quarta-feira, 27 de março de 2013

Introdução ao Pior Semestre de Nossas Vidas


Semestre passado peguei quatro matérias na UnB e lembro perfeitamente de cada uma das noites que passei em claro por causa delas, escrevendo ensaios, fazendo trabalhos e estudando pras provas do dia seguinte. É ridículo, porque quatro matérias é o mínimo. Qualquer um consegue. Eu só tinha aula depois das 10h, não tinha aula na sexta, não tinha aula à noite, e ainda assim cheguei a esse ponto de não ter tempo pra dormir. Fico me perguntando como. Então resolvi dar um jeito nessa situação doentia. E o que eu fiz dessa vez? Peguei só três matérias? Tranquei a faculdade? Tirei os próximos seis meses pra viajar pelas praias nordestinas? Não. Peguei sete. Isso mesmo: PEGUEI SETE MATÉRIAS. Peguei tudo o que eu podia. Preenchi cada segundo do meu dia com atividades exaustivas que certamente irão: a) me tirar desse redemoinho psicológico em que me meti ou b) me matar.

Porque eu consigo enxergar o problema muito bem, o que sempre some é a solução. Eu percebo quando passo horas tentando zerar o Feedly (sdds, Google Reader) sem entender o real propósito de tanta notícia mal escrita. Percebo o problema quando, no mesmo dia, vejo 5 episódios de séries diferentes, já que continuo atrasado com todas. Ou quando baixo o triplo de filmes que tenho a capacidade de ver. Ou quando passo dias pra terminar um capítulo de um livro que é só o primeiro de uma fila gigantesca de outras tantas leituras que muito provavelmente nunca farei.

É extremamente cansativa essa luta diária pra ficar em dia com as coisas que me importam. E mais cansativo ainda é perceber que essas coisas na verdade não importam pra mais ninguém. Meu maior medo é que um dia elas deixem de importar pra mim também. Porque aí sim... Não vai sobrar absolutamente nada.

Eu não vejo outra saída. Tudo o que consigo fazer é continuar assinando cada vez mais feeds, acompanhando cada vez mais séries, baixando cada vez mais filmes, comprando cada vez mais livros e, agora, pegando cada vez mais matérias.

Seja bem-vinda, vida acadêmica. Você acaba de entrar pro seleto grupo das coisas que amo e que estão sempre atrasadas.

terça-feira, 19 de março de 2013

No Country for Old Players


Quando a Fani foi eliminada ontem, Pedro Bial se deu ao trabalho de inventar toda uma parábola cansativa pra explicar que a veterana entendeu muito menos do jogo que o novato Nasser e por isso não conseguiu vencer. Que ela passou o programa inteiro lutando por uma verdade e que, sim, foi bastante verdadeira, mas e daí? Quem quer verdade? O povo quer é fantasia, Fani! E isso o Nasser sacou bem rápido. Ele é um personagem tão bem projetado que eu fico tentado a achar que merece o prêmio só pelo esforço. A saída da Fani me abalou. Era, talvez, minha BBB preferida desde o sétimo, quando mandou a melhor amiga calar a boca nesse barraco histórico.

Como se não bastasse a saída da Fani, no mesmo programa tivemos Nasser e Andressa colocando André e Fernanda no paredão sem a menor piedade. O mais assustador foi que Andressa poderia escolher entre Natália e Fernanda (teoricamente, sua melhor amiga até então) e escolheu Fernanda. Acho que nunca vi uma votação tão emocionante (gente, alguém me avisa se eu estiver exagerando, mas realmente tudo isso me desesperou): os votos em aberto, o empate entre Natália e Fernanda, o casal de cabeça baixa, chorando, prevendo o destino trágico do seu romance... Não lembro de uma edição ter terminado tão bem.


Pela enquete da UOL, Fernanda volta do paredão. E tô torcendo pra que isso eleve sua popularidade a ponto de ameaçar o favoritismo do Nasser. Ninguém precisa de um novo Rafinha, ninguém quer outro personagem. E a loira teve uma participação tão incrível que só um louco ignoraria tudo isso pra dar o prêmio pra um banana que só fez manipular, discutir a relação e simular brincadeiras sadomasoquistas com a namorada de fachada.

Fernanda sai desse BBB como uma participante do nível de Leka (a bulímica do BBB1), Solange (barraqueira do BBB4), Tina (louca da vassoura do BBB2) e até da própria Fani (vértice mais legal do triângulo amoroso do BBB7). Isso porque foi uma psicopata apaixonada que matou meio mundo de vergonha quando passou dias rastejando por um suposto príncipe, perdeu a dignidade em todas as festas, jogou água e cerveja na cara de todo mundo e justificou tudo isso argumentando daquele jeito afobado e lindo, com o implacável sotaque que só as moças de Belo Horizonte têm.

Não quero ser ingênuo, mas ainda acho que a Fernanda pode ganhar. Principalmente se ela for indicada pro último paredão antes da final com Natália ou Andressa. Mas calma. Todo mundo sabe que a gente não pode criar expectativas em nada que é decidido por votação popular. E não, eu não acho que o povo não sabe votar, que o povo não sabe escolher... Quem não sabe sou eu.

PS: Publiquei uma mixtape nova no 8tracks só com músicas pra te deixar looooooucaaaaa louquinha, rebolando com a bunda na cadeira do escritório.

sexta-feira, 15 de março de 2013

O Que Deu Para Fazer em Matéria de História de Horror


O livro novo da Elvira Vigna não é mais um exercício de masturbação intelectual como tem sido a nossa literatura contemporânea. E digo isso porque foi o que ouvi dizer. Eu mesmo não faço a menor ideia de como anda a nossa literatura. Imagino que não esteja tão boa quanto a da Elvira. Porque não pode estar. O Brasil explodiria com esse excesso de palavras bem colocadas e não gosto nem de pensar na trabalheira que daria recolher as letras depois.

O Que Deu Para Fazer em Matéria de História de Amor (e, antes de mais nada, por favor: que espécie de título maravilhoso é esse? Não consegui evitar de mostrar a capa do livro pra todos os meus amigos e falar um "olha o que eu tô lendo" com orgulho, porque o título, por si só, já indica certa marotice literária) é um romance narrado em primeira pessoa com uma história só, mas que na verdade são duas. E que na verdade são muitas. Mas que na verdade são a mesma. A protagonista é deliciosa (porque só alguém delicioso teria insights tão bons sobre o número de fileiras em cada espiga de milho e como os jogos de pôquer são terrivelmente sanguinários) e, partindo dela, e da visão dela, todo o resto fica igualmente apetitoso.

A leitura não cansa. Primeiro porque beira a oralidade sem abrir mão da erudição (isto é: sensual sem ser vulgar) e segundo porque a trama propriamente dita, a novelinha mesmo... que a gente gosta de acompanhar, é muito bem construída, amarrada e resolvida. E vai tomando uma proporção mágica nas páginas finais. Fica aberta a interpretações daquele jeito que qualquer pessoa de razoável sensibilidade artística ama. Pra gente poder brincar com as peças, revirar as evidências e fazer castelinhos.

Já o amor do título parece nunca se fazer presente. Se essa é uma história de amor, desculpa, mas eu não sei o que diabos é isso. É o que pensamos. Que essa é uma história de vingança (o que de fato é). Mas, a cada página, os personagens vão se despindo diante dos nossos olhos. É interessantíssimo descobrir os segredos de Roger, Arno e Rose... E ir entendendo o porquê de toda aquela situação desagradável. E a gente vai unindo esses pedacinho de nudez até formar um retrato completo. Agora eles estão completamente pelados, nus, entregues e vulneráveis. Quer maior prova de amor?

"Com o canto do olho apreendo outra vez a sombra que passa na torrinha da Biblioteca Nacional. Tenho um pensamento desses de fim de história, e que acabam (no sentido de destruir) com qualquer história, e que é o seguinte:

A Biblioteca, cheia de histórias em seu interior, tem histórias melhores no seu exterior. Porque a vida está sempre no exterior.

Agora é dar um suspiro profundo, significativo. E fim. Colo um adesivo cor-de-rosa em mim mesma e penso que já posso levantar, acabar com o que mal comecei, e que é isto aqui, e, quem sabe, tentar fazer alguma coisa de útil na minha vida.

Ou posso ver se cato homem."

terça-feira, 12 de março de 2013

Estado Civil: Autônomo


Tanto na vida afetiva quanto na profissional, sofro por excesso de medo. Não tenho o menor espírito empreendedor (para desgosto do meu pai, que já abriu mais de 10 empresas, sempre está envolvido em projetos independentes e me deu um exemplar de Pai Rico, Pai Pobre quando eu tinha 15 anos). Na verdade eu tenho repulsa. É preciso reconhecer quando você tem a vocação e, por mais triste que isso seja, quando você nasceu pra ser só um empregadinho.

Eu tenho tanto medo de arriscar, de ficar sem dinheiro, de perder o caminho de volta pra casa, de viver um amor não correspondido, que acabo fugindo de qualquer responsabilidade. Dou umas aulas particulares (que é um trabalho sem chefe, que eu domino e que rende um bom dinheiro), vivo uns romances com significado indefinido e assim vou me protegendo ao mesmo tempo de uma demissão e de um coração partido.

Essa semana fiz uma espécie de entrevista de emprego. Nunca tinha feito. E achei muito engraçado todo esse lance de RH, trabalho com hora marcada, carteira assinada, férias, direitos trabalhistas, Getúlio Vargas... E também achei assustador eu ter chegado a esse ponto. Porque é como se a vida estivesse me empurrando pra frente (obrigado, vida) e eu tentando voltar atrás, desesperado, esperando a hora em que alguém vai descobrir que, na verdade, ainda sou uma criança de 12 anos.

Hoje me peguei torcendo pra essa entrevista não dar em nada. Por puro medo. Porque ter a carteira assinada é quase tão perigoso quanto se apaixonar. Tenho medo de abandonar meus alunos particulares, me envolver no emprego, me acostumar com o décimo terceiro, e acabar demitido sem maiores explicações. O único consolo seria o seguro desemprego (e pra esse, desculpa vida afetiva, mas não encontrei nenhum correspondente).