Fiquei sabendo da morte da Amy através de uma ligação. Porque alguém se lembrou de mim e achou bom me dar a notícia de forma cuidadosa. Tentei parecer normal e apenas um pouco assustado. Alguns minutos depois, já sedento por esclarecimentos, com a Globo News ligada e o celular na mão, eu começava a aceitar o fato de que a dona daquela voz e eu já não habitávamos o mesmo mundo.
A primeira coisa que me passou pela cabeça foi: “ainda bem que eu fui no show”, porque eu não me perdoaria se tivesse perdido essa chance. Gastar 500 reais, enfrentar fila, sol e fazer coisas humilhantes, tipo CORRER pra ficar na grade da pista, me pareceram um pouco exagerado na época, mas hoje eu acho pouco. Não porque ela morreu, mas porque fui tomando consciência do tipo de artista que era Amy Winehouse. E de como esses talentos são raros.
Falam sobre ela ter cavado a própria cova, sobre ter sido burra e se deixado levar pelo vício e eu fico indignado, porque sei o que é você passar a vida inteira tentando mudar e nunca conseguir. E entendo qualquer pessoa que morra no vício ou que tenha desistido de tentar. E falo isso sem nunca ter colocado um cigarro na boca, porque tenho a sorte de ter vícios menos destrutivos que os dela. Não cabe julgamento. Muito menos agora.
Depois me veio uma sensação estranha, como se Amy tivesse nos traído. Porque o mundo é um lugar triste e difícil, mas que temos suportado juntos. E ela morrer assim, aos 27 anos, é como se estivesse desistindo de uma prova de resistência do BBB antes do sol nascer. (Ok, a metáfora é péssima, mas foi a única que encontrei). E eu sinto um misto de pena e inveja. Pena porque ela acabou jogando a toalha e inveja porque minhas pernas também estão doendo, na mesma posição há horas, e tudo o que eu queria agora era poder esticá-las.