segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Tá Tudo Errado


Sempre que fico muito triste ou melancólico procuro encontrar os motivos. E geralmente são motivos bobocas, facilmente superáveis. Tenho essa capacidade de racionalizar a tristeza e, por isso, sofrer menos. E ontem deixei um pedaço do meu dedo no cortador de queijo. O sangue me fez mal. E o fato de estar sempre espirrando também não ajuda. Tenho estado tão errado que não estou conseguindo fazer uma conexão entre as frases. Que dirá entre os parágrafos. Então vou só escrever as ideias separadas mesmo e vocês que façam o trabalho de juntar e embelezar em suas próprias mentes.

Nessas horas é tão difícil conviver. Porque as pessoas não compartilham da sua dor. E nem devem. Vida segue pra todo mundo, independente da sua estar uma bosta. E quando alguém se compadece, sempre acaba no erro de tentar explicar meu sofrimento, ou tentar me consolar. Eu não quero consolo, não quero explicação. Quero alguma coisa parecida com evaporação. Mas de um jeito que eu permaneça com os pés aquecidos.

Essa noite foi difícil dormir, porque fiquei pensando muito e sentindo o dente latejar. Mais uma vez, tinha ido fundo demais com o fio-dental. O dedo sangrando, o dente doendo, o nariz escorrendo... Tudo crescendo e incomodando de um jeito cada vez mais insuportável a ponto de eu sentir a sanidade sumir por alguns segundos.

Hoje acordei assim. Melancólico. Sentindo o desespero correr nas artérias. E fui fazer meu exame mental pra descobrir o motivo da tristeza, mas não consegui. Hoje não achei motivo pra chorar. Ou achei motivos demais.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O Amor em Dó Maior

Quando o assunto é trilha sonora, devo confessar que não sou nem um pouco erudito. Sempre acabo preferindo os filmes que usam canções e não músicas. É óbvio que não dá pra desprezar o trabalho de gênios como Philip Glass, Hans Zimmer e John Williams, que criam verdadeiras obras-primas orquestradas, mas eles estão em outro nível. Hoje quero falar de música popular (com letra e refrão) e sua capacidade de tornar um filme bom, inesquecível.

Recentemente assisti a três filmes de amor. Sim, embora eu torça o nariz pra comédias românticas, adoro bons filmes de amor (superados apenas por bons filmes de assassinato). E apesar da história dos três ser bastante interessante, o que mais me encantou foram suas trilhas sonoras. Nada erudito. Música popular. E das boas.

O Casamento do Meu Ex (The Romantics)


O Casamento do Meu Ex é desses filmes que geram repulsa pelo título mal traduzido. E pode parecer mais uma comédia romântica boboca, quando na verdade é um excelente drama de relacionamento. Superou todas as minhas expectativas com um enredo simples, envolvendo uma noite, um cenário e três casais. Tem Elijah Wood fazendo um bêbado, Anna Paquin sendo linda e Katie Holmes com uma atuação contida e deliciosa. Ao longo do filme usei o Shazam nada menos que 3 vezes pra identificar as músicas que estavam tocando. Entre elas, essa mistura de balada com eletrônica da banda The Bird And The Bee:


Adeus, Primeiro Amor (Un Amour de Jeunesse)


Adeus, Primeiro Amor é uma produção francesa que fala basicamente sobre a dificuldade de abandonar nossa(o) primeira(o) namorada(o). Camille e Sullivan são dois jovens que precisam se separar e não sabem lidar com a distância, visto que continuam amando um ao outro. Os diálogos são muito sinceros e o final é de uma tristeza devastadora. Parte dessa tristeza é culpa da canção que começa ali e embala os créditos finais: The Water, de Johnny Flyinn e Laura Marling.


Apenas Uma Vez (Once)


Apenas Uma Vez é um filme irlandês independente de simplicidade ímpar e resultado brutal. Dos filmes citados aqui, é o que mais abre espaço pra a música. Aqui ela funciona ou como plano de fundo pra a história dos protagonistas ou como expressão máxima dos seus sentimentos. Mais uma vez o filme termina e deixa a gente sem chão. Todas as canções do longa foram compostas pelo protagonista (que também é cantor) e trazem na letra o tipo de dor que só quem já sofreu por amor conhece.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Life. Camera. Action.


Chegou a melhor época do ano. Aquela em que todo mundo abusa do torrent, ataca de crítico e faz suas apostas pro prêmio mais importante do cinema. A corrida do ouro, como é chamada a temporada de premiações e suas politicagens, já está a todo vapor. Tivemos Globo de Ouro há duas semanas atrás, teremos o SAG Awards no próximo domingo e finalmente o Oscar dia 26 de fevereiro. Até lá, minha única obrigação como cinéfilo (e pessoa) será ver o maior número de filmes possível.

Ontem saiu a lista dos indicados e ela trouxe algumas surpresas. Tão Forte e Tão Perto (novo filme do diretor de As Horas e O Leitor) apareceu na categoria principal, tirando a vaga de queridinhos como Tudo Pelo Poder e Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres. Entre os prêmios de atuação, Tilda Swinton foi esnobada pra dar lugar à Rooney Mara e Leonardo DiCaprio viu todo seu esforço e transforção para viver J. Edgar completamente ignorados pela Academia. Sinceramente, acho que DiCaprio ainda sofre muito preconceito. Não sei se por ter começado cedo ou por ter sido o queridinho das adolescentes nos anos 90 ou até mesmo por ter feito Titanic, mas é visível que rola uma má vontade com relação ao trabalho do cara. E assim... Ele já provou que é um ator de verdade. E dos bons (Ilha do Medo e A Origem não me deixam mentir).


No campo das animações, foi muito triste não ver a Pixar entre os indicados. Ela, que monopolizava a categoria há uns 10 anos, dessa vez não chegou a ser mencionada. Fez um trabalho medíocre e foi merecidamente limada pela crítica. Mas acho que serviu como lição, né? Que esse caminho do cinema comercial é sempre errado. Então, amigos, voltem a fazer filmes por amor e não por dinheiro que a gente promete apagar Carros 2 da memória.

Agora... E Woody Allen, hein? Humilhou todo mundo e garantiu suas duas indicações (como diretor e roteirista), além de melhor filme e direção de arte para Meia-Noite em Paris. Infelizmente, acho que sua única chance está no roteiro original, até porque todo mundo sabe que ele não tá nem aí pro Oscar, não vai aparecer na cerimônia e, se ganhar, é capaz de derreter a estatueta pra comprar uns discos de jazz.


A cerimônia, que acontece dia 26 de fevereiro, será apresentada por Billy Cristal e transmitida aqui no Brasil pela TNT com os deliciosíssimos comentários rancorosos de Rubens Ewald Filho. Até lá, a gente vai gastando todo o dinheiro que não temos com ingresso de cinema e pipoca.

sábado, 21 de janeiro de 2012

É tarde! É tarde! É tarde!


100 posts com esse. É uma marca! Devo dizer que fiquei um pouco confuso essa semana, com esse tanto de Luizas e Julias perdidas na vida (geografica e moralmente falando), e com meu dinheiro sumindo da conta numa velocidade recorde, como se eu estivesse aproveitando as férias like a boss (o que nem tô, acreditem). E acho mesmo que engataram uma terceira no mundo. Estupro no BBB? Site do FBI fora do ar? Protestos pelo direito de piratear? Sério? Não tá dando mesmo pra acompanhar. Muito menos pra vir aqui contar, como se fosse a última novidade. Nada mais é novidade.

Descobri dia desses que parei de pensar. Foi uma descoberta meio chocante, visto que Descartes sempre me ensinou o contrário. Mas é isso mesmo. Eu tenho essa sensação permanente de estar perdendo tempo, então tento preencher todas as brechas disponíveis com filmes, séries, livros e podcasts. Aí fico parecendo uma máquina de consumir cultura, andando pela rua. O louco dos livros e dos fones de ouvido. E sempre atrasado. Sempre querendo engolir o mundo e conseguindo, no máximo, uma indigestão. E não sobra tempo pra pensar. Pensar na vida, planejar o futuro, analisar o passado. Nunca mais fiz. Não é à toa que as coisas estão como estão.

Não sei se é mal de jornalista, isso de querer estar sempre por dentro de tudo, mas é visível que não tenho dado conta. E que ninguém dá, na verdade. Nunca tivemos tanta informação disponível. E acompanhar é mesmo impossível. A sensação vai ser sempre a de luta perdida. Acho que os que nasceram dos anos 2000 pra cá sabem lidar melhor com isso. Eles já conheceram o mundo com a internet, então têm menos tendência ao desespero. A gente não. A gente está nitidamente precisando de um rivotril.

E às vezes acontece umas coisas como essa. De ter infinitos assuntos pra tratar no seu centésimo post no blog e não conseguir falar de nenhum, porque, simplesmente, está tudo rápido demais. E eu acabo me sentindo impotente diante de tanta gente com mais talento e discernimento. Fica uma sensação péssima de que foram 100 tentativas frustradas de expressar o que ninguém conseguiu realmente absorver. Porque estava todo mundo com pressa. Eu com pressa pra explicar, vocês com pressa pra entender, e essa comunicação forjada entre uma coisa e outra.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Como Fazer um Filmão


Steven Spielberg pode ser cafona e melodramático, mas sabe como ninguém fazer o povo chorar. Em Cavalo de Guerra (um dos dois filmes que ele lança esse ano e também sua aposta para o Oscar), o diretor conta uma história bonita e comovente, sobre a amizade de um garoto e seu cavalo de estimação. O filme é lindo e cumpre o prometido (faz o povo chorar), mas acaba se vendendo fácil às receitas do clássico. É um filme que não acrescenta em nada ao que já existe hoje no cinema americano.

Albert (Jeremy Irvine) é filho de um fazendeiro que está à beira da falência, mas, mesmo assim, acaba gastando o pouco que lhe resta com um potro quase selvagem e inútil. A esposa tenta persuadi-lo a devolver a compra, mas o filho, encantado com o animal, implora para que o deixem domá-lo. Logo surge entre os dois uma amizade genuína, cheia de cenas encantadoras de superação e lealdade. Mas Joey, como o cavalo passa a ser chamado, acaba tendo de ser vendido para militares ingleses e é levado a participar do que ficou conhecido como a primeira guerra mundial. Albert e Joey acabam separados por ela.


Com uma escolha interessante, Spielberg coloca o fio condutor da trama nas mãos (patas?) do cavalo e não do menino. Enquanto Joey passeia por campos de batalha e trincheiras, somos apresentados a diferentes histórias de gente que, assim como Albert, perdeu muito com a guerra. Todas muito bem amarradas pelo roteiro de Richard Curtis (Simplesmente Amor) e Lee Hall (Billy Eliot), que nos apresentam um grande panorama da primeira guerra e seus diferentes efeitos.

Tecnicamente, Cavalo de Guerra é impecável (embora seja também muito pouco inovador). A impressionante trilha sonora de John Williams (velho parceiro do diretor), associada à fotografia deslumbrante de Janusz Kaminski faz toda cena de ação parecer épica. Mas o resultado é um pouco genérico. Steven Spielberg parece acomodado e não ousa em momento algum para tentar sair do clichê. Ele, como ninguém, conhece as receitas, sabe o que dá certo e o que não dá, e usa o que sabe, sem inventar. Assim fica fácil fazer um filme bom.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Dos Testes Vocacionais


Hoje tivemos mais uma discussão aqui em casa. Tudo porque, durante o almoço, falei que estava indo ao cinema, assistir Cavalo de Guerra. Minha mãe achou um absurdo e começou a dar um super sermão sobre eu ter que controlar meus vícios, porque ontem eu já tinha ficado acordado até duas e meia da manhã vendo filme francês e que eu tô assistindo, em média, um filme por dia (o que pra ela é o cúmulo da perda de tempo), etc. Olha... Até respirei fundo e pensei se vale a pena mesmo explicar, porque não é possível. 20 anos na cara e até hoje nego não entendeu qual é a minha?

É claro que expliquei, né? Que cinema, pra mim, não é só entretenimento. E é claro que ela continuou sem entender. Porque a geração deles cresceu num mundo que ensinou o seguinte: trabalhar é aquilo que acontece em um escritório, ou numa construção, um numa plantação de cana. Cinema, televisão e internet são espaços de lazer. Não vamos misturar as coisas. Mas o que essa gente não sabe é que as coisas nunca estiveram tão misturadas. E não adianta mais ficar tentando separar.

Nossa geração (digo, o pessoal dos anos oitenta pra cá) não tá mais realizando essa coisa de funcionário público. Trabalhar não precisa ser um porre. Dá, sim, pra trabalhar com o que a gente gosta e, por incrível que pareça, os resultados são até melhores quando isso acontece. E eu quero trabalhar com filmes. BANG! (minha mãe pensando "onde errei?" neste momento). Quero escrever sobre filmes e, pra isso, eu preciso ter uma bagagem mínima. E preciso ver tanta coisa, tanto clássico, tanto filme indispensável, que assistir um por dia seria o ideal. Infelizmente, não é possível manter essa média depois que as férias terminam.

É claro que ir ao cinema ainda é uma das coisas que mais me dá prazer. Não vou ser hipócrita e dizer que só faço por obrigação. Não é isso. Mas o prazer não é tudo. Cinema, pra mim, além de ser a maravilhosa sensação de escolher uma poltrona na sala escura e esperar o começo dos trailers, é também o que eu quero fazer da vida. Não é como se eu quisesse ser prostituto. É?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Templo de Campinas

Estou de férias na casa dos meus pais, em Campinas, e hoje tinha planejado colocar meu Flickr em dia. Até recusei um passeio a uma cidade histórica aqui perto (o que deixou minha mãe ofendidíssima) só pra ter mais tempo livre. E mesmo assim não rolou (disciplina, cadê?).

Tenho fotografado bem menos, mas nem é falta de vontade. É falta de assunto. Olho pros lugares que frequento e parece tudo tão igual. As pessoas fotografáveis que convivem comigo já o fizeram de todos os ângulos possíveis. Não tem mais o que mostrar. Então quando saio de Brasília fico parecendo um louco com as novas possibilidades.

Ontem fomos passar o dia no templo mórmon de Campinas (pra quem não sabe, eu e minha família somos mórmons e a nossa religião, além das igrejas, tem esses edifícios maiores e bonitos espalhados pelo mundo, onde são feitas ordenanças sagradas e secretas). E é uma delícia sair depois de algumas horas lá dentro e encontrar esse jardim todo cheio de flores diferentes. Ok, foto de flor é brega, mas quem nunca?

O dia estava nublado e a arquitetura do templo faz ele parecer sempre torto (impossível enquadrar), então peço a compreensão de todos.











Se quiser saber mais alguma coisa sobre os templos mórmons, tem tudo explicadinho aqui.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O Herói É um Assassino


Terminei ontem a terceira temporada de Breaking Bad e acho que nunca fiquei tão empolgado com uma série. Se você ainda não viu nenhum episódio, saia daqui agora e vá fazer isso! Sério. Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta. A história do professor de química que tem câncer e resolve começar a produzir drogas para deixar algum dinheiro pra sua família é uma das melhores coisas que a televisão americana já fez. E o fim dessa terceira temporada ultrapassou todos os limites do absurdo. Foi espantoso!

Walter White (Bryan Cranston) é, de longe, o herói mais interessante da TV. Desde quando ele começou a produzir e vender metanfetamina com seu ex-aluno, Jesse Pinkman (Aaron Paul), eu sabia que essa história não ia dar certo. O cara tem uma família super careta e um cunhado que, vejam só, trabalha como agente da DEA (departamento de controle de drogas da polícia americana). Eu sempre soube que uma hora ou outra eles iriam cair. Mas olha... Nunca imaginei que fossem cair tão fundo.

*Spoiler pra quem ainda não viu a terceira temporada.


Na primeira e segunda temporada, tudo o que White precisou fazer foi mentir. Mentir para o filho, mentir para a esposa, mentir para o cunhado... Uma teia de mentiras. Uma maior que a outra. Uma mais absurda que a outra. Uma mais perigosa que a outra. E Jesse, o ex-aluno malandrão, sempre dava um jeito de fazer merda e ferrar com tudo. Então eles sempre estavam na iminência de serem pegos. Alguns episódios me faziam levantar do sofá, tamanha a agonia. A série sempre faz uma coisa que é chegar no limite. E quando já está no limite, de um jeito que não tem mais volta, ela vai ainda mais fundo. Só mais um pouco. E depois retorna, de forma majestosa.

Walter White não é um criminoso. Ele nunca mexeu com drogas ou bandidos, não sabe como essas coisas funcionam. É um cara de bem, honesto, ingênuo até, querendo juntar uma grana pra sua família. E a gente torce por ele. Toda uma audiência TORCENDO POR UM TRAFICANTE (parabéns, AMC)! Mas com o tempo essa ingenuidade some, Walter White é corrompido e aceita o fato de que não tem mais jeito. Ele é um criminoso, e agora precisa agir como tal.

A terceira temporada foi toda maravilhosa. No Orangotag, eu não conseguia dar menos de 4 estrelas pra um episódio. E a season finale foi tão incrível que eu acho muito difícil ser superada pela 4ª temporada (que começa a ser exibida hoje pela AXN). Pra continuar vivo e manter o seu mundo funcionando, Walter White obriga Jesse a matar um homem. E essa cena final, quando Jesse vai até a casa de Gale (David Costabile) para matá-lo me deixou completamente sem chão. Gale é um cara ótimo e inocente, mas que teve o azar de ser um químico divino. E eu fiquei com muita pena dos dois ali, se olhando e se entendendo... Foi comovente. Jesse com a plena consciência do que estava fazendo, Gale com a plena consciência de que iria morrer, e eu com a plena consciência de que até hoje nunca tinha visto nada tão bom.

PS: Dia 4 de dezembro esse blog completou 1 ano de vida e ninguém se deu conta disso. Pra comemorar, fui atrás da trilha sonora do melhor guilty pleasure dos anos 90.




Obrigado pela preferência e volte sempre.