quarta-feira, 27 de julho de 2011

I Cheated Myself


Fiquei sabendo da morte da Amy através de uma ligação. Porque alguém se lembrou de mim e achou bom me dar a notícia de forma cuidadosa. Tentei parecer normal e apenas um pouco assustado. Alguns minutos depois, já sedento por esclarecimentos, com a Globo News ligada e o celular na mão, eu começava a aceitar o fato de que a dona daquela voz e eu já não habitávamos o mesmo mundo.

A primeira coisa que me passou pela cabeça foi: “ainda bem que eu fui no show”, porque eu não me perdoaria se tivesse perdido essa chance. Gastar 500 reais, enfrentar fila, sol e fazer coisas humilhantes, tipo CORRER pra ficar na grade da pista, me pareceram um pouco exagerado na época, mas hoje eu acho pouco. Não porque ela morreu, mas porque fui tomando consciência do tipo de artista que era Amy Winehouse. E de como esses talentos são raros.

Falam sobre ela ter cavado a própria cova, sobre ter sido burra e se deixado levar pelo vício e eu fico indignado, porque sei o que é você passar a vida inteira tentando mudar e nunca conseguir. E entendo qualquer pessoa que morra no vício ou que tenha desistido de tentar. E falo isso sem nunca ter colocado um cigarro na boca, porque tenho a sorte de ter vícios menos destrutivos que os dela. Não cabe julgamento. Muito menos agora.

Depois me veio uma sensação estranha, como se Amy tivesse nos traído. Porque o mundo é um lugar triste e difícil, mas que temos suportado juntos. E ela morrer assim, aos 27 anos, é como se estivesse desistindo de uma prova de resistência do BBB antes do sol nascer. (Ok, a metáfora é péssima, mas foi a única que encontrei). E eu sinto um misto de pena e inveja. Pena porque ela acabou jogando a toalha e inveja porque minhas pernas também estão doendo, na mesma posição há horas, e tudo o que eu queria agora era poder esticá-las.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Menino que Sobreviveu

Não me preocupei em esconder spoilers.


Não quero nem comentar o fato de só ter assistido o filme no sábado, porque ainda não consegui engolir a babaquice do Cinemark nessa cidade. E foi triste ver geral se declarando arrebatado e emocionado no Twitter e eu, com meu ingresso na mão, levemente amassado, não podendo fazer nada além de esperar. Meu maior consolo era que, enquanto eu não visse a última adaptação cinematográfica da saga literária mais famosa do mundo pop contemporâneo (uepa!), pelo menos pra mim, Harry Potter ainda não tinha acabado.

E o que dizer desse final? Fizeram mesmo um filme épico, cheio de momentos grandiosos e belamente filmados. Fizeram tudo para o fã desmoronar. E conseguiram. Não sei se é o meu filme preferido da saga, porque As Relíquias da Morte - Parte 1 é bem mais melancólico, profundo e subjetivo (e eu adoro aquela cena do Harry dançando com a Hermione na cabana), mas é o melhor que poderiam ter feito. E David Yates é um monstro! Fazendo minha maratona nessa semana, fiquei impressionado com o salto em qualidade que os filmes deram, desde que ele assumiu a direção na Ordem da Fênix.


Já entrei no cinema meio abalado, porque era difícil acreditar que seria o último. E não me venham diminuir a dor dos fãs, porque dói pra caramba ver uma história que você gosta terminar. Ano passado tivemos Toy Story 3 e foi a mesma coisa... Marmanjos chorando e ninguém entendendo. Porque não dá mesmo pra entender. Quem comprou os livros, ano após ano, fomos nós. Quem enfrentou filas em cinemas, ano após ano, também fomos nós. Harry Potter é coisa nossa, vocês fiquem na sua!

A primeira metade do filme é perfeita. A cena no Banco Gringotes e a preparação de Hogwarts pra enfrentar os Comensais da Morte me fizeram ter espasmos musculares de emoção. Professora McGonagall duelando com Snape pra defender o Harry é uma das melhores cenas de toda a saga. Como eu amo aquela velha! E também adoro o Snape. Ele é o personagem preferido de 9 entre 10 fãs de Harry Potter e fez por merecer o carinho. A sequência de sua morte e todo o flashback mostrando seu amor por Lílian Potter é o ponto alto do filme.


Achei toda a batalha bastante apressada. Fiquei com raiva, porque queria ter curtido um pouco mais a morte do Fred ou da Bellatrix. Foi tudo rápido demais pra sádicos como eu. Mas o discurso do Neville, embora cafona, funcionou muito bem. Porque mostrou pro Voldemort e seu bonde de muleques-piranha que, independente do Harry estar morto ou vivo, ele estava errado. Fim! Hitler perdeu. Viva os sangue-ruim!

Voltei pra casa com um vazio enorme no peito. Mas a gente sabia que isso iria acontecer. Um dia a história tinha que acabar. This is the life. Fatalmente vamos envelhecer, criar barriga, ter nossos filhos e comprar pra eles um exemplar de Harry Potter e a Pedra Filosofal, que eles podem nem curtir tanto assim. Paciência. Tomara que eles tenham alguém tão brilhante quanto a JK Rowling em sua geração.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Do Tipo Importação


Entrei no Um Que Tenha pra tentar baixar o novo disco do Caetano Veloso, já que minha mãe pediu que eu fizesse uma seleção de MP3 pra ela levar pra Campinas. Uma mãe que nunca apoiou a pirataria ou compartilhamento ilegal de músicas, diga-se. Acontece que, em meio ao excelente acervo do site, acabei encontrando algo ainda mais sensacional: o novo álbum do Trio Esperança, De Bach a Jobim.

Trio Esperança é uma daquelas descobertas que mudam sua vida musical por completo. E desde que ouvi as três irmãs (Eva, Regina e Mariza) cantando Filme Triste, nunca mais consegui me acostumar com outra versão dessa canção. Ou de Expresso 2222, Casaco Marrom, Qualquer Coisa, Corcovado... E confesso: achava que elas nem existiam mais, porque todas as músicas de que eu tinha notícia eram gravações dos anos 60 ou 70. Mas pesquisando agora, descobri que as moças ainda existem (e muito bem por sinal). Elas moram na França.

De Bach a Jobim foi lançado em 2010, somente na Europa. E nele, elas cantam Desafinado, Odeon e até Blackbird (dos Beatles). A minha faixa preferida é Joana Francesa, onde as irmãs misturam francês e português de um jeito extremamente diferente e sedutor. Imagino o sucesso que devem estar fazendo em Paris.

Gosto do Trio Esperança, porque elas lembram minha infância. Porque suas vozes parecem sempre inocentes e coniventes com nossos erros. Suas canções remetem a um tempo onde eu conseguia parar, sentir o cheiro das coisas, perceber suas cores e seus mistérios. O dia passava mais lento e tudo parecia plano de fundo pra bossa nova. Não tinha internet.

Definitivamente, não tinha internet.

PS: Mas hoje tem, então baixa aí.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Último Ato

Ontem terminei de ler Vergonha dos Pés, da Fernanda Young, e achei o livro muito inconstante. Alguns parágrafos são excelentes, enquanto outros parecem ter sido tirados do diário de uma pré-adolescente. A gente acaba se identificando com a protagonista, porque a Fernanda Young não tem medo de expor suas fraquezas. E eu acho que a gente tem muito mais fraqueza que virtude, então é bom ler alguém externalizando esse tipo de coisa (por isso o blog da Patrícia tem mais de mil seguidores, por exemplo).

Escolhi um trecho de extrema sinceridade, embora um pouco lugar comum, pra compartilhar com vocês. É uma carta que Ana, a protagonista, escreve pro ex-marido. E não sei por que, mas alguma coisa acontece quando as relações amorosas acabam que a gente não tem medo de parecer fraco. É como se a peça, finalmente, chegasse ao fim.

"Sou uma pessoa solitária. Mesmo acompanhada, sinto-me só. É de minha natureza, não sei que espírito ruim me possui, ou quais os males estou pagando, só sei que não consigo viver feliz. E nem mais quero, pois sinto-me totalmente despreparada e sem talento para a paz. O que tenho é tédio, tédio de tudo e tudo mais. Quero dormir, mas não consigo. Quero levantar-me e andar léguas, mas um sono incontrolável se apodera de mim. Sou assim. Uma pessoa que, por algum motivo misterioso, aprendeu a sofrer e, gostando ou não, viverá sempre assim: sofrendo. Nenhum motivo mais será necessário, nenhuma dor, nenhuma perda. Apenas o dormir ou o não dormir, o acordar e o nada a fazer, além de ficar na casa pensando sobre os meus pés e os pés de toda humanidade. Eu, que nenhum talento possuo, que passarei pela vida sem ter cometido uma grande obra. Sem ser herói ou assassino. Passarei pelo mundo como milhões que já passaram, os bilhões e trilhões de desconhecidos que não tiveram nada para deixar pro futuro."

terça-feira, 5 de julho de 2011

Ninguém É Perfeito


Sou fã declarado da Pixar. Tenho todos os filmes, sempre dou um jeito de assistir aos lançamentos na primeira semana de exibição, sei inúmeras falas de cor e chorei com Toy Story 3. Adoro a forma como esse estúdio elevou a animação a um patamar nunca antes alcançado. Sim, considero Procurando Nemo, Ratatouille e Wall-E filmes muito superiores até mesmo aos clássicos da Disney em sua fase de ouro. É claro que o elemento nostalgia conta a favor de A Bela e a Fera ou Aladdin, mas em matéria de personagens, roteiro e visual, ninguém conseguiu, até hoje, superar a Pixar. E o estúdio que nunca erra, o estúdio que é símbolo da criatividade, de repente começou a apostar nas continuações. Carros 2 é um filme bom, mas para quem está acostumado a fazer obras primas, isso soa quase como um xingamento.

Depois de ganhar várias Copas Pistão, Relâmpago McQueen, o vaidoso e adorável carro de corrida, é desafiado por um italiano da Fórmula 1 a competir no Grand Prix Mundial. Com a ajuda de Mate e sua equipe, Relâmpago viaja o mundo inteiro, participando de corridas acirradíssimas. Paralela à competição, uma história de espionagem, envolvendo fontes renováveis de energia, se desenrola; com direito a apetrechos dignos de James Bond. Por fim, Mate acaba confundido com um agente secreto e se mete em altas confusões.


Carros 2 tem ação, é divertido e muito engraçado, mas a todo momento parece um filme menor, se comparado ao seu antecessor. Parte dessa sensação é culpa de uma decisão arriscada, tomada por John Lasseter (o chefão da Pixar e um dos diretores do longa), que preferiu a comédia ao drama. Ele deixou o papel principal na mão de Mate, um caipira engraçado, enquanto Relâmpago McQueen assumiu o posto de coadjuvante. E a comédia carrega esse karma, de ser sempre uma forma de arte inferior.

Eu não tenho dúvidas de que as crianças vão surtar com as cenas de ação de Carros 2. O filme foi feito pra elas! Mas nós: pais, tios e primos mais velhos, somos um tanto egoístas e queríamos mais uma vez assistir a um filme adulto disfarçado de infantil. Vamos ter que esperar mais um pouco. Em 2012, a Pixar vem aí com Brave, uma produção que tem sido mantida a sete chaves, e talvez voltem a fazer o que eles sabem melhor: emocionar.