quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Os Melhores Filmes de 2015


Desculpa por não ter conseguido acompanhar o circuito muito bem, mas estive sem dinheiro e sem paciência para transporte público, fila de ingresso, gente conversando do meu lado, gente no smartphone... então quase não vi os filmes do ano. Preferi fazer uma maratona dos clássicos Disney, depois uma de Harry Potter, Senhor dos Anéis, Batman... Ou seja, posso estar sendo injusto com alguns títulos que ainda não consegui ver, como, por exemplo, Star Wars, mas não tem problema. Melhor uma lista singela que um ano mal terminado.

10. Cobain: Montage of Heck, de Brett Morgen


Parece que foi o ano dos documentários. E eu, que nunca fui do rock, me peguei inteiramente envolvido com a vida desse cara. Graças a uma montagem perfeita e ao conteúdo extremamente pessoal que compõe o filme, a sensação que a gente tem é de estar diante do que resta de mais íntimo do artista.

9. Casa Grande, de Fellipe Barbosa


Beleza de reflexão sobre os sistemas de escravidão, favor e troca, ainda vigentes no Brasil. As atuações sofrem daquele probleminha do amadorismo, mas nada que a fotografia linda ou a edição elegante não disfarcem. É o único filme nacional da lista, mas isso não é culpa minha.

8. Foxcatcher, de Bennett Miller


Precisamos falar sobre um cara e o nome dele é Steve Carrel. Fantástico o vilão que este homem nos entrega aqui. Eu fiquei de boca aberta boa parte do filme. Carrel está assustador, transformado, com trejeitos que inspiram ao mesmo tempo asco e vergonha.

7. A Very Murray Christmas, de Sofia Coppola


Pode me chamar de fã boy, mas não consegui ver um defeito sequer neste especial de natal dirigido pela Sofia Coppola pro Netflix. Tem Bill Murray cantando, (Miley Cyrus cantando), George Clooney cantando (!). Tem todo mundo cantando. E aquela melancolia característica de um cara bem sucedido profissionalmente, mas com o emocional em pedaços, que a diretora já tinha explorado tão bem em Encontros e Desencontros e Um Lugar Qualquer.

6. O Fim da Turnê, de James Ponsoldt


Ainda não terminei de ler Graça Infinita (dizem que a leitura também é infinita), mas esse filme passado em pouquíssimos dias, durante uma turnê de divulgação da obra, consegue transmitir boa parte da atmosfera do romance. A história é sobre um repórter da Rolling Stone que fica fascinado com o livro (todo mundo que lê, fica) e precisa esboçar um perfil do excêntrico escritor norte-americano. David Foster Wallace, que ficou famoso pelo tom depressivo-neurótico de seus textos e se matou antes dos cinquenta, conseguiu, neste filme, se tornar tão interessante quanto sua própria obra.

5. Ida, de Lukasz Zal e Pawel Pawlikowski


O filme mais lindo do ano (e isso no ano em que tivemos Mad Max). Ida tem um enquadramento absolutamente original, que faz a gente enxergar a história de uma perspectiva poucas vezes experimentada no cinema. A fotografia em preto e branco só deixa tudo mais bonito: as expressões da atriz, a textura da roupa, os fios de cabelo...

4. Whiplash, de Damien Chazelle


Além de um trabalho absurdo de edição de som e imagem (o filme começa com bateria e termina com bateria), Whiplash traz a dupla de protagonistas mais entregues do ano (pau a pau com a dupla de O Fim da Turnê). O filme é um duelo; e dos bons.

3. Divertida Mente, de Pete Docter


Disseram que era a volta da Pixar e era mesmo. Divertida Mente constrói aqueles universos imensos e completamente originais, que são a especialidade do estúdio, sem descuidar do visual (as cores são tão lindas que dá vontade de por na boca) ou da historinha. Falar sobre tristeza para crianças já é uma coisa difícil, imagina fazer isso de modo colorido, envolvente e criativo?

2. Amy, de Asif Kapadia


Chorei, não procurei esconder... Todos viram, fingiram... Pena de mim, não precisava! Ali onde eu chorei qualquer um chorava...

1. Mad Max: Estrada da Fúria, por George Miller


Acontece muito raramente, mas às vezes o cinemão acerta em cheio. Tem a ver com uma série de coisas que, no conjunto da obra, tornam o filme um clássico instantâneo. Nesse caso, podemos culpar a Furiosa, a fotografia estonteante ou os efeitos especiais que, de tão orgânicos, precisaram de todo um Cirque Du Soleil pra serem feitos.

PS: Dessa vez não vou prometer que em 2016 atualizarei o blog mais vezes, porque todo ano prometo e o número de posts só cai.  Só vou desejar um feliz ano novo mesmo.

Os Melhores Álbuns de 2015


Às vezes eu acho que só passo o ano inteiro ouvindo música e vendo filme pra poder fazer essas listas de fim de ano. Como eu amo! E 2015 está de parabéns! Que ano pra música brasileira! Que ano pra música internacional! O povo arrasou tanto, que eu tive de deixar de fora do top 10 umas coisas tipo o CD novo da Adele ou do Justin Bieber (ou da ex do Justin Bieber), Lana Fucking Del Rey, Alice Caymmi, Caetano e Gil... Sabe? Não foi fácil. De qualquer forma, esses álbuns que escolhi foram aqueles que conseguiram me fazer sentir coisas novas sobre assuntos antigos ou coisas antigas sobre assuntos novos.

10 - Cheers to the Fall, Andra Day


Independente do álbum ser um brinde à queda, cheio de emoções exacerbadas e cara de dor-de-cotovelo, a voz de Andra Day nunca nos deixa de fato cair. Ela segura as notas, suspende o tom e eleva a dramaticidade da letra com uma suavidade que só é possível a quem tem, ou muita técnica, ou muito talento.

Ouça City Burns e tente não arrepiar no refrão.

9 - To Pimp a Butterfly, Kendrick Lamar


Pode ganhar o Grammy no ano que vem, mas, considerando o tom de revolta de todos os raps e o quão abusado esse Kendrick Lamar é no seu segundo álbum, acho pouco provável. Deveria. Fiquei impressionado com o sucesso que pode fazer um disco absolutamente não comercial e anti-pop, o que mostra que o problema não é mesmo o público, que engole o lixo, infelizmente, porque é a única coisa que tem.

Ouça For Free? (interlude) e entenda por que este pau não é grátis.

8 - Uma Temporada Fora de Mim, Hélio Flanders


Porque às vezes você passa uma meia dúzia de semanas completamente alheio a tudo aquilo que pensava ser você. Ainda bem que existem coisas como o primeiro CD solo do vocalista do Vanguart pra te lembrar que morrer de amor nunca vai ser banal.

Ouça Romeo, que ele fez com o Thiago Pethit e os dois gravaram nos seus respectivos álbuns.

7 - Delírio, Roberta Sá


Ela irradia todas as cores e finalmente volta a fazer um CD daqueles que a gente não consegue parar de ouvir. Os últimos dois álbuns da Roberta Sá não estavam indo por um caminho que me agradava muito, mas agora ela voltou. E parece que voltou melhor? O samba que Roberta Sá faz em Delírio é não só maduro e refinado como também contagiante.

Ouça Delírio e, se der tempo, Se For Pra Mentir, que ela gravou com ninguém mais ninguém menos que Chico Buarque de Hollanda.

6 - Pedaço Duma Asa, Mariana Aydar


É difícil falar de álbuns como esse quarto da Mariana Aydar. Ele não consegue ser feliz, muito menos triste, ao mesmo tempo em que atinge picos de pura melancolia e outros de intenso desbunde.  O baião continua ali, um samba alternativo, uma espécie de música popular brasileira regional urbana (?). Infelizmente as palavras não chegam onde Mariana está.

Ouça Isso Pode, antes que não possa mais.

5 - Beauty Behind the Madness, The Weeknd


Não sei de onde veio esse menino com cabelo de espanador, mas que ele chegou chamando a atenção não podemos negar. Imagino que não devem ter tocado outra coisa na balada, mas como quase não saí de casa esse ano, a única coisa que posso garantir é que aqui em casa tocou bastante. Sabe música pra quando seus amigos estão reunidos e você quer impressioná-los com um ótimo gosto musical (e ainda assim, animar a festa)? É esse o tipo de música que você põe.

Ouça The Hills, pra sentir o peso.

4 - #1, Jaloo


Essa bicha paraense deu o nome (é jota, ah, éle, oh, oh...) e fez uma coisa que quase não existe na música brasileira: um álbum alternativo completamente acessível, com letras lindas, arranjos originais e toda uma vibe eletro-disco pra dançar na sala com uma catuaba na mão.

Ouça Last Dance quando a festa estiver acabando.

3 - But You Caint Use My Phone, Erykah Badu


A voz mais sexy do R&B resolveu se amigar do menino Drake e os dois fizeram uma sessão de Hotline Bling. Depois Ms. Badu lançou essa mixtape de 14 canções que só falam de telefone (Hello, Adele, você não está sozinha on the other side, parece que todos nós estamos). É claro que me fez pensar em como nossas relações atuais são intermediadas por esse grande viveiro de germes que é o telefone. Como todas as boas e as péssimas notícias vêm dele. As piores brigas, os melhores flertes... E agora também parece que as melhores músicas.

Ouça Hello, uma parceria da Badu com o André 3000 (que faz rap de um jeito que deixa a gente totalmente sem fôlego)

2 - Dancê, Tulipa Ruiz


Foi o álbum que me salvou do inferno astral. Era maio, eu estava enjoado de tudo o que costumava me fazer feliz, jogado na sarjeta, e ouvir Tulipa Ruiz dizer que "começou! Agora você vai tomar conta de si!" me deu forças para levantar da cama, aprender a puxar o próprio cabelo e ir à luta. O disco inteiro é de um astral contagiante, letras espertas e vários daqueles agudos extremos que só a Tulipa sabe dar.

Ouça Físico, mas com o volume bem alto.

1 - My Garden, Kat Dahlia


Uma das coisas mais inexplicáveis da vida é ninguém conhecer essa mulher. Sério, ninguém, nenhum amigo ouviu falar, ela não toca em lugar nenhum! Às vezes eu acho que vivo numa espécie de universo paralelo onde uma gringa de descendência cubana lança em janeiro um álbum de rap, cheio de pop e tambor, e até dezembro esse álbum permanece na biblioteca de todo mundo, sendo reproduzido várias e várias vezes, nunca esquecido, a ponto de figurar não apenas nas listas de melhores do ano, mas frequentemente assumindo a primeira posição do ranking.

Ouça Lava e finalmente conheça a mulher que ninguém conhece.