quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Autoestima Baixíssima, Ego Gigante


Ruby Sparks, o filme novo dos diretores de Pequena Miss Sunshine, poderia ser só mais uma dessas obras com pretensão metalinguística, roupagem indie e final previsível, o que de fato é; mas também é um filme adorável, com um Paul Dano afetado, uma trilha sonora deliciosa e um roteiro, no mínimo, interessante. Na história, Calvin é um jovem escritor de sucesso que, em bloqueio criativo, começa a fazer um trabalho de redação a pedido do seu terapeuta, onde precisa criar uma garota que goste do seu cachorro de estimação apesar da sua fobia social e seu hábito de mijar como uma fêmea. Mas as coisas fogem um pouco do controle e Ruby Sparks, essa menina idealizada, interessante e carismática, de uma hora pra outra cria vida e passa a morar com Calvin.

O absurdo da situação é explorado ao máximo quando Calvin descobre que pode fazer de Ruby o que quiser. Basta escrever que ela está feliz, por exemplo, pra que ela passe os dias seguintes rindo pras paredes. Se ele quer que ela sinta sua falta, é só datilografar e Ruby vira uma namorada grudenta e possessiva. Exatamente como qualquer escritor. E então o filme entra numa intrigante discussão sobre os limites éticos de se relacionar com alguém que você pode manipular e o que isso significa pro seu ego.


Em uma cena específica, a ex-namorada de Calvin diz que ele não consegue se relacionar com ninguém além de si próprio. E lá está Calvin pra provar o contrário: namorando uma criação da sua mente. Uma mulher que é exatamente como ele quer e faz exatamente o que ele escreve. Toda essa masturbação criativa é tão triste que só me fez lembrar da Hannah, protagonista de Girls. Ela também é escritora e, como bem descreveu uma amiga minha, sofre de autoestima baixíssima e ego gigante. Uma combinação tão corrosiva que, por si só, transformou toda uma geração cheia de potencial nesse monte de gente que fica sofrendo no Twitter às duas da madrugada.

Porque somos geniais, não há dúvidas. O problema é que também precisamos de alguém gritando isso o tempo todo.

Só pra confirmar.

Um comentário:

Renata disse...

Acabei de ver Ruby Sparks, por sua causa, é. Queria ler esse seu post sem correr o risco de ler algo que não devesse. E olha, gostei muito.

Parece que todo o filme leva a aumentar minha vontade ler Apanhador No Campo de Centeio.

Para mim, uma das melhores quotes do filme todo foi:

- Everyone will think I’m crazy.
- No. They’ll think it’s fiction.

E logo em seguida eu pensei: quantas coisas já achei que era ficção sendo verdade?Muitas. Muitas.