Às vezes eu acho que só passo o ano inteiro ouvindo música e vendo filme pra poder fazer essas listas de fim de ano. Como eu amo! E 2015 está de parabéns! Que ano pra música brasileira! Que ano pra música internacional! O povo arrasou tanto, que eu tive de deixar de fora do top 10 umas coisas tipo o CD novo da Adele ou do Justin Bieber (ou da ex do Justin Bieber), Lana Fucking Del Rey, Alice Caymmi, Caetano e Gil... Sabe? Não foi fácil. De qualquer forma, esses álbuns que escolhi foram aqueles que conseguiram me fazer sentir coisas novas sobre assuntos antigos ou coisas antigas sobre assuntos novos.
10 - Cheers to the Fall, Andra Day
Independente do álbum ser um brinde à queda, cheio de emoções exacerbadas e cara de dor-de-cotovelo, a voz de Andra Day nunca nos deixa de fato cair. Ela segura as notas, suspende o tom e eleva a dramaticidade da letra com uma suavidade que só é possível a quem tem, ou muita técnica, ou muito talento.
Ouça City Burns e tente não arrepiar no refrão.
9 - To Pimp a Butterfly, Kendrick Lamar
Pode ganhar o Grammy no ano que vem, mas, considerando o tom de revolta de todos os raps e o quão abusado esse Kendrick Lamar é no seu segundo álbum, acho pouco provável. Deveria. Fiquei impressionado com o sucesso que pode fazer um disco absolutamente não comercial e anti-pop, o que mostra que o problema não é mesmo o público, que engole o lixo, infelizmente, porque é a única coisa que tem.
Ouça For Free? (interlude) e entenda por que este pau não é grátis.
8 - Uma Temporada Fora de Mim, Hélio Flanders
Porque às vezes você passa uma meia dúzia de semanas completamente alheio a tudo aquilo que pensava ser você. Ainda bem que existem coisas como o primeiro CD solo do vocalista do Vanguart pra te lembrar que morrer de amor nunca vai ser banal.
Ouça Romeo, que ele fez com o Thiago Pethit e os dois gravaram nos seus respectivos álbuns.
7 - Delírio, Roberta Sá
Ela irradia todas as cores e finalmente volta a fazer um CD daqueles que a gente não consegue parar de ouvir. Os últimos dois álbuns da Roberta Sá não estavam indo por um caminho que me agradava muito, mas agora ela voltou. E parece que voltou melhor? O samba que Roberta Sá faz em Delírio é não só maduro e refinado como também contagiante.
Ouça Delírio e, se der tempo, Se For Pra Mentir, que ela gravou com ninguém mais ninguém menos que Chico Buarque de Hollanda.
6 - Pedaço Duma Asa, Mariana Aydar
É difícil falar de álbuns como esse quarto da Mariana Aydar. Ele não consegue ser feliz, muito menos triste, ao mesmo tempo em que atinge picos de pura melancolia e outros de intenso desbunde. O baião continua ali, um samba alternativo, uma espécie de música popular brasileira regional urbana (?). Infelizmente as palavras não chegam onde Mariana está.
Ouça Isso Pode, antes que não possa mais.
5 - Beauty Behind the Madness, The Weeknd
Não sei de onde veio esse menino com cabelo de espanador, mas que ele chegou chamando a atenção não podemos negar. Imagino que não devem ter tocado outra coisa na balada, mas como quase não saí de casa esse ano, a única coisa que posso garantir é que aqui em casa tocou bastante. Sabe música pra quando seus amigos estão reunidos e você quer impressioná-los com um ótimo gosto musical (e ainda assim, animar a festa)? É esse o tipo de música que você põe.
Ouça The Hills, pra sentir o peso.
4 - #1, Jaloo
Essa bicha paraense deu o nome (é jota, ah, éle, oh, oh...) e fez uma coisa que quase não existe na música brasileira: um álbum alternativo completamente acessível, com letras lindas, arranjos originais e toda uma vibe eletro-disco pra dançar na sala com uma catuaba na mão.
Ouça Last Dance quando a festa estiver acabando.
3 - But You Caint Use My Phone, Erykah Badu
A voz mais sexy do R&B resolveu se amigar do menino Drake e os dois fizeram uma sessão de Hotline Bling. Depois Ms. Badu lançou essa mixtape de 14 canções que só falam de telefone (Hello, Adele, você não está sozinha on the other side, parece que todos nós estamos). É claro que me fez pensar em como nossas relações atuais são intermediadas por esse grande viveiro de germes que é o telefone. Como todas as boas e as péssimas notícias vêm dele. As piores brigas, os melhores flertes... E agora também parece que as melhores músicas.
Ouça Hello, uma parceria da Badu com o André 3000 (que faz rap de um jeito que deixa a gente totalmente sem fôlego)
2 - Dancê, Tulipa Ruiz
Foi o álbum que me salvou do inferno astral. Era maio, eu estava enjoado de tudo o que costumava me fazer feliz, jogado na sarjeta, e ouvir Tulipa Ruiz dizer que "começou! Agora você vai tomar conta de si!" me deu forças para levantar da cama, aprender a puxar o próprio cabelo e ir à luta. O disco inteiro é de um astral contagiante, letras espertas e vários daqueles agudos extremos que só a Tulipa sabe dar.
Ouça Físico, mas com o volume bem alto.
1 - My Garden, Kat Dahlia
Uma das coisas mais inexplicáveis da vida é ninguém conhecer essa mulher. Sério, ninguém, nenhum amigo ouviu falar, ela não toca em lugar nenhum! Às vezes eu acho que vivo numa espécie de universo paralelo onde uma gringa de descendência cubana lança em janeiro um álbum de rap, cheio de pop e tambor, e até dezembro esse álbum permanece na biblioteca de todo mundo, sendo reproduzido várias e várias vezes, nunca esquecido, a ponto de figurar não apenas nas listas de melhores do ano, mas frequentemente assumindo a primeira posição do ranking.
Ouça Lava e finalmente conheça a mulher que ninguém conhece.
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