terça-feira, 23 de julho de 2013

Killing Them Softly


Festim Diabólico começa no exato momento em que dois amigos estão acabando de matar um homem enforcado. Assim que o corpo da vítima amolece no braço de um deles, os dois afrouxam as mãos, suspiram aliviados e permanecem imóveis e ofegantes, ao lado do cadáver. Um deles tira um cigarro do bolso, acende e traga com languidez, o outro pergunta se eles podem ficar ali mais um pouco, descansando do esforço físico. Podem. Ficam mais um pouco, descansam do esforço físico, escondem o corpo e mais tarde discutem o que cada um sentiu durante o ato.

Estou fazendo o curso que o CCBB oferece como parte da Mostra de Cinema Alfred Hitchcock (que  vai até 4 de agosto aqui em Brasília e reúne 35 longas do homem) e aproveitei pra ler o livro que traz a famosa conversa do Hitch com o Truff (pronuncia-se trâff), que comprei num sebo ano passado e nunca tive coragem de abrir. Nela, o mestre do suspense revela o segredo das suas cenas de assassinato: "film your murders like love scenes, and film your love scenes like murders". Por isso as mortes do Hitchcock são tão chocantes, porque subvertem o crime com o que há de menos subversivo.

Fiquei obcecado pelo assunto e comecei a perceber que alguns dos assassinatos do Hitchcock chegam a ser eróticos (é o que ocorre em Festim Diabólico, onde a tensão homossexual torna-se cada vez mais evidente), revelando que amor e crime se confundem não só na estética do filme, mas também em seu enredo.

Passei algum tempo procurando outros exemplos dessa modalidade de crime e cheguei a uma pequena lista com outras 5 cenas de assassinato filmadas como cenas de amor.

Drive - Cena do Elevador


A combinação perfeita entre trilha sonora, iluminação e brutalidade. Começa com um beijo e termina com Ryan Gosling esmagando a cabeça de um homem com o pé.

Assista aqui.

Carrie, A EstranhaA Morte de Margaret White


Acho que foi a cena mais traumatizante que vi na infância. Durante muito tempo pensei na morte de Margaret White antes de dormir. Em como ela tentou assassinar a própria filha, no sinal da cruz feito com a faca suja de sangue, no sorriso medonho e nos gemidos de dor e prazer a cada facada.

Assista aqui.

2001: Uma Odisseia no EspaçoHal 9000 É Desligado


Hal 9000 é o personagem mais carismático de 2001 e é também uma máquina. Todas as questões filosóficas sobre vida e consciência vêm à tona quando David é obrigado a desconectá-lo, enquanto ele canta uma canção de despedida.

Assista aqui.

Bastardos InglóriosShoshanna e Frederick


Com a trilha de Ennio Morricone ao fundo, Shoshanna e Frederick (ela, judia e ele, nazista) encerram sua curta história de amor e ódio. É como se Tarantino reescrevesse Romeu e Julieta.

Assista aqui.

Onde os Fracos Não Têm VezAnton Foge da Prisão


Poucas coisas são tão específicas quanto a cara que Anton Chigurh faz enquanto mata o policial em Onde os Fracos Não Têm Vez. Melhor que isso, só a viradinha que ele dá pra evitar que o sangue espirrado da garganta de outrem suje sua franja majestosa.

Assista aqui.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Retratos de uma Dedicação


Lendo esse texto da Renata Miwa sobre dedicação, comecei a pensar que a tendência é mesmo que ela desapareça. Se a gente entender dedicação como o cuidado, carinho e esforço para a realização de uma tarefa, fica mais fácil perceber como, cada vez mais, as coisas têm sido feitas nas coxas. Ninguém mais tem tempo pra se dedicar a nada. Se dedicar a um projeto só, a um conhecimento só, a um romance só...  Isso é perca de tempo. É comodismo. E a era do multitasking, que pretendia multiplicar o tempo, aumentando a abrangência, só consegue dividir os resultados, diminuindo a qualidade.

Obsessão é a nova dedicação. Muito em breve as pessoas só vão conseguir se dedicar a algum projeto quando estiverem obcecadas por ele. A obsessão nada mais é que uma dedicação natural, imperativa e impossível de conter. Você já deve ter conhecido um desses sujeitos que passam dias enfurnados num quarto, lendo, pesquisando e estudando o mesmo assunto; sujos, sedentos e famintos. Eles não fazem isso porque querem bons resultados. Fazem porque não conseguem não fazer.

Acho que esse fenômeno acontece porque nunca houve uma geração menos disposta. A nossa geração perdeu a capacidade de fazer o que não gosta. E isso é bom, porque expulsa o fantasma da frustração profissional da vida de centenas de adultos, mas é ruim, porque acaba criando uma geração de meninos mimados, que não consegue exercer qualquer atividade desagradável por um período mínimo.

O problema desse tipo de pensamento é que desistir acaba se tornando uma opção quase automática. Acho que desistir não era uma opção na época da minha mãe. Não consigo imaginar minha avó fazendo a matrícula da filha no inglês e ouvindo, na segunda semana de aula, que tá muito chato e, por isso, seria melhor matricular no francês. E depois no alemão. Não existia isso. E hoje existe demais. A cada dia desisto de pelo menos três coisas, sendo que duas delas eu nem chego a começar.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Vocês Criaram um Monstro

Aí tem essa professora... Mais louca que o Batman. Uma figura tão loira, tão surreal, tão problemática, que merecia um post só pra ela. Não vou fazer isso, porque sinceramente tenho medo que ela leia antes do semestre acabar (e eu preciso de nota). É bem a cara dela investigar vida de aluno, fazer ego search no Google, essas coisas.

E na aula de hoje ela começou a recapitular as 400 tarefas (sem nenhum objetivo, lógica ou fundamento) que ela tinha passado ao longo do semestre e lembrou que todas deveriam ser entregues na terça-feira da semana que vem. O que é lindo, porque significa que depois de terça-feira vou poder até colocar o nome dela aqui pra facilitar a pesquisa, mas também é péssimo, porque é óbvio que ninguém dá a mínima pra o que essa mulher fala em sala de aula e ninguém fez nenhuma dessas tarefas, já que, veja bem: ninguém SABE como fazer!).

Esse é o panorama então: loira surtadíssima que manda a gente usar uma tal de "ecofont" (projeto flopado de fonte ecologicamente correta, que já não fazia sentido em 2004, que dirá agora) em todos os trabalhos, 400 tarefas que deveriam ter sido feitas ao longo de seis meses para serem compreendidas e realizadas em coisa de dias e toda uma Mostra Hitchcock pegando fogo no CCBB.

Ainda bem que os comentários do post anterior foram favoráveis ao mimimi. Fiquei mais seguro pra reclamar com propriedade. Vou até escrever mais e mais porcamente.

Daqui a pouco cês abrem o blog e tem um poema.
Ou um acróstico.
Ou um haicai.