quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Beto e Inês

Fui num sebo gastar o dinheiro que não tinha e acabei comprando o roteiro de Cenas de um Casamento (meu filme favorito do Bergman), publicado pela Nórdica em 1973, por uns 15 reais. E uma das coisas mais gostosas de comprar livros em sebos é a certeza de que aquilo já passou pelas mãos de outras pessoas. Ao contrário das roupas de segunda mão, que se enchem de cheiros e bactérias alheias, os livros vão se enchendo de gotas de café, marcações inconvenientes, umas lágrimas, uns rabiscos e uns rancores. As dedicatórias então... Confesso que procuro por elas. Se forem muito boas, já vale a compra, independente da obra.

A minha edição de Cenas de um Casamento Sueco veio dedicado à Inês. Antes de começar a fuxicar a vida alheia, é preciso lembrar que esse filme conta a história de um casamento em decadência. Tem umas verdades absurdas, destrói toda a construção familiar e faz a gente pensar que o melhor mesmo é ficar sozinho. Os protagonistas, Marianne e Johan, se amam, mas as coisas vão caminhando de forma inexplicável rumo a um abismo de insultos e tapas na cara.

E em 1976, Goiânia, surge esse homem, Beto, que, tomado de desespero e amor, resolve comprar o livro e dar pra esposa. Como uma última tentativa de salvar o casamento. Talvez a leitura provoque em Inês um insight tão violento de identificação que as coisas realmente se resolvam.


"É necessário enfrentar os problemas a tempo", diz ele. Mas agora, em 2012, vendo o livro jogado numa prateleira de sebo, só consigo pensar em duas explicações pro destino dos dois. Ou os problemas foram realmente resolvidos e de tal forma que o livro perdeu por completo sua utilidade, ou Beto fez sua tentativa tarde demais.

3 comentários:

Helena Rodrigues disse...

Eu adoro visitar sebos. Normalmente, elas terminam em agradáveis surpresas.

Bjão!

Bárbara Ribeiro disse...

Acho que não era esposa... o que estava escrito antes de Inês? Tia? Srª? Em 76 as coisas não eram tão diferentes assim... rs!

Danielly Stefanie disse...

É exatamente por isso que amo livros velhos mais do que novos. Acho que eles tem uma história muito maior do que aquela escrita neles.
Essa dedicatório no livro até me arrepiou. É uma pena saber tão pouco sobre esse casal ):