terça-feira, 24 de julho de 2012

Debaixo dos Caracóis do Seu Cabelo


Em seu novo filme, a Pixar se rende aos contos de fadas e à forma clássica de contar histórias, mas isso não significa que Valente seja ruim ou dispensável. Muito pelo contrário. A história de Merida, uma princesa rebelde, e sua relação com a mãe controladora são um primor visual e narrativo.

É impossível assistir Valente e não reparar nos cabelos da protagonista. Não só pela animação deslumbrante, que faz cada fio ruivo ter vida própria, mas porque o cabelo surge como uma metáfora óbvia para o comportamento das personagens. Merida mantém suas madeixas encaracoladas ao vento, como símbolo do seu anseio por liberdade, já sua mãe tem cada fio sob controle, num penteado simétrico e perfeito. Logo fica claro que as diferenças não se resumem apenas ao ramo capilar.


Valente é um filme sobre relacionamento entre pais e filhos (tema que a Pixar já havia abordado em 2003, com Procurando Nemo). Só que em vez de um pai superprotetor que vive sob o medo de perder seu unigênito, aqui o conflito se dá pelo excesso de expectativa de uma mãe e sua dificuldade em respeitar a liberdade da filha. Nas duas histórias fica clara a transformação dos personagens, como consequência de uma trajetória de autoconhecimento, mas em Valente essa transformação é literal.

Com personagens carismáticos e momentos engraçados, o novo filme da Pixar deve ser interessante tanto para os pais (coisa que Carros 2 não foi) quanto para os filhos (coisa que Wall-E não foi). E esse é um equilíbrio que, inevitavelmente, reduz a força da trama. Por mais bem executado que seja, um conto de fadas tem suas correntes e todo filme que opte pelo gênero precisa escolher se vai quebrar as regras e virar uma paródia (o que Shrek fez) ou respeitá-las e ficar limitado a um certo campo narrativo. Valente escolhe a primeira opção e, mesmo aprisionado, consegue ir longe.


PS: Todo mundo já sabe que em filme da Pixar não dá pra chegar atrasado. O curta que antecede Valente é um banquete visual (assista em 3D) e tem na sua ideia uma simplicidade e ambição comum a outros trabalhos do estúdio, como Parcialmente Nublado.

Um comentário:

Gab Irala disse...

Quero muito ver!!
Beijo.