segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Carta de Ódio


E quando a gente achou que já tinha superado a HBO, vem esse Emmy absurdo, dando o prêmio de melhor série dramática pra Game of Thrones no ano em que Mad Men chegou ao fim. Não tenho nada contra Game of Thrones, muito pelo contrário, mas não consigo aceitar que Mad Men perca um único prêmio sequer; imagina na sua temporada final? Principalmente depois de se manter impecável, linda e profunda por seis ou cinco longos anos.

Quando a Netflix começou a aparecer com House of Cards e Orange is the New Black, muita gente achou que vinha aí uma nova HBO: superproduções caprichadas, elencos afiados, realismo, muito sexo e violência... e, por uma questão de comodismo, é bem provável que ainda venha mesmo (o mundo está cada vez mais preguiçoso, acho que quem entender isso primeiro fica mais rico. Ninguém quer realizar qualquer tipo de esforço pra ver séries, nem esperar uma semana pelo próximo episódio, a paciência acabou).

Apesar disso, são décadas fazendo boa televisão e muito dinheiro envolvido. É um monopólio que não desaparece fácil. Ontem a minissérie que ninguém viu, Olive Kitteridge, também da HBO, passou o rodo. Game of Thrones fez o mesmo. Deixou um espacinho para Jon Hamm ser maravilhoso como melhor ator de drama, subir no palco e nos lembrar aquela trajetória em queda-livre.

Mad Men trouxe algo de literário pra televisão americana. É o tipo de série que você precisa assistir bastante antes de falar qualquer coisa. É um livro grande onde tudo se transforma, ao mesmo tempo em que tudo permanece igual. Parece a vida.

A culpa é dos roteiristas, em primeiro lugar, do elenco, em segundo, e da parte técnica em terceiro. Todos impecáveis. Enquanto eu acompanhava uma temporada de Mad Men, era comum passar o dia ouvindo Nancy Sinatra; era difícil não beber o dobro ou fumar o triplo. Era comum parar no meio de um ônibus, ou entre duas atividades boçais, e me pegar pensando na Peggy, no Pete, na Betty, no Don... Era difícil lembrar que aquilo tudo era só uma série. Não precisava se angustiar pela vida deles, nem fumar o triplo, nem escrever um texto inteiro só pra falar que devia ter ganhado o Emmy.

3 comentários:

Mik disse...

A gente acompanha essas premiações pensando na qualidade dos candidatos, mas os jurados não pensam bem assim. Eles não pararam pra avaliar Mad Men da maneira que você fez, e sim pararam e pensaram "Mad Men já tem quatro prêmios Emmy, será que devemos dar mais um?". Pior, se Mad Men vencesse seu quinto Emmy se tornaria a série recordista, superando The West Wing que também tem esse número de estatuetas. Aí lá vão eles e pensam "daremos esse recorde para essa série?".

Quando finalmente decidem que não darão essa graça à Mad Men, eles começam a avaliar, então, qual deveria ser aquela a sair premiada. Provavelmente pensaram que Game of Thrones vem concorrendo há anos, que é uma série fantástica, que sua popularidade não cai ano após ano. Decidem premia-la, sem levar muito em consideração se, realmente, a quinta temporada merecia. E olha que esse ano eles foram obrigados a assistir a seis episódios de cada temporada, não dois como era até o ano passado.

Mas é a vida, o Oscar não trabalha de maneira diferente. Uma coisa que uma estatueta a mais ou a menos jamais vai tirar é a importância de Mad Men na televisão americana. Série que vai ser infinitamente citada em qualquer listinha de "melhores séries de todos os tempos" e sempre terá telespectadores novos pra visitar aqueles personagens tão problemáticos numa história tão decadentemente charmosa.

Jéssica Trabuco disse...

Nunca assisti Mad Men, mas confesso que seu interesse aguçou o meu. Adoro séries, adoro Netflix e adoro a Hbo - sou fã de Game of Thrones.

Fernanda Stalder disse...

Ninguém pode resistir a leitura A Song of Ice and Fire e não ver a série haha embora mais tarde estamos chateados com os produtores para mudar duas coisas tem que ver como concluir esta temporada: http://www.hbomax.tv/game-of-thrones-6/ Não diria que é a melhor série na história, mas é uma pena que você não gosta.