quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Estejam Online


A carência fica bem mais evidente na madrugada, porque rola um desespero, né? Quatro da manhã e as chances de encontrar alguém interessante online são mínimas. O coração acelera só de pensar na possibilidade de um vácuo infinito que duraria até o dia seguinte, quando as pessoas aos poucos acordariam e (sem muita paciência) ouviriam minhas mazelas. E quase nunca há o que dizer. É só a necessidade de ser ouvido, de perceber algum tipo de comunicação e sentir que você não é o único no mundo.

Durante muito tempo pensei em morar sozinho como um ideal de futuro perfeito. Sempre me achei muito pouco carente de companhia. As coisas que mais me agradam são, em sua maioria, entretenimentos solitários. E minha maior preocupação era ter um bom livro à disposição no criado mudo. Não sei mesmo quando foi que comecei com essa necessidade de comentar o tal livro com alguém. E de marcar o filme como visto no Filmow, o episódio como assistido no Orangotag... E trocar as experiências. Nem sei se faço isso pela troca mesmo, ou pelo desejo infantil e canalha de ser ouvido.

A internet fez uma coisa péssima: facilitou a interação. Facilitou de tal forma que a gente nem sabe se aquilo pode ser considerado interação. Assim fica impossível levar a sério as amizades. Ninguém está realmente fazendo alguma coisa pelo contato. Basta permanecer, trocar um ou dois emoticons e ir dormir se sentindo popular como nunca. Mas não queria entrar nessa da guerra de egos, da vaidade louca... Não. Só queria pesquisar um pouco o que tem motivado meus surtos de carência online.

Porque pior que ser carente só mesmo ter noção desse estado. E quanto mais tento me controlar, guardar as fotos e calar a boca, mais tweets desnecessários, publicações vergonhosas e posts como este.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Transtornos Afetivos

Quando dei por mim, tava pesquisando sobre transtornos afetivos e me encaixando em todos os perfis. Tô com esse novo vício de estudar quadros patológicos da psicanálise como se fossem signos. E ir descobrindo que não só minha família, mas também meus amigos e toda a humanidade são bem doentes.

Arrumaram pra mim os telefones de uns psicanalistas com boa fama. Dizem até que o plano cobre.

Talvez eu marque uma consulta.

Não sei por onde começar.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Problemas com o Miocárdio


Nada pode ser mais prejudicial à arte que viver. Eu tenho tido particular dificuldade em encontrar ânimo pra ficção e pra toda a concentração e apreciação que ela exige. Porque tudo começou a parecer bastante ridículo agora. A gente vai ganhando certa noção do absurdo que é trabalhar por horas numa história que não tem a menor razão de ser e começa a se questionar se seria realmente válido trazer isso ao mundo. É como ter filhos. Ninguém sente falta deles enquanto não existem. E até quando existem, às vezes, pensamos se não teria sido melhor deixá-los onde estavam.


E eu tô cada vez mais relapso com os contos e com esse futuro provável romance que tenho guardado na cabeça e nuns papéis espalhados pelo criado mudo. Lirismo passou longe. Nunca estive tão entregue ao cinismo dos novos tempos e não sei o que fazer pra recuperar a sensibilidade. A ansiedade tá pulsando e destruindo toda e qualquer inspiração. Ninguém mais tem tempo pra pagar de Shakespeare.


Escrever no blog é um pouco mais fácil. Primeiro porque existe audiência (ridícula, mínima, mas ainda assim uma audiência) e segundo porque isso aqui é meu templo de autoafirmação. É fundamental ter um lugar pra escrever três ou quatro parágrafos por semana dizendo coisas que te identificam como a pessoa que você quer ser. Ou a pessoa que você gostaria que os outros pensassem que você é. É um jeito de economizar com, sei lá, psicólogo? Namorada? Drogas?


Posso dizer que hoje começo a entender os babacas da escola. Aqueles meninos que, minha nossa, preferiam jogar bola ou beijar meninas no recreio em vez de ir pra biblioteca ler Nelson Rodrigues. E como era divertido passar por eles com o livro debaixo do braço e uma sensação absurda de superioridade. Mas eles só estavam num outro nível. Não inferior, nem superior, mas diferente. Um nível onde as emoções são mais orgânicas e o palpitar no coração vem direto do toque, do suor, da saliva... E pra alguém que durante muito tempo só sentiu o coração bater mais forte por causa dos livros e filmes, esse novo estilo de vida tem sido um grande catalisador de infartos.