quinta-feira, 24 de maio de 2012

Habemus Papam


Quando um Papa morre, os cardeais se reunem em uma sala secreta no Vaticano e realizam uma votação para que o novo líder da Igreja Católica seja escolhido. Pelo que entendi, o novo Papa só é eleito se atingir uma porcentagem dos votos, então se a eleição for bem equilibrada, ela é anulada e refeita, até que todos entrem em um consenso (ou até que o Espírito Santo ilumine suas mentes) a apenas um homem receba a maior parte dos votos. Esse homem, a partir de então, recebe sua roupa especial e passa a assumir a responsabilidade de guiar e abençoar milhares de fiéis ao redor do mundo. Dessa vez Melville foi o eleito, mas na hora de se apresentar à multidão de fieis que aguardava o resultado da votação, ele travou, entrou em pânico e pediu por ajuda. Habemus Papam (filme italiano selecionado para o Festival de Cannes do ano passado e que, milagrosamente, resiste em cartaz em Brasília), conta exatamente essa história. Um Papa recém-eleito não quer assumir o cargo. E agora?

A situação hipotética é absurda, inusitada e poderia gerar um filme extremamente polêmico e cheio de alfinetadas à Igreja Católica, mas o diretor e roteirista Nanni Moretti foge dessa solução fácil e prefere mostrar a história de um homem que, assim como muitos de nós, sente-se inadequado à posição que ocupa. A certa altura do filme, Melville é encaminhado para uma terapeuta que, para facilitar o tratamento, não conhece sua verdadeira identidade. Na primeira consulta a psicóloga pergunta: "qual o seu trabalho, o que você é?". Ao que o Papa responde "sou ator".

Nunca pensei que algum dia eu pudesse me identificar com vossa santidade. E que eu pudesse entender perfeitamente o peso que aquele homem sentia e o tipo de pensamento que pode ter passado pela sua cabeça para que ele não conseguisse dar um passo a frente. O tipo de emboscada que, às vezes, nos assalta em pleno Vaticano, onde tudo parece perfeitamente santo. E poucas vezes senti tanta pena de alguém. Porque a gente até sabe o que é lidar com as expectativas de meia dúzia de parentes e amigos, mas não faz ideia do que significa decepcionar toda uma multidão.

Não curto filme com temática religiosa, não sou católico e não faço ideia se as coisas no Vaticano funcionam desse jeito, mas sei que é muito provável que em algum momento da história da Igreja Católica alguém tenha se sentido como Melville. Alguns conseguem pedir ajuda, outros continuam atuando pelo resto da vida.

3 comentários:

Anônimo disse...

Por curiosidade... Qual é a sua religião?

Natália das Luzes disse...

caramba! achei realmente legal a história desse filme. nunca pensei que algum dia, alguma vez, algum recém papa titubeasse. mas, realmente, a pressão deve ser gigantesca.
- ainda bem eu não sou papa x)

Gabriel Leite disse...

Anônimo:
Sou mórmon.