terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Santa Tainá, Padroeira dos Esquecidos

Nesse fim de semana teve o vestibular da UnB, que é de uma fase só, mas com dois dias de prova: sábado e domingo. O primeiro dia é sempre mais tranquilo pra mim. Adoro os temas da prova de humanas, consigo curtir os textos e quase sempre faço redações razoáveis. O bicho pega mesmo no domingo, dia dos números. Nesse domingo, em particular, o bicho pegou de tal forma que fica até difícil descrever. Mas vou tentar.

Eu já estava atrasado (não sei por que, mas SEMPRE ESTOU ATRASADO) quando cheguei ao local de prova. O que foi até bom, porque não tem nada pior que chegar pro vestibular e ser obrigado a ficar 30 minutos em pé, no sol, conversando com gente que estava na sexta série quando você se formou. Como bom portador de TOC, eu carregava comigo minha carteira, uma garrafinha d'água, duas canetas, pro caso de uma falhar, um biscoito, guarda-chuva, chocolate, aspirina, pé de coelho, trevo de quatro folhas, etc. Sempre tive pânico das coisas darem errado (e elas sempre dão, vai vendo...).

Encontrei minha sala, que era a mesma do primeiro dia, e fui tirar minha identificação pra mostrar pro fiscal. Eis que ela não estava lá! BANG! Comecei a procurar em todos os bolsos e repartições da carteira freneticamente e nada... E gente, eu não tinha outra solução. Estava tudo perdido! Bateu o desespero e cheguei pro fiscal: "Moço, perdi minha carteira de motorista aqui ontem, quando vim fazer a prova. [Mentira. Eu não fazia a menor ideia de onde tinha perdido] Mas trouxe todos os meus outros documentos pra mostrar... [Eu, tirando da carteira tudo o que era papel insignificante, cartão de banco, carteirinha de estudante, ingresso de cinema, e jogando na mesa do fiscal. Ele chocado com meu desespero]. "Mas cê não trouxe uma carteira de trabalho ou passaporte?". "Não... Só meu cartão da Blockbuster mesmo, serve?".

Não serviu.

Dois outros fiscais que estavam no corredor me levaram pra sala da coordenação. Eu já naquelas de querer chorar. Lembrando que faltavam SEGUNDOS pro portão fechar. Cheguei lá e expliquei tudo pro chefão. E ele disse que não podia fazer nada. "Mas moço, eu fiz a prova ontem. O senhor não lembra de mim?". Hahahaha. 500 estudantes, Gabriel. Você é sensacional! E o coordenador só na cara de misericórdia. Nessa hora eu já tinha perdido todo e qualquer traço de dignidade: "Por favor, me deixa fazer a prova! Por favor...". E ele apenas balançando a cabeça e dizendo: "Desculpa, mas essas coisas acontecem...".

Saí da sala da coordenação desconsolado. Já estava pensando na melhor forma de contar pra minha mãe que eu tinha perdido a prova, quando a fiscal que me acompanhava, também conhecida como Fiscal Mais Gente Boa do Mundo, vira e diz bem baixinho: "Liga pra alguém da sua casa, mandar trazer um documento, dá o meu número e pede pra me ligar quando estiver chegando. Eu coloco você pra dentro e você vai fazendo a prova enquanto isso". Gente! Tive vontade de pedir a fiscal em casamento. Liguei pra minha irmã que não entendeu nada, dei o número da Tainá, a fiscal, e falei pra vir o mais rápido possível. Tainá chegou no meu chefe de sala e, com toda a segurança do mundo, ordenou: "Pode entregar a prova pra ele, que estão trazendo o documento". "Você falou com o coordenador?". "Falei". Entrei com as pernas bambas, recebi a prova e comecei a fazer. 20 minutos depois minha identidade chegou.

A prova estava impossível! Despencou logaritmo, função, botânica, nitrato de amônia e mais um monte de coisa que não é humano saber. Mas eu até tenho esperanças de passar. Sei lá... Acho que nada pode ser mais difícil que encontrar uma fiscal disposta a burlar as regras do vestibular pra ajudar um estranho que esqueceu a identidade.

Mais tarde mandei um SMS.

8 comentários:

Anônimo disse...

Só consegui pensar uma coisa depois que li esse texto; "Gente, ele(você) é extraordinário."
by: Fernanda Cardoso

Heloisa Leite disse...

Isso tudo porque você é lindo, encantador, gente boa e quando quer, faz aquela carinha de menino "pidão" que ninguém resiste! Mas, independente de todo o seu charme, de "anjos vestidos de gente" o mundo está cheio!! Adorei a história filho! Sua narração é sensacional! Vai passar dessa vez, certeza! Bjo

Ana Luísa disse...

Gente! Eu suei frio enquanto lia! Que bom que deu tudo certo, Santa Tainá! E realmente, o mais difícil você conseguiu, depois dessa, logaritmos foram fichinha, tenho certeza!
Boa sorte!!

Trauti Lang disse...

Sensacional! Por que nunca chove pessoas assim na minha horta? Eu poderia fazer a piadinha: "hã, joga na megasena", mas seria muito cretino de minha parte.

Camille disse...

hahahaha! Ai, há muito que eu não ria tanto com um post em blog. Você é ótimo! E essa Tainá é uma raridade. Sorte sua. ;)

Thiago D. disse...

Tem uma frase de um filme que fala algo mais ou menos assim: "o que seria de mim se eu não pudesse depender da bondade de estranhos?". Você sabe de que filme é isso? Se sim, você sabe qual é a frase exata?

Ah. Boa sorte.

sablofe disse...

Faço das palavras da Ana Luísa as minhas. E sem mais.

Boa sorte, Gabriel.

Anna Vitória disse...

Seu texto me deixou muito aflita. No seu lugar já tinha sofrido um troço. Fiz vestibular nesse fim de semana e quando estava entrando no local de prova, ouvi um cara comentando com outro sobre uma foto que eles supostamente deveriam ter levado. Gente! Eu sabia que não tinha que levar foto, mas só de cogitar que eu poderia ter deixado isso passar um aneurisma quase se rompeu na minha cabeça. Foi um horror!
Meus amigos que fizeram UnB contaram os horrores da prova de Matemática, mas depois dessa com a fiscal não é Cespe que vai te impedir de passar não =)