quarta-feira, 14 de setembro de 2011

É Impossível Comer um Só

Todo mundo, aos oito anos de idade, adora Fandangos. E Ruffles, chocolate, pizza, sorvete, batata frita, hambúrguer... Porque são alimentos que entregam de cara o que a gente está procurando: açúcar, sal e gordura. Alimentos que não dependem de muita elaboração ou cerimônia, não são sofisticados, mas cumprem o prometido. Acontece que as pessoas crescem e, naturalmente, aprendem a refinar o paladar. E começam a procurar sabores mais sutis e imprevisíveis, capazes de proporcionar novas experiências gustativas. Mas eu não cresci. E hoje passo por situações constrangedoras como: ter que ir pro banheiro com meu pacote de Fandangos pra ninguém ver um homem de 20 anos comendo salgadinho no intervalo do curso.

Em algum momento da vida, todo mundo toma consciência dos seus piores defeitos. E acho que esse momento chegou pra mim, quando descobri que sou medíocre. Na verdade, sempre desconfiei, mas tinha esperança de ser coisa da idade. Não era. E o Fandangos tá aí pra provar.

Eu sempre acabo preso naquilo que não é incrível, mas também não é um lixo (ok, Fandangos é um lixo). Por exemplo: meus lugares preferidos pra comer são Outback e Pizza Hut. Sabe? Tudo tão previsível! Eu não consigo preferir nenhum bistrô, cantina ou restaurante legal, por mais refinado que ele seja. Simplesmente aposto naquilo que já conheço e fico ali, estagnado, pedindo Quarterão Grill até os 50 anos de idade.

Nos campos culturais é assim também. Eu poderia estar lendo Guimarães Rosa, Eça de Queiroz, Dostoiévski ou Edgar Allan Poe, mas prefiro continuar com meus romances britânicos de fácil digestão. Porque uma preguiça enorme toma conta de mim quando penso em ler qualquer coisa que exija mais do que eu esteja disposto a oferecer. E ultimamente tenho estado disposto a oferecer muito pouco.

Também tenho pavor do que é novo. Não adianta olhar cardápio, porque eu sempre peço a mesma coisa e, minha nossa, como odeio experimentar! Sério. Pede pra eu tocar La Bamba com os dentes, mas não me pede pra "provar isso aqui".

Não estou reclamando. Acho inclusive que é muito mais fácil ser feliz assim: com filmes hollywoodianos, Agatha Christie e pacotes de Fandangos saboreados nas surdinas da vida.

PS: Esse blog está cada vez mais absurdo. Toda a sua proposta me parece incrivelmente tola (primeiro por não ter proposta, segundo por, ainda assim, não conseguir cumpri-la). E de uns tempos pra cá, acho que uma força tomou conta dos meus dedos e começou a digitar palavras que nunca levam a nada. Tenho sofrido muito pra terminar os textos, porque sempre acabo arrependido de tê-los escrito. Felizmente, a mesma força que me obriga a escrever, acaba por me convencer a clicar no botão laranjado de publicar postagem. Comentem, por favor. Nunca pedi isso, mas hoje estou numa carência de dar pena. E preciso saber se alguém tá entendendo alguma coisa, porque eu não tô.

19 comentários:

Poliana disse...

Quando você escreve textos como o de hoje, é quando eu mais te compreendo. E você exige menos da minha capacidade de prestar atenção! Então sempre leio o que você tem pra falar, com muito prazer! A gente se entende! hehehe.
E puxa... Ainda me encontro no Fandangos de presunto. Mas, já sei que você não gosta de experimentar nada, mas a Ruffles de mel+mostarda está divina!!! A melhor! De todas!!!

Beijos Biloca!
Adoro seu blog!

Gabriel Leite disse...

Nossa Poli... O pior é que eu já experimentei essa nova Ruffles. Hahaha. Também adorei. Acho que se a coisa vem fechada num pacote, e com marca conhecida, é mais fácil provar.

Obrigado pelo entendimento. ;)

Beijos

Poliana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Poliana disse...

Eu penso assim também!! Acho que quando é industrial, você só tem o trabalho de comer. se num gostar, fica mais fácil desfazer. Agora quando você tem que perder seu tempo preparando pro negócio ainda dá errado.. Isso é triste.
Outra coisa que pensei. Acho que não é o paladar das pessoas que vai melhorando. É o medo de envelhecer, ficar doente mais fácil ou de morrer mais rápido que faz a pessoa aprender a comer coisas saudáveis. Se isso não fosse preciso, estariam todos na pizza, chocolate e Elma Chips em geral!

Gabriela P. disse...

Ou a Pizza Hut de Maringá é muito errada, ou eu sou muito chata com comida, porque olha, não rola!
Eu também, sempre falo que vou num lugar diferente pra comer alguma coisa que não conheço e acabo ficando na zona de conforto.
E nunca gostei de Fandangos, mas tomo Toddynho na Universidade, segurando um pacote de Passatempo. Sem medo de ser feliz!

Beijo!

Ju Amo disse...

A vida é uma repeticao... entao repete repete e repete... Vc fica onde se sente seguro... nada de anormal =D

Ana Luísa disse...

Hahaha, eu também sou super fresca para experimentar as coisas. Meu pai fica fulo, eu acostumo a pedir algo, e peço SEMPRE a mesma coisa. Tem no mínimo 5 anos que eu SEMPRE peço pizza de calabrezza com catupiry. Ligou pra pizzaria, é essa que eu vou querer, com certeza.
Nos livros eu já vario mais, mas tem que ter vontade mesmo, senão, não vale a pena, de verdade. Eu encarei um Dostoiévski no começo desse ano, o livro é denso. A história é interessante, mas é um livro com certeza pesado de ler. Se não fosse toda a minha vontade eu tinha largado no meio, COM CERTEZA. Então espere o dia que você acordar inspirado pra ler isso, porque, vai por mim, PRECISA de inspiração, haha.
Beijos!

Renata disse...

Olha. Eu não sei se o seu blog anda absurdo ou se você está se achando medíocre em escrever coisas do tipo desse texto. Eu só sei que também sou assim. Não no quesito Fandangos, porque eu sempre achei que Fandangos era o último dos salgadinhos, mesmo aos 8 anos de idade. Ruffles sempre foi o meu preferido (e mais caro). E se eu procurava açúcar, sal e gordura aos oito anos, hoje com 30 eu continuo buscando exatamente isso. E com um agravante: sou mulher. Mas meu restaurante preferido continua sendo Outback (Pizza Hut não que a massa é muito grossa e eu não gosto) e eu sou feliz assim, sabe? Porque eu fico vendo essas moças que chegam e pedem uma alface e um suco de laranja sem açúcar e esticam o olho com tristeza universal para a batata com cheddar e bacon ou a cebola frita da mesa ao lado. E tenho dó. Dó por elas tentarem ser o que não são. Dó por toda essa auto-sabotagem. Eu sinto muito mas eu vou continuar refinando o meu paladar a meu gosto total. Não vou entrar em um bistrô e pedir uma coisinha com melequinha que não vai tapar nem meu buraco do dente e ainda vai ter gosto de meia suja e eu vou pagar os olhos da cara. E eu prefiro ficar em meus restaurantes preferidos, comendo minhas comidas preferidas e pagando feliz o preço que eu já sei que elas custam. E também tenho pavor do que é novo, alguém que me diz "prove isso aqui" com certeza não tem boa qualificação na minha lista de avaliações pessoais. E mais: tenho exatamente as mesmas opiniões que você no quesito cultural. E fico feliz aqui acomodada lendo romances britânicos de fácil digestão - porque eu também estou disposta a oferecer muito pouco.

E viu.... Fandangos no banheiro? Você já parou pra pensar nos germes???

Priscila Blazko disse...

Ah, eu gosto desses seus textos. E gosto bem mais de blogs aparentemente non-sense que desses monotemáticos.
Se te faz melhorar: amo comer porcarias. Sempre gostei. E eu me irrito com essas pessoas naturebas que se satisfazem com uma fruta ao invés de uma colherada de Nutella. E se vc acha vergonhoso comer Fandangos no banheiro, imagine ter que se trancar na despensa pra devorar um pacote de Doritos. Porque pense no constrangimento de uma mãe que proíbe os filhos de comerem porcaria durante a semana, mas ela própria num aguenta de vontade de se entupir de porcarias...

Priscila Blazko disse...

Esqueci uma consideração: é verdade, muito mais fácil ser feliz com fandangos e Agatha Christie. Aliás, alguém já disse que a ignorância é uma bênção... Mas vem cá: tem certeza de que ser feliz é o melhor? A felicidade deixa a gentes tão chata...tão sem graça. Melhor um comedor de fandangos em crise que um outro comendo fandangos e saltitando feliz por aí.

Gab disse...

Sou dessas. Quarterão pra sempre. Não tenho vergonha de comer Fandangos, adoro e pronto. hahaha
Me identifico muito com teus textos. :)
Beijo.

Anônimo disse...

Poxa Gabriel, eu também sou criança, como Fandangos e estou "nem aí" pro que neguinho anda dizendo. A vida é minha e gosto de ser madura e séria quando há necessidade. O resto é pintar nuvens com giz de cera mesmo.
Beijão.

Francielle disse...

Continuo a ler seu blog, mesmo sem comentar! Ele é incrivelmente fascinante, pq é imprevisível e sai do clichê. Não está preso a um padrão, simplesmente flui. Por isso acho digníssimo! As pessoas mais interessantes que eu conheço são versáteis e falam o que pensam sem se preocuparem com os rótulos! Parabéns e continue a nos presentear com seus textos!

K.P. disse...

Ontem eu passei o dia basicamente me alimentando de Ruffles e Ovinhos de Amendoim. E olha que eu estou a caminho de me tornar chef de cozinha.

Queria saber o que há de errado em se apegar às coisas que nos são familiares e, por consequência, nos deixam mais seguros. Eu não vejo nenhum problema.

Na maioria das vezes são textos comuns e muitas vezes clichês que nos pegam de verdade. Não se sinta mal se em algum momento você caminhar por aí.

;)

Manuel disse...

Olhando pelo lado bom, pelo menos vc não é viciado em pornografia na internet (espero): http://thelastpsychiatrist.com/2011/02/hes_just_not_that_into_anyone.html

Mas talvez alguns trechos se apliquem:
"In other words, online porn isn't a drug, it isn't an addiction, it isn't a sign of deviancy or a trigger for disease: porn is junk food. It is a bag of potato chips you eat when you aren't even hungry, and once you start and the initial "mmmm!" passes you're all in, may as well finish the bag, you've ruined your diet/night already, start over clean tomorrow.

After a while potato chips just figure into your routine, there's a passing thought that perhaps you shouldn't but since there aren't any obvious and immediate consequences... And now it's part of who you are.

But no one would ever say that "other foods don't measure up", no one says that potato chips taste better than steak not because they don't but because no sane person makes those kinds of comparisons. If you did, if you played it all out in your head and now deliberately avoid eating a steak in order to get to potato chips-- then you have a problem that is deeper than steak or potato chips.

Junk food is stripped of the essentials of real food, leaving just the vulgar, the simple, the obvious of taste: sugar, salt, fat, repeat. It is the pornographization of food. The mistake people make is that they think it is delicious, but it's really just easy, comforting, reliable, satisfying. And that's where we are now: online porn is the pornographization of porn."

"If you can get past the branding, you can see that Copernicus's porn usage isn't an addiction but a routine. Routines are part of your identity, like it or not, with the unfortunate consequence that you'll reflexively defend it even if it is foolish. (...)

'Just don't do it' is going to be hard for him, the porn is part of who he is, but-- and this is the part you should focus on-- if he decides to be a different person he can stop that routine, and if he stops that routine he will become a different person. But he doesn't want to change, he just wants things to change.
(...)
The next 40 years of this guy's life are going to be drudgery, and for anyone else he drags with him. So if that's you, for the sake of everyone around you, stop eating junk food."

Manuel disse...

Só uma coisa: eu acho você bem melhor que o tal de Copernicus.

Manuel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manuel disse...

E vale pensar no comentário da Priscila aí: será que a felicidade é a melhor (e única) coisa a se buscar na vida?

Manuel disse...

Um homem que tentou achar sentido pra vida na cultura pop: http://partialobjects.com/2011/09/1000-days-a-postmodern-man-curates-his-own-suicide/

Spoiler: ele se matou.