Poucas coisas na vida conseguem me deixar irritado. Uma delas é aluno reacionário. A outra é não ter tempo pro cinema.
As pessoas não entendem o que significa pra mim acompanhar o circuito. Não é sobre filmes. Quase nunca é sobre filmes, ou sobre livros, ou sobre séries. Na maioria das vezes é só a necessidade de me sentir vivo. De perceber uma mudança qualquer. De me iludir com uma provável transformação que a arte nunca executa, mas sempre promete. E com aquela persuasão característica.
Por isso, dia desses resolvi me forçar a ver um filme, começando pouco depois da meia-noite. Isso, apesar do cansaço e de ter que acordar às seis da manhã no dia seguinte. Era o jeito. Não dava mais pra esperar outra tarde livre como aquelas que a gente só tem até os 15 anos de idade. Dez minutos depois e eu percebi que já cochilava há cinco. Desisti, desliguei o computador e fui pra cama, chorando.
No dia seguinte as pessoas surgem com uma felicidade infernal e eu não consigo ver razão. Não consigo ver sentido nessas aulas, nessas provas, nessa graduação... Vou conservando um ódio de todo mundo. Entro no Facebook e acho tudo bastante ridículo e tenho vontade de mandar mensagem pros amigos falando que por favor, some daqui, você me enche de vergonha. Mas é tudo muito interno, o que problematiza a coisa do mau humor.
Uma das razões pra essa falta de tempo que me destrói é a quantidade desumana de textos e romances que esses professores passam pra gente ler. Ironicamente, foi daí que tirei a citação que encerra esse post. Tá lá nOs Sofrimentos do Jovem Werther, leitura bastante providencial pra esse momento da vida.
"É comum dizer-se que a vida do homem não passa de um sonho, e esse sentimento me acompanha sempre. Quando observo os estreitos limites em que se acham encerradas as faculdades ativas e intelectuais do homem; quando vejo que o objetivo de todos os nossos esforços é prover necessidades que por si mesmas não têm outro fim senão prolongar nossa miserável existência, e que por conseqüência toda a nossa tranqüilidade, em certos pontos de nossas buscas, não passa de uma resignação sonhadora, que gozamos pintando de figuras variadas e perspectivas luminosas as quatro paredes que nos fazem prisioneiros: tudo isso, meu amigo, me reduz ao silêncio. Olho para dentro de mim mesmo e vejo um mundo; porém um mundo muito mais de pressentimentos e vagos desejos do que de realidades e forças vivas. Então tudo me flutua ante os olhos, e continuo sorrindo e sonhando em minha jornada através do mundo."