terça-feira, 23 de abril de 2013

Tudo Isso Me Reduz ao Silêncio


Poucas coisas na vida conseguem me deixar irritado. Uma delas é aluno reacionário. A outra é não ter tempo pro cinema.

As pessoas não entendem o que significa pra mim acompanhar o circuito. Não é sobre filmes. Quase nunca é sobre filmes, ou sobre livros, ou sobre séries. Na maioria das vezes é só a necessidade de me sentir vivo. De perceber uma mudança qualquer. De me iludir com uma provável transformação que a arte nunca executa, mas sempre promete. E com aquela persuasão característica.

Por isso, dia desses resolvi me forçar a ver um filme, começando pouco depois da meia-noite. Isso, apesar do cansaço e de ter que acordar às seis da manhã no dia seguinte. Era o jeito. Não dava mais pra esperar outra tarde livre como aquelas que a gente só tem até os 15 anos de idade. Dez minutos depois e eu percebi que já cochilava há cinco. Desisti, desliguei o computador e fui pra cama, chorando.

No dia seguinte as pessoas surgem com uma felicidade infernal e eu não consigo ver razão. Não consigo ver sentido nessas aulas, nessas provas, nessa graduação... Vou conservando um ódio de todo mundo. Entro no Facebook e acho tudo bastante ridículo e tenho vontade de mandar mensagem pros amigos falando que por favor, some daqui, você me enche de vergonha. Mas é tudo muito interno, o que problematiza a coisa do mau humor.

Uma das razões pra essa falta de tempo que me destrói é a quantidade desumana de textos e romances que esses professores passam pra gente ler. Ironicamente, foi daí que tirei a citação que encerra esse post. Tá lá nOs Sofrimentos do Jovem Werther, leitura bastante providencial pra esse momento da vida.

"É comum dizer-se que a vida do homem não passa de um sonho, e esse sentimento me acompanha sempre. Quando observo os estreitos limites em que se acham encerradas as faculdades ativas e intelectuais do homem; quando vejo que o objetivo de todos os nossos esforços é prover necessidades que por si mesmas não têm outro fim senão prolongar nossa miserável existência, e que por conseqüência toda a nossa tranqüilidade, em certos pontos de nossas buscas, não passa de uma resignação sonhadora, que gozamos pintando de figuras variadas e perspectivas luminosas as quatro paredes que nos fazem prisioneiros: tudo isso, meu amigo, me reduz ao silêncio. Olho para dentro de mim mesmo e vejo um mundo; porém um mundo muito mais de pressentimentos e vagos desejos do que de realidades e forças vivas. Então tudo me flutua ante os olhos, e continuo sorrindo e sonhando em minha jornada através do mundo."

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Domando Sonhos como Quem Doma Leões


Realmente não sei porque alguém se importaria com minha última noite de sono ou com minha nova mania de dormir sob dois travesseiros dispostos na cama em formato de L. Não sei, mas continuarei insistindo até que me provem que não ter um blog é mais legal do que ter. Além do mais, se continuar nesse ritmo, com o número de visitas e comentários caindo diariamente, em pouquíssimo tempo realizarei meu sonho de ter um blog anônimo sem precisar ter um blog anônimo.

Mas adentremos o universo onírico, porque dia desses senti que podia controlar meus sonhos. Calma. Primeiro é preciso explicar o absurdo que tem sido dormir. Não sei se tem a ver com as férias que acabaram agora e que bagunçaram meus horários ou com um verdadeiro amadurecimento neurológico, mas tenho passado cerca de duas horas todas as noites, assim que eu deito na cama, pulando de um sonho pro outro e acordando no meio deles, cheio de horror e alívio. Não é como se eu realmente dormisse. Permaneço lúcido na maior parte do tempo. Consciente de que meu corpo está seguro na cama enquanto meu cérebro voa serelepe por universos mais ou menos conhecidos e deturpados. Mas se me deixo levar um pouco, a segurança some e o sono se torna imprevisível e incontrolável, como é da natureza deles.

Esse estágio de quase sonho, quase realidade, é extremamente favorável ao autocontrole mental. Eu só preciso pensar em uma situação específica, em primeira pessoa e com o maior número possível de detalhes, por algum tempo que, gradualmente, a imaginação vira sentido. É assustador e delicioso, como tudo que transcende a lucidez.

Lembro que na noite passada acordei muito agitado e querendo chorar. Eram três da manhã e eu não parava de ter esses pequenos sonhos lúcidos. Comecei a pensar que era o começo de algo. De uma comunicação espiritual, talvez, ou de uma esquizofrenia. Resolvi sair do quarto pra tentar me acalmar, mas quando acendi o abajur azul, percebi que nunca tive um abajur azul.