Se a gente parar pra pensar, Bling Ring não é muito diferente dos outros filmes da Sofia Coppola. Ele fala de jovens entediados como os de As Virgens Suicidas, mimados como Maria Antonieta e perdidos como a Charlotte de Encontros e Desencontros. Ele também oferece um olhar curioso (quase complacente) sobre o mundo das celebridades, coisa que Sofia tinha acabado de fazer muito bem em Um Lugar Qualquer. O roteiro é baseado na reportagem que Nancy Jo Sales escreveu para a Vanity Fair em março de 2010, contando a história dos adolescentes ricos de Los Angeles que começaram a invadir casas de famosos para roubar suas roupas, jóias e acessórios. A mesma reportagem deu origem a um livro que chegou no Brasil há pouco tempo. Eu sou bem fã da Sofia Coppola e já estava fascinado com a coisa toda o suficiente pra comprá-lo na semana do seu lançamento. Em pouco tempo comecei a pesquisar a vida dos envolvidos, ver suas fotos, seus vídeos, e ler tudo o que eu podia sobre o tema. Quanto mais eu lia sobre a Bling Ring, menos eu entendia as motivações daquela gente, o que só me deixava ainda mais interessado. Eu estava obcecado por adolescentes que eram obcecados por celebridades que eram obcecadas por si mesmas.
Esteticamente, Sofia Coppola é irretocável. Em Bling Ring ela aproveita as casas majestosas, os adolescentes ricos e as roupas de grife para criar pequenos momentos de contemplação. Depois de uma abertura frenética (e linda), a montagem começa a ficar cada vez mais parecida com a de seus outros trabalhos, até atingir o ápice, numa longa cena em que a casa de uma das vítimas é mostrada de longe, enquanto os ladrões andam pelos cômodos, enchendo bolsas, revirando gavetas, acendendo e apagando as luzes. Em outro momento a câmera aparece imóvel, acima da escada, de um ângulo muito parecido com o das câmeras de segurança. São escolhas que fazem toda a diferença, quando se conta uma história em que o distanciamento é fundamental.
E o distanciamento é fundamental, porque estamos falando de uma geração vaidosa, egoísta e inconsequente. Marc, o único homem do grupo e principal cabeça por trás das invasões, materializa as três características em uma cena em que ele fuma maconha na frente do computador, enquanto ouve Drop It Low e se exibe para a câmera. Ele canta, dança, levanta a blusa pra mostrar um pouco do corpo, e nesse momento fica claro que eles não estão ali, roubando roupas e jóias, para mostrar pros outros. Quer dizer, é óbvio que é para mostrar pros outros, mas isso é só uma etapa para que o objetivo final seja atingido. A admiração alheia é o combustível que vai alimentar o bem estar desses adolescentes. A gente acaba percebendo que o distanciamento é fundamental, porque se chegar perto demais, corre-se o risco de topar com um grande nada.
E multiplicam-se as cenas de festas, em que tudo o que se faz é dançar, beber, cheirar cocaína e postar fotos no Facebook, para mostrar como se tem dançado, bebido e cheirado cocaína. É uma dinâmica que já não assusta ninguém, mas continua triste. E a coisa mais interessante de Bling Ring é a sua recusa em emitir julgamentos. Basicamente, Sofia Coppola usa da trilha sonora profunda e dos seus planos melancólicos para mostrar que esses jovens não são muito diferentes de mim ou você. Eles só tiveram a sorte de nascer em Hollywood.