sexta-feira, 22 de abril de 2011

Forjando Analógicas


Há alguns meses, falei aqui sobre dois aplicativos da Apple que simulam uma câmera fotográfica analógica. Nunca tive a chance de usar nenhum deles, porque meu robusto iPod de primeira geração nem câmera tinha, mas essa semana as coisas mudaram. Dei muita aula, passei muita fome, mas consegui juntar dinheiro pra comprar um iPod novo. Com câmera. E o primeiro aplicativo que baixei foi o Hipstamatic (mentira, o segundo, porque o primeiro foi Angry Birds mesmo). Dois dias e 60 fotos depois, só consigo encontrar uma palavra pra descrever minha relação com esse programa: amor.

O Hipstamatic conta com várias lentes, filmes e flashes que reproduzem os efeitos das antigas toy cameras: câmeras baratas, feitas em sua maioria de plástico e com contraste e saturação acima da média. Segundo a Wikipédia, "muitos fotógrafos profissionais já usaram as toy cameras e seus estranhos efeitos óticos para tirarem fotografias vencedoras de prêmios". E os criadores são tão safados espertos, que criaram uma loja dentro do aplicativo, pra quem quiser adquirir novas lentes e acessórios. É claro que a gente não resiste e acaba com uma pequena falência a cada mês.

Ontem passei a tarde no zoológico e aproveitei pra experimentar todas as combinações de lentes possíveis, embora tenha usado muito a Helga Vinking, que tinha acabado de comprar. O mais legal é que a sua visualização prévia da foto (o que agora conhecemos como visor LCD) é de péssima qualidade e muitas vezes o resultado sai completamente diferente da sua intenção (o que, na verdade, é a graça de quase todas as analógicas). Tudo bem que, a cada três fotos, duas ficavam péssimas, mas algumas saíram tão interessantes que eu quase esqueci que estava lidando com um iPod Touch e comecei a procurar preço de revelação em laboratório.





quarta-feira, 20 de abril de 2011

19 Anos e Mais Nada

Ontem foi confirmada a transferência do meu pai pra Campinas e agora ninguém sabe o que fazer. Porque nossa família nunca se separou. Meus dois irmãos mais velhos, apesar de casados, moram aqui no DF (um em cada extremo, é verdade, mas ainda aqui) e todo mundo já tem sua vida estabelecida, seus empregos, suas casas, etc. Eu sou o filho que não tem nada. Tenho um cachorro e uma namorada, mas, fora isso, nada me impede de mudar de cidade, estado, país ou planeta.  O único problema seria ganhar bem menos com as aulas particulares de redação e literatura, porque a hora-aula que se paga aqui (principalmente a hora-aula que os alunos do Galois pagam aqui) não existe em nenhum outro lugar. Em outros tempos eu adoraria a ideia, mas hoje tenho medo de ficar sozinho. Mais uma vez.

Demorei a reconhecer que sou extremamente dependente da minha família. Uma dependência emocional mesmo. Porque, no fundo, eu não tenho mais nada. Nunca fui de amizades profundas, de entrega completa e sinceridade desmedida. Até porque, sempre tive muito mais amiga que amigo (descobri cedo que nós, meninos, somos muito desinteressantes e abobalhados) e amizade entre homem e mulher, quando não tem segundas intenções, está fadada à superficialidade. Sobrou minha família, onde sempre depositei essa enorme bagagem de medo e insegurança.

Tenho a sorte de ser o caçula e poder contar com dois irmãos razoavelmente estabelecidos, mas não acho que aguentaria passar 4 anos numa casa que não é minha. Por mais à vontade que eu me sinta, não seria confortável pra nenhum dos lados. E nessas horas bate um desespero, porque eu vejo que não tenho muitas outras opções. Não construí nada onde eu possa me agarrar. Não tenho faculdade, salário fixo ou um teto pra fugir do sereno. E o mundo tá aí, querendo me engolir. E eu aqui, com medo de encarar.

E eu aqui, preso num tempo entre 1991 e a puberdade.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Fotossíntese

Estava ouvindo o CD novo da Adriana Calcanhoto e pensando que a gente precisa mais de samba. Que tá todo mundo extremamente travado e amedrontado com o futuro. Gente estudando pra concurso público, porque o único objetivo da vida é estabilidade. Olha... Se fosse pra ser estável, eu preferia ser, sei lá, uma árvore, não um ser humano. Parece bem mais fácil ficar ali, com as folhas abertas ao sol, só fazendo fotossíntese e puxando nutrientes de canudinho. Mas eu decidi aceitar o fato de que, infelizmente, não sou uma planta. Preciso de um pouco mais pra ser feliz.

Eu não sei quando foi que as pessoas ficaram tão covardes. Não lembro de ouvir esse tipo de proposta aos oito anos de idade. Naquela época a gente achava que podia ser o que quisesse quando crescesse. E ninguém queria ser funcionário público. O medo de ser pobre (ou desempregado, ou não ter o carro do ano) é tanto que as pessoas vão abrindo mão de quem elas realmente são. Minha nossa, isso tá ficando de uma breguice vergonhosa.

O fato é que tem gente achando que sabe o que é melhor pro meu futuro. E nem é meu pai ou minha mãe, ou meus irmãos. É gente que me conheceu ano passado e se julga no direito de vir e, oh, pobre menino... Por que você não desiste da universidade e vai estudar pra concurso? Vai cuidar do sustento dos seus filhos...

Antigamente eu tinha vontade de rir. Agora tenho vontade de sambar.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Todo Mundo Nu e Cru

Não por acaso, Nick Hornby (o escritor do aclamado Alta Fidelidade) é considerado por muitos a maior voz desta geração. Sua literatura é recheada de iPods, e-mails, blogs, fóruns e outros elementos tão comuns à vida dos jovens adultos de hoje. Seu último romance, Juliet, Nua e Crua, conta uma história de amor madura. O que é irônico, já que os personagens tem na infantilidade sua maior característica.

Annie é casada há 15 anos com Duncan, um entusiástico fã de Tucker Crowe (cantor e compositor de sucesso que não lança nada desde os anos 80). E Duncan é um babaca, porque coloca a relação dele com a música acima de todas as outras (mais ou menos o que eu faço com o cinema). Annie acaba tendo acesso a "Juliet, Nua e Crua", uma versão demo do álbum mais famoso de Tucker Crowe, e resolve fazer uma resenha lúcida (não a babação de ovo que seu marido faz) sobre o mesmo na internet. Para a sua surpresa, o próprio Tucker Crowe lê a resenha e entra em contato. Os dois começam a se corresponder, descobrem infelicidades comuns e fecham o triângulo amoroso.

Hornby tem essa facilidade de mostrar o pior lado de seus personagens. E fica a sensação de que todos são reduzidos a seus defeitos. Duncan é um deslumbrado enfadonho, Annie, uma solitária depressiva e Tucker, um cafajeste beberrão. E por mais triste que isso seja, a gente acaba se encaixando em uma das três cartilhas da derrota.

"Duncan não fazia Annie sentir-se incompetente ou insegura de si e de seus gostos. Era o contrário. Ele não sabia nada sobre coisa alguma, e ela nunca se permitira reparar nisso, até agora. Sempre pensara que o interesse apaixonado dele por música, filmes e livros mostrava inteligência, mas claro que aquilo não indicava nada disso, se constantemente ele entendia tudo errado. Por que ele estava ensinando aprendizes de encanadores e futuros recepcionistas de hotel a assistir à televisão americana se era tão esperto? Por que escrevia milhares de palavras para websites obscuros que ninguém lia? E por que estava tão convencido de que um cantor, a quem ninguém jamais dera muita atenção, era um gênio capaz de rivalizar com Dylan e Keats?"

PS: A arte da capa, criada por Kai Regan, é talvez a melhor coisa de Juliet, Nua e Crua.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

As Coisas que Escrevo Sem Consciência

A coisa mais comum no ensino médio é aluno entediado tirando um cochilo na carteira. Às vezes fazendo o próprio casaco de travesseiro, às vezes fazendo do caderno, aparador de babas. E no cursinho isso não acontece. As pessoas não debruçam na carteira pra dormir. Elas simplesmente perdem a luta contra o sono e, involuntariamente, dormem eretas, com os braços cruzados e a cabeça pendendo do pescoço. Ao contrário do que acontece na escola, os professores sentem pena. Porque sabem que ninguém ali quer dormir, não se trata de desinteresse, é mais uma questão de limite mesmo, de exaustão. E também rola um compadecimento dos colegas de classe. Amanhã o pescador pode ser você.

Perdi as contas de quantas vezes acabei dormindo enquanto copiava a matéria. Sem brincadeira: com a caneta na mão! E meu caderno agora é cheio de frases que começam lindas e acabam em rabiscos desatinados.