segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Um Ano Muito

Fui ler as resoluções do ano passado e morri de pena de mim. Porque continuo dormindo pouco, comendo mal, vivendo em estado vegetativo e perdendo séculos em redes sociais sem qualquer compromisso com a realidade. O bom disso tudo é que não preciso ficar inventando novas metas pra 2013.

2012 foi tão eufórico e desesperado que não consigo classificá-lo como um ano bom ou ruim. Vou classificá-lo como um ano muito.

Então eu só queria que 2013 fosse um ano menos, porque até minha asma voltou.

Ninguém tem fôlego pra isso. Pra entrar na faculdade, terminar namoro e morar em quatro casas em regiões opostas de um Distrito Federal cada vez menor. Sinto meu corpo desproporcional e gigante, como o da tia Guilda do Harry Potter. Meus pés ficam pra fora da cama e isso é pura metáfora.

Depois de quase dois anos, voltei a morar com os meus pais. E pode parecer uma regressão no processo natural de amadurecimento (vai ver até é), mas eu considero uma volta necessária. É preciso estabelecer uma comunicação, atualizar a família e ganhar meu espaço. Também é preciso economizar.

Ontem fiz uma maratona de How To Make it in America (uma das séries mais legais que a HBO já produziu) e assisti Setembro, um desses filmes sérios do Woody Allen. Hoje acordei mais cedo pra nadar um pouco e tomar sol, enquanto observava duas crianças apostando corrida na piscina infantil (uma delas roubando descaradamente). A ideia era começar o ano com as séries e filmes em dia e uma inclinação inevitável para o exercício físico, quiçá a maromba, mas tudo que consegui foi começar o ano com o ombro queimado.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Os Melhores Filmes de 2012

Eu achei que o ano passado tinha sido ruim em matéria de cinema, mas não. 2012 veio e mostrou que as coisas sempre podem ficar um pouco piores. Ainda assim, consegui garimpar 10 títulos que fizeram o ingresso valer a pena. Aí estão os filmes que mais me emocionaram, encantaram e fizeram sofrer ao longo desses 12 meses. Todos foram lançados no Brasil de janeiro a dezembro de 2012 e o único critério utilizado para a escolha foi, mais uma vez, minha visão pessoal, parcial e pouco confiável.

10. Heleno



Com uma belíssima fotografia em preto e branco, Heleno conta a história do famigerado e problemático jogador de futebol que por anos brilhou no Botafogo. E se sua paixão e doença aparece aqui tão evidente e assustadora, a culpa é toda de Rodrigo Santoro, que entrega uma atuação marcante.



Viva os filmes de máfia! E todo o seu sangue, e suas frases de efeito, e seus elencos espetaculares. Este conta com um Tom Hardy canastrão e uma Jessica Chastain encantadora; usa a figura lendária do mafioso para discutir a própria lenda e faz tudo isso com um ritmo e tensão exemplares.



Um diretor novo fazendo um filme despretensioso e original. Poder Sem Limites fala de três adolescentes que, após uma noite incomum, começam a mover objetos e outros seres com a mente. O poder é sedutor e incontrolável, assim como a própria juventude.



No último filme de Jason Reitman (diretor de Juno e Amor Sem Escalas), Charlize Theron vive uma escritora de livros juvenis que, motivada por um convite de batizado, volta à sua antiga cidade e é obrigada a enfrentar sua frustração, infelicidade e loucura. É o retrato de uma geração que não soube crescer (como se alguma soubesse).



Ruby Sparks é uma menina linda, inteligente, cool e fictícia. Ou não. A história de Calvin, um escritor em crise criativa e sua personagem que ganha vida, é um triste exercício de metalinguagem. O filme parece uma comédia romântica bobinha, quando na verdade é um espelho indiscreto de todo artista frustrado com o ego gigante.

5. Precisamos Falar Sobre o Kevin


A história do cinema é cheia de filmes sobre crianças diabólicas e suas atrocidades nada infantis. Em Precisamos Falar Sobre Kevin, porém, o foco está na mãe do psicopata. E Tilda Swinton destrói no papel. A relação de Eva e seu filho é doentia e deixa a plateia atordoada, sem saber a quem culpar.

4. Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios


Camila Pitanga encarna a musa inspiradora de um fotógrafo libertário e, ao mesmo tempo, o objeto de adoração de um pastor evangélico. O cenário é ermo, a trama é incômoda e tudo é pura poesia. Não do tipo que encanta, mas do tipo que apavora.

3. Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge


Não é que eu seja fã do Christopher Nolan (e eu sou), mas a verdade é que ninguém pode desmerecer o que esse homem fez com um personagem de história em quadrinhos. A trilogia iniciada em Batman Begins, e encerrada aqui epicamente, é mais que uma franquia de super-heróis. É cinema. E da melhor qualidade.

2. As Vantagens de Ser Invisível


Hollywood respira aliviada, porque a nova geração de atores já mostrou a que veio. As Vantagens de Ser Invisível é um filme de temática adolescente, com Hermione, Kevin e Percy Jackson, todos extremamente seguros e carismáticos. Stephen Chbosky (que também escreveu o romance em que o filme se baseia) não se limita aos clichês adolescentes e entrega um trabalho maduro e comovente.

1. Drive


Drive é dessas obras incategorizáveis. Porque é uma história de amor, mas também é uma história de violência. Tem muito silêncio e, ao mesmo tempo, uma trilha sonora extremamente marcada que funciona como catalisadora de tensões. E Tem Ryan Gosling em seu melhor papel até hoje. É um filme sobre o conto do escorpião, a violência como demonstração de amor, nosso caminho inevitável para a morte e a beleza de tudo isso.

Atualização:

Antes do ano acabar, e depois de ter feito essa lista, fui ao cinema assistir As Aventuras de Pi. O filme entraria, sem dúvidas, na lista de melhores do ano. Muito provavelmente em segundo ou primeiro lugar. Falei dele aqui.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Meninos Não Choram

Faz um mês que estou emocionalmente abalado e não sei por que. Percebi o problema em uma noite de segunda-feira, quando, sozinho no meu quarto, fui ver Compramos um Zoológico e chorei por quatro vezes ao longo do filme. Quem viu sabe que ele não é tão triste nem oferece tantas oportunidades assim pra comoção, mas eu fiz acontecer.

Meu pai, por exemplo. Nunca vi derramar uma lágrima. Ele simplesmente não chora. Desconfio de que suas glândulas lacrimais não funcionem muito bem. Ou talvez ele vá todo dia pro banheiro chorar escondido, nunca se sabe. Minha mãe diz que já viu meu pai chorar duas vezes ao longo dos infinitos anos de casados que eles têm, mas até agora são só boatos.

Eu realmente queria ser menos sensível a essas bobagens. Ou chorar pelos motivos certos. Porque quando é pra demonstrar carinho, falar da minha vida ou sofrer com alguma perda, sou uma pedra. Agora, coloca um Toy Story 3 procê ver se eu não estarei em prantos do início ao fim, com direito a soluços desesperados na sequência final.

Acho que peguei toda a minha sensibilidade e joguei no campo das artes. É uma estratégia segura, porque a ficção tem essa vantagem maravilhosa de não ser real. E, por mais comovente que o filme for, em aproximadamente duas horas ele vai acabar. Eu tenho medo é dessa coisa louca chamada vida que não vem com o tempo de duração na capa.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Controlo o Calendário Sem Utilizar as Mãos


O que me entristece é a falta de perspectiva. Porque quando se tem 9 anos é muito fácil suportar períodos de tédio ou trabalho árduo. Porque as coisas terminam. O recreio chega. As férias chegam. O natal chega. Hoje eu fico olhando pro calendário e tudo o que consigo sentir é uma completa desesperança. Sabe essas pessoas que falam: nossa, não vejo a hora de dezembro acabar? Então. Tenho um pouco de inveja. Porque infelizmente, pra mim, quando acaba dezembro vem sempre janeiro.

Férias nunca é um bom negócio pra professor particular. A gente não tem décimo terceiro, então enquanto nossos alunos passeiam por Miami, a gente conta as moedas pra comprar um Big Mac. Além disso, tem a greve das federais, que acabou com o nosso ano. Ou seja: tô indo ali passar as férias estudando e sem dinheiro, forte abraço.

E dezembro chega como um vírus. As pessoas começam a andar pela rua cheirando a Sundown e cloro. As crianças saem de suas cavernas e dão risadas absurdas enquanto empinam papagaios. Os shoppings exibem suas luzinhas questionáveis. As famílias vão se aproximando, planejando amigo oculto, esquentando o peru... E você ali, com 15 textos pra ler, seminário pra preparar e todo o rancor do mundo.

Mas não era esse o problema. Acabei me perdendo com essa história de férias. O problema é que, independente da data, as coisas estão uma zona.