quinta-feira, 28 de julho de 2016

As coisas mais estranhas

Estive pensando muito nesse livro do Cortázar desde que terminei de ler. São contos bem impressionantes. E tem sempre um aspecto absurdo ou de sonho que me confunde e me mantém atento. É um esforço também. Um livrinho de 140 páginas, que ganhei em 2014 (e que, ainda em 2014 comecei a ler) e só fui terminar agora. A bagunça que eu faço.

Todo o objetivo dessas férias de julho era organizar essa parte da leitura e da escrita na minha vida, que tem estado um caos (e, pelo que parece, é o que escolhi fazer da vida, então se tem uma área que não pode estar um caos é essa). Sem brincadeira, eu já perdi as contas. Completamente. (Ontem lembrei que tava lendo Crime e Castigo, inclusive já tinha passado da metade, mas fui obrigado a devolver pra BCE porque já estava pagando multa. Aí devolvi, nunca paguei a multa, nunca mais continuei a ler... pensa nos nomes dos personagens de romance russo. Já era.) Perdi a conta dos livros que estou lendo. E, por isso, eles nunca terminam. A gente pula de um livro pro outro sem terminar nenhum, não para de comprar e as pilhas só aumentam.

Mais uma vez acho que a nossa relação com eles reflete muito bem a nossa relação com o resto. Nesse mês eu queria ter dado uma respirada, sentado a bunda e terminado uns seis livros que já vinham mais pra lá do que pra cá. Consegui até agora quatro.

Um amigo me contou uma vez que ouviu alguém dizer que ler um romance é como habitar um novo mundo. Que é preciso certo tempo para se acomodar, reconhecer os cenários, se reconhecer no novo mundo; e que ler vários romances ao mesmo tempo seria o mesmo que saltar de um mundo para outro completamente diferente  o tempo todo. Ao fim da metáfora eu estava exausto. E isso porque naquela hora só consegui pensar em dois ou três (dos vinte e oito) mundos onde habito.


Sobre o Bestiário (que não é romance, note), é melhor vocês entrarem em cada conto por conta própria. Já faz tempo que parei de querer guiar as pessoas em qualquer coisa que seja. Adianta bestas. A gente indica, incentiva, mas apresentá-la seria um erro fatal. Principalmente quando se trata de um texto tão estranho. Acho que estranheza é das qualidades mais humanas e que, por humana, a arte tem obrigação de revelar. Realismo fantástico faz isso muito bem. Leiam esses caras dos anos 60. São todos muito estranhos.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

É Good e Nóis Não Have

Crescer tem sido pra mim, em grande medida, a constatação espantosa e desesperadora do poder do dinheiro. É o tipo de problema que me enche de mágoa, porque estou sempre tentando fugir dele. Eu juro que não queria dar tanto poder assim pro capital. E também não tô reclamando agora só porque o país tá em crise e uma bandejinha com 4 fatias de queijo sai a cinco reais no Big Box. Dinheiro sempre foi um incômodo, porque sempre senti que precisava dele ao mesmo tempo em que não aceitava precisar de uma coisa tão insignificante.

Ontem cheguei ao cúmulo de lavar meus óculos (que já estão com uma perna só) e secar no secador de cabelo pra economizar guardanapo. Quando equilibrei a armação de volta no meu nariz, percebi a lente completamente embaçada, o que não fazia sentido algum. Acabei usando o guardanapo, pra ver se resolvia, mas o embaçado não era do tipo que saía. Fui pesquisar a aberração e descobri que o calor danificava a lente, principalmente se ela tivesse tratamento anti-reflexo. Ou seja: como se não bastasse os óculos só terem uma perna, gastei energia, guardanapo e agora enxergo tudo em modo benflogin.

Tinha vontade de falar com o psiquiatra que dinheiro é atualmente a coisa que mais me deixa triste e que ele cobrando 500 reais a consulta não está sendo de muita ajuda. Aí o problema da grana se torna tão insustentável que você é obrigado a reduzir os gastos, deixa de ir no médico e, como nada se resolve, continua sofrendo por dinheiro, mas com a diferença de que agora não tem outro lugar pra reclamar a não ser no seu blog abandonado.