quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Bananas Não Flutuam


Sempre houve esse fascínio pelas fábulas, pelas grandes histórias que tentam explicar nossas vidas pequenas. Eu, particularmente, cresci preferindo ouvir histórias a realmente vivê-las. Talvez por já saber desde cedo que, por mais fantásticas que fossem, nossas experiências pessoais jamais chegariam aos pés da ficção. A realidade é triste, suja, não tem muita graça ou propósito. E, talvez por isso, sempre houve também essa busca desesperada pela fé, esse desejo de se sentir parte de algo maior e mais lógico, essa procura por alguma coisa que justifique o esforço que é sair da cama toda manhã. As Aventuras de Pi, o filme novo do Ang Lee, é uma fábula e é também uma reflexão poderosa sobre a fé, o que ela representa e o que ela pode fazer pela nossa realidade medíocre.

Não quero falar muito sobre a trama, porque entrei no cinema sem saber do que o filme tratava e isso foi fundamental pra minha experiência. Basta dizer que Piscine Molitor Patel (o Pi do título) é um garoto indiano que sobreviveu a um naufrágio e que viveu uma história incrível demais pra ser real. E, ao final, são oferecidas duas versões dessa história: uma mágica, cheia de surpresas e beleza e a outra triste, solitária e violenta.


O longa é cheio de simbolismos e referências bíblicas (de cabeça, consigo lembrar de A Arca de Noé, Jonas e a Baleia, a multiplicação dos peixes e Adão e Eva) e, ao contrário do que pode parecer, não é um filme religioso. É, inclusive, um dos filmes mais céticos que já vi, porque coloca Deus como uma opção e não uma verdade absoluta. A fábula e a fé aparecem como uma coisa só, já que as duas têm a mesma função.

Fica óbvia a relação da religião com a própria arte de contar histórias. Porque um escritor é também um deus do seu universo ficcional. E ler um livro, ou ver um filme, é também um ato de fé. É preciso acreditar pra que a história funcione. Como se não bastasse tudo isso, o filme ainda entrega em seu ato final uma belíssima meditação sobre a morte. Porque, infelizmente, a morte não é uma viagem com data marcada e quase nunca temos a oportunidade de dizer adeus.


"I still cannot understand how he could abandon me so unceremoniously, without any sort of goodbye, without looking back even once. That pain is like an axe that chops at my heart."