falta de critério, dignidade e lucidez. As coisas andam muito bagunçadas, incrivelmente divertidas e eu não tô sabendo me controlar.

Desculpa por usar as mesmas roupas sempre, mas não tô tendo dinheiro pra renovar o armário. Nem tempo pra lavar os tênis. Desculpa pela coca-cola antes das 8h, pelos miojos de madrugada, pelas olheiras cada vez mais profundas e charmosas. Pelos acessos de carinho e ternura. Pelos acessos de raiva e loucura. Desculpa pelas lágrimas. Desculpa pelas conversas que não levam a lugar nenhum e sempre acabam comigo reclamando das mesmas coisas. Desculpa pela vergonha, pelos transtornos psicológicos, pelas músicas repetidas, pelos filmes repetidos, pelos livros atrasados. É que fico meio encabulado quando desperdiçam obras de arte. É que descobri que só existe salvação por meio delas.

Desculpa pelas piadas cada vez piores, pelo humor cada vez mais ofensivo, pelas risadas cada vez mais débeis e pelo sorriso cada vez mais perigoso. Inclusive decidi que não devo mais tirar fotos sorrindo. Porque além de parecer infantil, pareço feliz.

Desculpa por estar cada vez mais distante e ainda assim contar segredos cada vez mais cabeludos. Por jogar todo esse peso em cima de vocês, e ficar esperando uma resposta, com meus olhinhos brilhantes. E as respostas nunca vêm.

Desculpa por parecer entediado, por cortar a fala dos outros e dar pouca atenção aos detalhes. Tenho um descompasso grave na assimilação do mundo. Tudo me vem aos saltos. Como pequenos sustos, seguidos de um longo e eterno calafrio.

Desculpa pelo medo. Por preferir às vezes calar a ter que dizer as coisas que me machucam.

Desculpa pela poeira. A faxineira sumiu tem umas três semanas.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Mixtape - Wrong, I Know, Killing Someone

"Everyone enjoys a nice murder", foi o que Hitchcock disse há alguns anos. E pra contemplar melhor essa modalidade de entretenimento, resolvi fazer uma mixtape só de assassinatos. Tem gente que matou sem querer, tem gente que fez isso por amor, tem gente que confessa seus crimes pra mãe e tem gente que mata a própria. Tem de patriota a femme fatale, de psicopata a Kátia Flávia. Todos com motivações bastante compreensíveis, é claro.

Bom som e não esqueçam de limpar o sangue do carpete.





A capa e contracapa foram feitas pela Carol Ramos e trazem as assassinas de Chicago estampadas. Carol, inclusive, foi a responsável por me apresentar ao 8tracks (esse site maravilhoso, onde vocês poderão ouvir todas as mixtapes sem precisar fazer downloads e ainda descobrir uma infinidade de  outras coletâneas com os mais diversos temas). É uma rede social de mixtapes, pode isso?

Outras Mixtapes:

Músicas de natal: Por um Natal Sem Uva-Passa
Vozes sexys femininas: So Wet, So Tight
Músicas depressivas: Hoje Vou Te Fazer Chorar
Filmes do Tarantino: Tarantino's Jukebox

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

É Tudo Verdade


Quando você se propõe a escrever um blog pessoal, é óbvio que esperam, no mínimo, um nível Patrícia de exposição. E eu invejo demais essa gente que parece não dever nada pra ninguém. Essa gente com muita sinceridade e pouca censura. Porque só assim dá pra fazer um blog realmente pessoal e ganhar a confiança dos (cof cof) leitores.

E juro que a intenção era essa. De falar dos meus problemas e conflitos sem pensar muito nas consequências. Mas neuróticos não têm essa desenvoltura. A gente pensa num assunto e automaticamente surgem quinhentas projeções de todo mundo que vai ter acesso ao texto e de tudo que podem pensar; e sua voz vai ficando cada vez mais difusa. Acabo por desistir de tudo e falando de um filme aleatório cuja análise não me comprometa.

Minha vida anda muito estranha, com uns problemas perigosos demais para virem  a público. Então criei esse personagem, que sou eu mesmo, só que com pudores. Esse personagem que só consegue se comunicar através dos filmes e séries que viu, das músicas que ouve, dos retweets no Tumblr. Tudo pra tentar dizer alguma coisa que não ficaria bem em prosa.

Minha vida anda muito movimentada (no campo das ideias, que fique óbvio), mas ela já não tem espaço aqui. Aqui quem fala é esse personagem previsível e cuidadoso. E ele, ultimamente, não tem tido muito assunto.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Missão Julie & Julia


Existem duas coisas bastante incompatíveis na minha personalidade: a péssima alimentação e a tendência a hipocondria. Porque eu sigo comendo mal (é um ponto pelo qual já parei de lutar), mas agora sinto que a qualquer momento podem aparecer as úlceras e pedras nos rins que aguardo com tanta ansiedade. Soma-se a isso meu medo de decepcionar a família e o que temos são sonhos bizarros em que estou deitado numa cama de hospital, comendo nuggets e chorando, enquanto meus pais falam: "eu avisei".

E ando tão cansado dessa minha vida sedentária, de conservantes, corantes e acidulantes, que cheguei a cogitar fazer musculação numa academia aqui perto de casa. Estou com tempo de sobra e tem o incentivo estético que, atualmente, é a única coisa que me faria mudar de vida. Mas eu me conheço tão bem que não vou cair nessa cilada de novo. Porque já fiz academia uma vez, né? Há alguns anos. E foi patético. Eu passava toda a série tentando enganar o instrutor, pulando aparelhos e errando a contagem de propósito. Não dá pra pagar por isso.

Pensei em voltar pra natação, que foi o único esporte que algum dia me empolgou. Lembro de treinar por duas horas diárias e ter sido, inclusive, convidado a competir pelo Sesi. Também adorava a sensação pós-treino. Aquela morosidade agradável que se estendia pelas duas horas seguintes a saída da piscina. O corpo ainda molhado, os pulmões ainda frenéticos e uma fome sem precedentes. Mas natação não te deixa bonito (te deixa magro e esguio, é verdade, mas isso eu já sou até demais), então acaba perdendo o maior incentivo de um exercício físico regular.

Acho que vou aprender a cozinhar. Talvez eu descubra um talento oculto, uma paixão nunca dantes explorada, acabe diminuindo meu consumo de comida industrializada e, consequentemente, meu medo de doenças. Então essa é a proposta. Tô aceitando sugestão de sites com receitas fáceis e baratas para solteiros pobres e preguiçosos. Enquanto isso vou revisando meu testamento pela milésima vez.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Mas Somos Agradáveis


Cenas de um Casamento é um filme do Bergman de quase 3h que conta a história de um casal, sua separação e reencontro. Essa semana terminei um namoro longo (longuíssimo) e só tenho conseguido pensar nesse filme. Especificamente nesse monólogo de Marianne, onde ela tenta explicar pro marido a causa do fracasso do relacionamento dos dois.

"De repente, viro-me e olho para uma velha foto de escola de quando eu tinha 10 anos, pareço detectar algo que me escapava até então. Para minha surpresa, devo admitir que não sei quem sou. Não tenho a mais vaga idéia. Sempre fiz o que me mandaram. Até onde me lembro fui obediente, correta, quase humilde. Me impus algumas vezes, quando menina, mas minha mãe me puniu por minha falta de modos, com severidade exemplar. Minha educação e a das minhas irmãs tinha o objetivo de nos tornar agradáveis. Eu era feia e desajeitada um fato do qual sempre me lembravam. Mais tarde percebi que, se guardasse meus pensamentos e fosse agradável e previsível seria recompensada. A maior decepção começou na puberdade. Meus pensamentos e sentimentos giravam em torno de sexo, mas nunca disse isso aos meus pais nem a ninguém. Ser enganosa e reservada se mostrou mais seguro. Meu pai queria que eu seguisse seus passos e fosse advogada. Dei indiretas de que queria ser atriz ou fazer algo no mundo do teatro, mas eles riram de mim. Desde então, sigo fingindo, forjando meus relacionamentos com os outros, com os homens, sempre atuando, numa tentativa desesperada de agradar. Nunca considerei o que eu queria e sim o que ele quer que eu queira. Não é falta de egoísmo, como costumava pensar, é pura covardia, pior ainda, provém da minha ignorância de quem eu sou. Nosso erro foi não nos desligarmos de nossas famílias e criarmos algo que nos satisfizesse a nós mesmos".

sábado, 28 de julho de 2012

E agora, José?


Durante muito tempo esperei por essa viagem pra Belo Horizonte, exatamente como uma criança espera pelo Papai Noel. Fantasiando, é claro, uma perfeição que nunca existiu na capital mineira. Voltei essa semana e me vi completamente perdido, sem saber onde enfiar toda aquela ansiedade que antes tinha um alvo fácil. O melhor da festa é mesmo esperar por ela.

Agora me pego revivendo tudo com uma nostalgia absurda e uma melancolia torturante. Tudo mitificado, muito maior e muito melhor do que realmente foi. E só penso naquelas pessoas com quem dividi momentos de extrema intimidade e das quais não sei nem o nome. Viraram rostos cada vez mais desfocados e impessoais, o que me permite confirmar que eram lindas, já que as únicas testemunhas são meus olhos míopes e cansados de três da manhã. Onde elas estariam agora? O que fazem numa tarde de sábado?

Na Wikipédia tá escrito que nostalgia é um sentimento que surge a partir da sensação de não poder mais reviver certos momentos da vida. E eu tenho esse hábito de pegar a nostalgia pelo braço, andar com ela pela casa, oferecer meu travesseiro, etc. E ela adora, né? Se esparrama... Acaba ocupando mais da metade do colchão e me reservando um espaço mínimo entre a fronha e os livros que não param de se acumular no criado mudo.

Passo dias com uma enorme sensação de E agora, José? que, pra mim, é a melhor descrição de nostalgia instantânea. É aquilo de querer abrir a porta e não existir mais porta. De querer voltar pra Minas e Minas não há mais.

JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

 Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…

Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 24 de julho de 2012

Debaixo dos Caracóis do Seu Cabelo


Em seu novo filme, a Pixar se rende aos contos de fadas e à forma clássica de contar histórias, mas isso não significa que Valente seja ruim ou dispensável. Muito pelo contrário. A história de Merida, uma princesa rebelde, e sua relação com a mãe controladora são um primor visual e narrativo.

É impossível assistir Valente e não reparar nos cabelos da protagonista. Não só pela animação deslumbrante, que faz cada fio ruivo ter vida própria, mas porque o cabelo surge como uma metáfora óbvia para o comportamento das personagens. Merida mantém suas madeixas encaracoladas ao vento, como símbolo do seu anseio por liberdade, já sua mãe tem cada fio sob controle, num penteado simétrico e perfeito. Logo fica claro que as diferenças não se resumem apenas ao ramo capilar.


Valente é um filme sobre relacionamento entre pais e filhos (tema que a Pixar já havia abordado em 2003, com Procurando Nemo). Só que em vez de um pai superprotetor que vive sob o medo de perder seu unigênito, aqui o conflito se dá pelo excesso de expectativa de uma mãe e sua dificuldade em respeitar a liberdade da filha. Nas duas histórias fica clara a transformação dos personagens, como consequência de uma trajetória de autoconhecimento, mas em Valente essa transformação é literal.

Com personagens carismáticos e momentos engraçados, o novo filme da Pixar deve ser interessante tanto para os pais (coisa que Carros 2 não foi) quanto para os filhos (coisa que Wall-E não foi). E esse é um equilíbrio que, inevitavelmente, reduz a força da trama. Por mais bem executado que seja, um conto de fadas tem suas correntes e todo filme que opte pelo gênero precisa escolher se vai quebrar as regras e virar uma paródia (o que Shrek fez) ou respeitá-las e ficar limitado a um certo campo narrativo. Valente escolhe a primeira opção e, mesmo aprisionado, consegue ir longe.


PS: Todo mundo já sabe que em filme da Pixar não dá pra chegar atrasado. O curta que antecede Valente é um banquete visual (assista em 3D) e tem na sua ideia uma simplicidade e ambição comum a outros trabalhos do estúdio, como Parcialmente Nublado.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Apartamentos em Earlybird

A gente percebe que está na hora de morar sozinho quando começa a reparar demais nas casas e apartamentos dos outros. E umas coisas que nunca tinham passado pela sua cabeça tornam-se dúvidas relevantes. Quanto custa uma geladeira? Quanto custa um microondas? Quanto tempo dura um botijão de gás? Quanto tempo dura um rolo de papel higiênico? É possível pagar uma lavanderia todo mês? É possível pagar uma TV à cabo? Quantos pacotes de miojo se pode comer antes de uma infecção alimentar?

É engraçado, porque nunca mais consegui ver um filme ou série sem reparar nas moradias dos personagens e ficar classificando os cômodos em possíveis ou impossíveis. Por exemplo: nos filmes do Woody Allen os apartamentos são sempre lindos e aconchegantes, mas alguns deles são plenamente possíveis (contanto que você não ligue pras marcas e crie uma decoração genérica baseada somente no aspecto visual dos cômodos). Já nos filmes da Nancy Meyers todos os cenários parecem tirados direto de uma edição da Casa Cor. Aí é melhor nem perder tempo sonhando.

Girls, a série nova da HBO, conta a história de quatro meninas que moram em Nova York, mas, ao contrário das personagens de Sex and The City, nunca têm dinheiro, usam roupa de marca ou frequentam restaurantes badalados. São meninas que até pouco tempo eram sustentadas pelos pais, mas agora precisam arcar com aluguéis exorbitantes (estamos falando da capital do mundo), empregos ridículos e namorados igualmente ridículos. E a série é cheia desses apartamentos possíveis (considerando Brasília, não Nova York, é claro). Assisti a primeira temporada com os Classificados do lado.

E meio que comecei a organizar umas referências do que seria um apartamento ideal. Separei essas fotos do Tumblr e cheguei à conclusão de que minha casa dos sonhos é um lugar pequeno, cheio de livros e fumaça, com cores pouco saturadas e um filtro do Instagram.




domingo, 1 de julho de 2012

O Manoel Carlos do Mundo


Fui conferir ontem o novo filme do Woody Allen. Saí de casa logo depois do almoço e peguei um ônibus pro Cine Cultura, no Liberty Mall, onde a primeira sessão estava marcada pras 14h. Cheguei e dei de cara com o aviso de que as cópias de Para Roma, com Amor não haviam chegado a tempo (parece que o avião que trazia as películas sofreu um atraso) e o filme só seria exibido na semana seguinte. Indignado, tive que engolir o choro e ir pro outro lado da cidade, onde a única sessão disponível era numa sala VIP. O ingresso custava assustadores 44 reais e se servia pipoca com azeite de oliva. Só não fiquei mais revoltado porque a poltrona é realmente maravilhosa e o filme, na falta de outro adjetivo, um pitéu.

Confesso que ainda prefiro o Woody Allen de New York e que tenho certa preguiça de cidades históricas como Roma, mas entendo que ele faz isso por dinheiro e nunca subestimo sua capacidade de transformar um projeto de incentivo ao turismo em pequenas obras de arte (como ele fez com Vicky Cristina Barcelona e Meia-Noite em Paris, por exemplo). Dessa vez a capital italiana é o palco de quatro histórias de amor completamente independentes, costuradas pela inútil observação de um guarda de trânsito.


Costumo dizer que Woody Allen é o Manoel Carlos do mundo (ou que o Manoel Carlos é o Woody Allen do Brasil, dependendo da importância que você dá pra cada um deles). Porque ambos criam essa atmosfera lânguida de cenários encantadores e personagens quase etéreos que passeiam por restaurantes charmosos e hotéis refinados, conversando, mentindo e cometendo adultério. Em Para Roma com Amor é tudo tão classudo que você acaba nem ligando pra algumas obviedades como a história da celebridade instantânea (Roberto Benigni) ou da prostituta que precisa fingir que é uma esposa recatada (Penélope Cruz).

Os pontos altos do filme são a atuação do próprio Woody Allen (que, felizmente, continua hilário) e o triângulo amoroso envolvendo um estudante de arquitetura (Jesse Eisenberg), sua namorada (Greta Gerwig) e a melhor amiga da sua namorada (Ellen Page). Nesta última, o diretor aposta no realismo fantástico, onde situações completamente plausíveis e verossímeis são intercaladas com absurdos obviamente improváveis. E ele faz isso de forma natural, sem causar estranhamento ou perder a credibilidade.

Para Roma, com Amor não é um dos grandes filmes de Woody Allen, mas é preciso lembrar que estamos falando de um cara que faz um filme por ano e que, ao contrário dos seus colegas, mantém um invejável padrão de trabalhos bons, ótimos ou excelentes. Ainda assim, essa é uma viagem que vale a pena. Esteja certo de que você vai se divertir com um filme leve e agradável, que não subestima sua inteligência, e, se tiver sorte, ainda pode fazer tudo isso enquanto come uma pipoca com azeite.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Quão Bregas Nossos Sonhos Podem Ser


Quando assisti ao primeiro episódio de Glee, a série ainda não era conhecida. Lembro de ter lido alguns comentários na internet sobre o que parecia ser o programa mais cool do momento e ficado curioso, porque qualquer coisa que envolvesse adolescentes ou música me interessava muito. Comecei a ver sem fazer ideia do que esperar e, quando dei por mim, estava chorando na frente do computador. Isso foi em 2009, ano em que Don't Stop Believing liderou o ranking de execuções no meu iPod.

Muito tempo passou, a série se consolidou como um sucesso teen, ganhou fãs, vendeu discos, cresceu e piorou. A segunda temporada foi difícil de assistir. Com um enredo cada vez mais perdido, onde as tramas eram visivelmente manipuladas com o único objetivo de inserir canções famosas no repertório, Glee parecia não ter mais salvação. Era difícil encontrar um episódio tão agradável quanto os da primeira temporada, onde tudo era mais natural e verdadeiro. A terceira também não foi excelente. Alguns personagens muito bons sumiram, outros muito ruins ganharam destaque e as coisas foram mudando de lugar. Por isso (e pela má vontade de uma gente um tanto implicante) a série virou piada. E o sinismo foi tomando conta de tudo como uma epidemia.

Ontem terminei de ver a terceira temporada e fiquei feliz por ela ter acabado com dois dos episódios mais bonitos de todo o programa. Alguns dos personagens principais estavam se formando, então o clima era de despedida; e alguns flashbacks do primeiro episódio fizeram todo aquele encantamento de 2009 voltar. Pude perceber como foi legal acompanhar esses meninos rejeitados, humilhados e confusos, e suas descobertas através de um coral numa escola pública do interior dos EUA. De um jeito ou de outro, cada um deles havia mudado, aceitado suas diferenças e transformado suas vidas. A treinadora casca grossa agora torcia pelo sucesso do grupo, a orientadora paranóica resolveu dar uma chance ao que antes considerava sujo, o pai homofóbico dançou Single Ladies pro filho gay e os valentões, em vez de jogar raspadinhas na cara dos excluídos, jogaram confetes.


Acho que Glee, por mais problemática que seja, carrega consigo alguns méritos. Não só por ter sido a primeira série musical a dar certo em anos, mas por ter dado voz a toda uma geração de jovens atormentados pelo bullying que, através de Finn, Kurt, Santana, Artie ou Mercedes, puderam sonhar com o dia em que não precisariam mais se esconder. E ninguém melhor que Rachel Berry pra traduzir tudo isso. A menina com mania de estrelato, que gostava de colar estrelinhas douradas ao lado do seu nome e era ridicularizada por quase todos os colegas, termina sua trajetória com uma vaga pra estudar na Broadway.

Todos nós tivemos alguns desses sonhos cafonas quando crianças. Ainda não tínhamos sido contaminados pela epidemia do sinismo, nosso futuro parecia brilhante e nada era tão difícil. Com o tempo, a gente vai se esquecendo de lutar, vai andando pelo caminho mais confortável e quando percebe, não existe mais sonho nenhum. Nos damos por satisfeitos com nossos gabinetes abafados e trabalhos desinteressantes e seguimos com a vida, buscando aspirações menores e mais fáceis. Somos todos Rachel Berry. Tínhamos sonhos ridículos e colávamos uma estrela dourada ao lado do nosso nome, exatamente como ela. A diferença é que no último episódio da nossa terceira temporada, em vez de ir pra New York, preferimos ficar em Ohio.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Olhos nos Olhos


Gosto particularmente de como o universo se transforma depois de certa hora da madrugada. Não é que a nossa percepção do mundo fique alterada, mas é que o próprio mundo vai se alterando e se revelando todo cheio de percepções sobre nós. E o silêncio é tanto que qualquer um pode ouvir meus pensamentos, vagando pelas cobertas
. E depois das 3 eles eclodem como berros, acordando o Caetano no quarto ao lado.

Às vezes vou pra cama com uma música, pra abafar as memórias, e elas sempre me parecem bem mais reveladoras quando sussurradas no meio da noite. Saem do fone de ouvido feito lanças, furam meus tímpanos e jogam ali dentro todas aquelas verdades inconvenientes que a gente cria pra encaixar uma canção aleatória na vida da gente. Pra ver se consegue explicação pra esse tanto de erro absurdo e infantil.

Ontem perdi alguns minutos ouvindo uma coletânea da Maria Bethânia e encontrando milhares de respostas, concordando com quase tudo e sofrendo mais que o normal por umas letras bobas, quase cafonas. Percebi  como Tatuagem é linda, como Explode Coração é pornográfica, como é difícil dormir depois de Minha História e como Olhos nos Olhos é a coisa mais cruel que o Chico já escreveu.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Memórias Póstumas de Brás de Oliva Domingos


Não sei ler quadrinhos. Quando abro uma página meus olhos são automaticamente sugados pelas letras e as imagens assumem um caráter meramente ilustrativo. Fica parecendo livro infantil, não levo a sério, etc. Até hoje só tinha dado certo com Calvin e Haroldo. Mas também, temos um garoto de seis anos (visivelmente esquizofrênico e perturbado) e seu tigre de pelúcia. Não tem como isso dar errado. Aí comprei minha primeira graphic novel (nome fresco pra história em quadrinhos de gente grande) por indicação de dois amigos com o gosto confiável.

Continuo achando a leitura desconfortável e preferindo apenas letras ou apenas desenhos, mas não posso deixar de reconhecer o mérito de Daytripper. Os quadrinhos são de dois irmãos gêmeos, os brasileiros Gabriel Bá e Fábio Moon, e foram lançados primeiro no exterior e depois traduzidos para o português. Fala sobre a vida de um romancista que trabalha como escritor de obituários pra um jornal da cidade. Não dá pra falar muito sobre a trama, porque a estrutura é particularmente sensível a spoilers, mas não espere uma narrativa das mais clássicas. O livro brinca com você desde o primeiro capítulo e fica clara a intenção de te fazer abrir a guarda e permitir que a obra ultrapasse as barreiras físicas.


Boa parte do encanto de Daytripper se deve a exuberância visual dos traços de Fábio Moon e Gabriel Bá. Cada página é construída com a mesma paleta de cores, pra tornar a leitura ainda mais sensorial e o desenho é levemente despojado, mas sem deixar os detalhes de lado. Tem sempre uma xícara de café, uma fumaça de cigarro ou um porta-retratos pra tornar o cenário crível e nos aproximar do protagonista.

Por tratar de temas muito grandiosos: como amor, vida e morte (Severina), Daytripper às vezes não consegue evitar a cafonice. Alguns trechos parecem tirados de livros de autoajuda, o que, felizmente, não compromete o enredo. Esse se mantém coerente e interessante até a última página (belíssima, por sinal). Terminei de ler satisfeito por ter vencido esse preconceito bobo e conseguido curtir um livro com mais de 200 páginas de quadrinhos e balões. Acho que até ensaiei umas lágrimas no capítulo final.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Mas o diabo do tambor...


Estava lendo esse conto do Machado de Assis pra uma prova que, graças à greve das federais, não aconteceu; e tive espasmos de prazer com o último parágrafo. A história é desse menino, o Pilar, que perdeu uma moeda de prata, conquistada num negócio mal sucedido com Raimundo (seu colega interesseiro), por causa de um menino dedo-duro chamado Curvelo. O professor, indignado com Pilar e Raimundo, não pensou duas vezes e jogou a moeda pela janela da escola. No dia seguinte, Pilar acordou com o firme propósito de encontrá-la antes de ir pra aula:

"De manhã, acordei cedo. A idéia de ir procurar a moeda fez-me vestir depressa. O dia estava esplêndido, um dia de maio, sol magnífico, ar brando, sem contar as calças novas que minha mãe me deu, por sinal que eram amarelas. Tudo isso, e a pratinha... Saí de casa, como se fosse trepar ao trono de Jerusalém. Piquei o passo para que ninguém chegasse antes de mim à escola; ainda assim não andei tão depressa que amarrotasse as calças. Não, que elas eram bonitas! Mirava-as, fugia aos encontros, ao lixo da rua...

Na rua encontrei uma companhia do batalhão de fuzileiros, tambor à frente, rufando. Não podia ouvir isto quieto. Os soldados vinham batendo o pé rápido, igual, direita, esquerda, ao som do rufo; vinham, passaram por mim, e foram andando. Eu senti uma comichão nos pés, e tive ímpeto de ir atrás deles. Já lhes disse: o dia estava lindo, e depois o tambor... Olhei para um e outro lado; afinal, não sei como foi, entrei a marchar também ao som do rufo, creio que cantarolando alguma cousa:

Rato na casaca... Não fui à escola, acompanhei os fuzileiros, depois enfiei pela Saúde, e acabei a manhã na Praia da Gamboa. Voltei para casa com as calças enxovalhadas, sem pratinha no bolso nem ressentimento na alma. E contudo a pratinha era bonita e foram eles, Raimundo e Curvelo, que me deram o primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação; mas o diabo do tambor..."

E como eu entendo o Pilar! Aceito perfeitamente que ele perca todo e qualquer propósito quando confrontado com o barulho dos tambores. E até me compadeço. Porque meus tambores têm sido cada vez mais irresistíveis. É recorrente isso de sair de casa com um objetivo claro e tempos depois dar comigo na Praia da Gamboa, maltrapilho.

Ontem meu tambor foi o Song Pop e as 30 pessoas incríveis e insones que jogam comigo. Amanhã pode ser uma série, um romance barato, o Tumblr, Google Reader, YouTube... São muitas as chances de seguir marcha na direção oposta. Porque o dia está lindo, visto calças amarelas e eles estão rufando.