Eu tinha 8 anos quando você nasceu. Redondo, peludo e com uma manchinha branca na cabeça. Eu só conseguia pensar que nunca existiria um cachorrinho tão adorável, engraçado e sem jeito. Éramos duas crianças e tivemos uma infância maravilhosa juntos. Mas você cresceu, ganhou personalidade e definiu quais eram suas prioridades na vida: comida, nossa companhia e bolinhas de tênis (mas a ordem pode estar errada). Ninguém correu tanto, Buddie. Você era incansável! Jogar a bolinha pra você pegar era não só uma das coisas mais divertidas do mundo como também uma das mais surpreendentes. Acho que seus genes de caçador britânico se manifestavam de tal forma que nenhuma barreira era suficientemente grande. Nunca vou esquecer quando a bolinha caiu no lago do parque e você, sem pensar duas vezes, pulou, nadou e voltou com ela na boca, like a boss.
Sabe? Ter um cachorro muda a vida da gente. Você foi a primeira criatura que parecia depender de mim e que me amava sem esperar absolutamente nada em troca. E era recíproco. Poucas coisas vão ser mais gostosas que seu abraço, quando você ficava sobre duas patas, eu agachava e, de um jeito mágico, nos abraçávamos exatamente como dois humanos. Poucas coisas vão ser mais tristes que seus uivos pro caminhão de gás e sua decepção posterior, ao perceber que o som de Pour Elise já havia desaparecido no fim da rua e não tinha mais necessidade de continuar cantando. Poucas coisas vão ser mais brilhantes que seus olhos. Um brilho que acabou cedo demais.
A catarata precoce tornou tudo opaco e sem vida e as coisas ficaram bastante confusas. Postes, degraus e buracos começaram a surgir e mudar de lugar sem o menor aviso. Era difícil. E logo os ossos começaram a reclamar, porque passar a vida correndo atrás de bolinhas de tênis também tem seu preço. Os últimos meses devem ter sido difíceis. Desculpa pela distância, viu? Desculpa. Mas acho que foi melhor assim. Eu não conseguiria te ver partir.
E você foi tão forte, cara! A morte já tinha te visitado outras duas vezes, mas parece que comer veneno e passar 10 minutos na boca de um pit bull não foram suficientes pra te derrubar. (Tem certeza que você é um cachorro e não, sei lá, um touro?) A única coisa capaz de te vencer foi mesmo o que vence todos nós: o tempo. Essa força invisível, violenta e desgraçada que vai destruindo nosso corpo, mudando nosso rosto e levando quem a gente ama.
Hoje eu só queria agradecer por esses treze anos de vida do seu lado. Pela sua fidelidade, carinho e amor sem igual. Por conseguir transformar todos os seus instintos e toda a sua irracionalidade em compreensão. Porque nem toda a ciência do mundo vai conseguir explicar nossas conversas. Obrigado por estar sempre lá.
Dizem que na terça-feira uma criança jogou a bolinha pra você buscar. Espero que você tenha se divertido com ele. Tudo que eu queria agora era ser esse menino e poder te jogar a bolinha mais umas duas ou três vezes antes de sentar com você embaixo de uma árvore pra discutirmos como a vida não faz sentido e é cheia de injustiças. A maior delas, sem dúvidas, é deixar um coração tão bom quanto o seu simplesmente parar de bater.
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9 comentários:
Chorando litros...
:(
Que lindo filho! O seu amor pelo Buddie é a coisa mais pura e forte desse mundo! Todo menino merecia experimentar isso! E todo cachorro também!
Minha nossa! Estou chorando. Sinto muito!
Belo texto! A Lila também irá fazer falta quando se for. O que vale é ter levado uma vida boa ao lado de vocês.
que lindo.
chorei. de verdade.
porque as vezes ninguém entende quão forte é esse sentimento, seja lá ele qual for...
fique bem.
nada vai conseguir apagar essa dorzinha.. mas as lembranças também ficam, se agarre nelas o quanto puder..
Bill querido, a vida é feita de chegadas e partidas. È bom chegar, mas a partida é necessária. O importante é ser feliz e fazer feliz os que amamos, sejam pessoas ou animais de estimação. Tudo faz parte desse teatro que é a vida.
Beijos, te amo muito: Vó Zuzita.
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