domingo, 1 de julho de 2012

O Manoel Carlos do Mundo


Fui conferir ontem o novo filme do Woody Allen. Saí de casa logo depois do almoço e peguei um ônibus pro Cine Cultura, no Liberty Mall, onde a primeira sessão estava marcada pras 14h. Cheguei e dei de cara com o aviso de que as cópias de Para Roma, com Amor não haviam chegado a tempo (parece que o avião que trazia as películas sofreu um atraso) e o filme só seria exibido na semana seguinte. Indignado, tive que engolir o choro e ir pro outro lado da cidade, onde a única sessão disponível era numa sala VIP. O ingresso custava assustadores 44 reais e se servia pipoca com azeite de oliva. Só não fiquei mais revoltado porque a poltrona é realmente maravilhosa e o filme, na falta de outro adjetivo, um pitéu.

Confesso que ainda prefiro o Woody Allen de New York e que tenho certa preguiça de cidades históricas como Roma, mas entendo que ele faz isso por dinheiro e nunca subestimo sua capacidade de transformar um projeto de incentivo ao turismo em pequenas obras de arte (como ele fez com Vicky Cristina Barcelona e Meia-Noite em Paris, por exemplo). Dessa vez a capital italiana é o palco de quatro histórias de amor completamente independentes, costuradas pela inútil observação de um guarda de trânsito.


Costumo dizer que Woody Allen é o Manoel Carlos do mundo (ou que o Manoel Carlos é o Woody Allen do Brasil, dependendo da importância que você dá pra cada um deles). Porque ambos criam essa atmosfera lânguida de cenários encantadores e personagens quase etéreos que passeiam por restaurantes charmosos e hotéis refinados, conversando, mentindo e cometendo adultério. Em Para Roma com Amor é tudo tão classudo que você acaba nem ligando pra algumas obviedades como a história da celebridade instantânea (Roberto Benigni) ou da prostituta que precisa fingir que é uma esposa recatada (Penélope Cruz).

Os pontos altos do filme são a atuação do próprio Woody Allen (que, felizmente, continua hilário) e o triângulo amoroso envolvendo um estudante de arquitetura (Jesse Eisenberg), sua namorada (Greta Gerwig) e a melhor amiga da sua namorada (Ellen Page). Nesta última, o diretor aposta no realismo fantástico, onde situações completamente plausíveis e verossímeis são intercaladas com absurdos obviamente improváveis. E ele faz isso de forma natural, sem causar estranhamento ou perder a credibilidade.

Para Roma, com Amor não é um dos grandes filmes de Woody Allen, mas é preciso lembrar que estamos falando de um cara que faz um filme por ano e que, ao contrário dos seus colegas, mantém um invejável padrão de trabalhos bons, ótimos ou excelentes. Ainda assim, essa é uma viagem que vale a pena. Esteja certo de que você vai se divertir com um filme leve e agradável, que não subestima sua inteligência, e, se tiver sorte, ainda pode fazer tudo isso enquanto come uma pipoca com azeite.

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