O livro novo da Elvira Vigna não é mais um exercício de masturbação intelectual como tem sido a nossa literatura contemporânea. E digo isso porque foi o que ouvi dizer. Eu mesmo não faço a menor ideia de como anda a nossa literatura. Imagino que não esteja tão boa quanto a da Elvira. Porque não pode estar. O Brasil explodiria com esse excesso de palavras bem colocadas e não gosto nem de pensar na trabalheira que daria recolher as letras depois.
O Que Deu Para Fazer em Matéria de História de Amor (e, antes de mais nada, por favor: que espécie de título maravilhoso é esse? Não consegui evitar de mostrar a capa do livro pra todos os meus amigos e falar um "olha o que eu tô lendo" com orgulho, porque o título, por si só, já indica certa marotice literária) é um romance narrado em primeira pessoa com uma história só, mas que na verdade são duas. E que na verdade são muitas. Mas que na verdade são a mesma. A protagonista é deliciosa (porque só alguém delicioso teria insights tão bons sobre o número de fileiras em cada espiga de milho e como os jogos de pôquer são terrivelmente sanguinários) e, partindo dela, e da visão dela, todo o resto fica igualmente apetitoso.
A leitura não cansa. Primeiro porque beira a oralidade sem abrir mão da erudição (isto é: sensual sem ser vulgar) e segundo porque a trama propriamente dita, a novelinha mesmo... que a gente gosta de acompanhar, é muito bem construída, amarrada e resolvida. E vai tomando uma proporção mágica nas páginas finais. Fica aberta a interpretações daquele jeito que qualquer pessoa de razoável sensibilidade artística ama. Pra gente poder brincar com as peças, revirar as evidências e fazer castelinhos.
Já o amor do título parece nunca se fazer presente. Se essa é uma história de amor, desculpa, mas eu não sei o que diabos é isso. É o que pensamos. Que essa é uma história de vingança (o que de fato é). Mas, a cada página, os personagens vão se despindo diante dos nossos olhos. É interessantíssimo descobrir os segredos de Roger, Arno e Rose... E ir entendendo o porquê de toda aquela situação desagradável. E a gente vai unindo esses pedacinho de nudez até formar um retrato completo. Agora eles estão completamente pelados, nus, entregues e vulneráveis. Quer maior prova de amor?
"Com o canto do olho apreendo outra vez a sombra que passa na torrinha da Biblioteca Nacional. Tenho um pensamento desses de fim de história, e que acabam (no sentido de destruir) com qualquer história, e que é o seguinte:
A Biblioteca, cheia de histórias em seu interior, tem histórias melhores no seu exterior. Porque a vida está sempre no exterior.
Agora é dar um suspiro profundo, significativo. E fim. Colo um adesivo cor-de-rosa em mim mesma e penso que já posso levantar, acabar com o que mal comecei, e que é isto aqui, e, quem sabe, tentar fazer alguma coisa de útil na minha vida.
Ou posso ver se cato homem."
2 comentários:
Que. Texto. Maravilhoso. Nossa, tô com muita INVEJA. Não vou nem comentar o que achei pra você não ficar se sentindo.
Por favor, quero saber.
Postar um comentário