quarta-feira, 13 de junho de 2012

Memórias Póstumas de Brás de Oliva Domingos


Não sei ler quadrinhos. Quando abro uma página meus olhos são automaticamente sugados pelas letras e as imagens assumem um caráter meramente ilustrativo. Fica parecendo livro infantil, não levo a sério, etc. Até hoje só tinha dado certo com Calvin e Haroldo. Mas também, temos um garoto de seis anos (visivelmente esquizofrênico e perturbado) e seu tigre de pelúcia. Não tem como isso dar errado. Aí comprei minha primeira graphic novel (nome fresco pra história em quadrinhos de gente grande) por indicação de dois amigos com o gosto confiável.

Continuo achando a leitura desconfortável e preferindo apenas letras ou apenas desenhos, mas não posso deixar de reconhecer o mérito de Daytripper. Os quadrinhos são de dois irmãos gêmeos, os brasileiros Gabriel Bá e Fábio Moon, e foram lançados primeiro no exterior e depois traduzidos para o português. Fala sobre a vida de um romancista que trabalha como escritor de obituários pra um jornal da cidade. Não dá pra falar muito sobre a trama, porque a estrutura é particularmente sensível a spoilers, mas não espere uma narrativa das mais clássicas. O livro brinca com você desde o primeiro capítulo e fica clara a intenção de te fazer abrir a guarda e permitir que a obra ultrapasse as barreiras físicas.


Boa parte do encanto de Daytripper se deve a exuberância visual dos traços de Fábio Moon e Gabriel Bá. Cada página é construída com a mesma paleta de cores, pra tornar a leitura ainda mais sensorial e o desenho é levemente despojado, mas sem deixar os detalhes de lado. Tem sempre uma xícara de café, uma fumaça de cigarro ou um porta-retratos pra tornar o cenário crível e nos aproximar do protagonista.

Por tratar de temas muito grandiosos: como amor, vida e morte (Severina), Daytripper às vezes não consegue evitar a cafonice. Alguns trechos parecem tirados de livros de autoajuda, o que, felizmente, não compromete o enredo. Esse se mantém coerente e interessante até a última página (belíssima, por sinal). Terminei de ler satisfeito por ter vencido esse preconceito bobo e conseguido curtir um livro com mais de 200 páginas de quadrinhos e balões. Acho que até ensaiei umas lágrimas no capítulo final.

4 comentários:

Anônimo disse...

pena que o preço é bem salgado para um gibi

Anna Vitória disse...

Me identifiquei tanto com esse problema pra levar quadrinhos a sério! Acho muito, muito legal, mas nunca consigo pegar pra ler. Daytripper, por exemplo, que tenho ouvido falar direto, sempre muito bem, morro de curiosidade, mas fico pensando se é o caso comprar.
Numa promoção do Submarino comprei uma do Joe Sacco e pretendo me aventurar nas férias, quem sabe, né?
ÓTima resenha :)

Thiago Dantas disse...

Comprei esse há um tempo depois que Renato falou a respeito. É o próximo depois do que estou a ler. Aproveitando que você tá nessas de descobrir o mundo mágico das HQs, tenta procurar Retalhos. É uma biografia. E, talvez, o livro mais bonito do mundo. Acho que tem umas 500 páginas. Vish.

Anônimo disse...

Eu adorei o nome do blog, e gosto das suas ideias (= mas eu queria entender mais essa "aversão" a imagens, ficou meio vago pra mim... e a proposito to viciado na Ingrid Michaelson e a culpa é sua! :SSS