segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Coisa de Pele


Era pra eu ter escrito sobre A Pele que Habito, novo longa de Pedro Almodóvar, na semana passada, mas alguma coisa me fez perder a hora.

Sou entusiasta desses diretores autorais com estilão marcante: Woody Allen, Tarantino, Scorsese, Tim Burton, Sofia Coppola, Christopher Nolan, Jason Reitman... Todos eles acabaram se tornando mais importantes que suas obras. O nome vem acompanhado de pompa e boa dose de expectativa. E não sei até que ponto essa mania de grife cinematográfica pode prejudicar a boa avaliação de uma fita.  No caso de A Pele que Habito, posso garantir que fiz um esforço pra não achar genial de cara.

É talvez a história mais bizarra que o diretor espanhol já se propôs a contar. Roberto Ledgard (Antonio Banderas) é um cirurgião plástico que vive assombrado por duas tragédias pessoais: o estupro sofrido por sua filha e o acidente que culminou na carbonização do corpo de sua mulher. Essa última é a principal motivação dos projetos recentes do Dr. Ledgard. Ele vem trabalhando no desenvolvimento de uma super-pele, imune a queimaduras e picadas de insetos, por exemplo, e pra isso, usa uma misteriosa cobaia, mantida trancafiada em sua própria casa.


No começo tudo parece estranhamente confuso e a narrativa não linear não ajuda muito a esclarecer as coisas. Mas é justamente esse o maior trunfo do roteiro de Almodóvar. Ele sabe como ninguém a hora certa de soltar cada informação. Até que, de repente, a confusão vira espanto. Muito espanto. E a partir daí, é melhor calar meus dedos pra não estragar a surpresa.

Dizem que A Pele que Habito é a coisa mais diferente que o diretor já fez, mas todas as suas marcas estão lá: as longas cenas de valor estético, a metalinguagem, o dramalhão romântico e a queda pelo ridículo. Tudo muito bem orquestrado, como já era de se esperar. E já deixando de lado a tentativa de desvincular a criatura do criador, podemos dizer que A Pele que Habito é mais um acerto de Almodóvar. Mais um acerto de alguém que, ultimamente, tem errado muito pouco.

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