Mavis Gary, a personagem principal de Jovens Adultos (novo filme do Jason Reitman), nasceu no interior do estado de Minnesota, mas resolveu ser frustrada na cidade grande. Basicamente é o que muita gente que nasce no subúrbio ou na roça faz. Com a ideia fixa de que o mundo é muito mais que aquela avenida e suas quatro transversais, a pessoa resolve fazer as malas e sair da casa dos pais em busca de uma vida realmente excitante. Mas olha! Se você não é excitante, independente do endereço, sua vida vai continuar uma bosta.
O filme é abusadamente contemporâneo, cheio de Coca-Colas, Pizzas Huts e KFCs espalhados pelo cenário, tem um ritmo delicioso e um bom uso da trilha sonora (como é de se esperar num filme do Jason Reitman), mas sua maior qualidade é mesmo o trabalho de Charlize Theron, que aqui faz uma personagem ora incrível, ora patética (com predominância desse último). O problema é que ver Mavis Gary sendo ridícula e tomar consciência disso foi como me olhar num espelho mal educado. E acaba que vivemos, enquanto assistimos ao filme, algo que a própria personagem irá viver logo mais na tela: uma súbita revelação dos nossos próprios defeitos.
Mavis decide voltar pra sua cidade natal porque sua vida de ghostwriter de série infanto-juvenil fracassada não anda muito boa, mas na primeira visita à casa dos seus pais, rola toda aquela incompatibilidade característica de quem já não tem nada a ver. E isso é tão comum... Eu saí da casa dos meus há menos de um ano (quer dizer, eles saíram da nossa cidade) e às vezes me pego morrendo de vontade de voltar. O que é uma grande ilusão, porque quando a gente tá longe, as lembranças são todas maravilhosas, envolvendo cafunés e pizzas na frente da TV. Ninguém lembra das encheções de saco características de qualquer dinâmica familiar. Aposto que, se eu realmente voltasse, não conseguiria ficar confortável por mais de uma semana.
Uma amiga minha, que alugou seu próprio apartamento a pouco tempo, disse também estar no limbo da vida adulta. Isso de não pertencer à casa dos pais, mas também não pertencer a lugar nenhum. Dia desses ela afirmou ter sido empurrada pela sua porta enquanto tentava entrar em casa.
Acho que todo mundo tem uma Minnesota. É aquela cidade do interior onde você cresceu, confortável e protegido, mas que hoje em dia não te acolhe mais. E o problema não tá em Minnesota. Claro que não. O problema está em mim, na Mavis Gary e na minha amiga empurrada pela própria porta. Somos nós que acabamos nos tornando diferentes demais pra poder voltar.
4 comentários:
Adorei o post, como sempre! Já estou doido para ver o filme e é muito bom saber que todos nós temos uma Minnesota e a vontade de querer voltar para de baixo da asa dos pais as vezes é quase que incontrolável ainda mais se o local onde residimos não nos faz feliz e só estamos lá por motivos financeiros, mas sabemos que no fundo o melhor lugar para podermos crescer e amadurecer é onde somos testados a ter uma independência.
Essa parte é sensacional e eu ri muito: ´´Se você não é excitante, independente do endereço, sua vida vai continuar uma bosta.``
Abraços.
É engraçado como você diz umas verdades sem medo, adorei o post e me diverti demais enquanto lia. Acho que esse filme lembra um pouco Quase Famosos, não sei.
Concordo com você. O problema é que a minha Minnesota fica aqui em baixo, basta descer a ladeira. E minha mãe me telefona, qase todos os dias, morrendo de saudades.
Não sei se tenho uma Minnesota como você diz, para mim, nunca tive um lar onde morei. E não digo isso por que meu pai bate na minha mãe, nem por que minha irmã caçula está grávida, não há nenhum grande problema assim na minha casa. Só há uma ausência grande de 'lar', de se sentir confortável totalmente. Ser você mesmo sem medo. Então transferi a ideia de 'lar' a escola em que cresci, por 8 anos. Acabo se sair dela para entrar no ensino médio, então, sinto que senti o que deve se sentir quando sai da casa dos pais, por que lá era minha casa. Me imagino morando sozinha no meu apartamentinho e totalmente satisfeita, pois nunca houve o jantar em família e nem os conselhos de mamãe por aqui. Não sou traumatizada, só tive uma casa diferente. Minha Minnesota também não me acolhe mais, permanece como uma memória, e honra de quem em formou, com quem cresci, a quem devo minha formação. Em muitos sentidos.
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