Passei o ano inteiro botando o blog de lado.
Sempre que eu via, lia ou ouvia alguma coisa mais ou menos digna de nota (pra quem ainda não percebeu, a única função desse espaço é reunir as coisas mais ou menos dignas de nota que vejo, leio e escuto), era dominado por uma preguiça sem nome, que fazia com que eu desistisse de qualquer tipo de compartilhamento e optasse enfim por guardar as tais coisas somente na memória.
Ano passado não teve Top 10 dos melhores do ano, o que me fez ter a sensação de que não vi nenhum filme em 2013. Resolvido a não repetir o erro este ano, mas, em vez disso, pagar por ele, fiz a lista dos dez melhores filmes de 2014 e, de lambuja, uma lista inédita de álbuns e singles preferidos (coisa que nunca tinha me sentido apto a fazer até agora).
2014 foi o primeiro ano que passei na companhia de uma assinatura Rdio e isso fez toda a diferença (mais uma vez fazendo publicidade de graça, como uma mula) porque, se antes eu levava horas pra baixar, organizar e colocar minhas músicas no iTunes, agora eu podia fazer tudo isso em segundos e ainda recebia notificações quando qualquer artista da minha biblioteca lançava alguma coisa nova. Acabei ouvindo cinco vezes mais música que em 2013 e o resultado desse ano com pouquíssimo silêncio você vê aqui:
10. G I R L - Pharrel Williams
Vindo de um ótimo 2013, quando emplacou Get Lucky com o pessoal do Daft Punk e finalmente se tornou conhecido pelo povão, Pharrel Williams aproveitou 2014 pra dar uma virada definitiva na carreira (e conseguiu, oras!). G I R L foi lançado bem no comecinho do ano e tem uma coleção de black music, cheia de swing, batuques e estalos infalíveis para provavelmente 80% das situações em que uma boa música faz diferença. Tá certo que ninguém mais consegue ouvir Happy, mas Come Get It Bae, por exemplo, eu tava ouvindo agorinha mesmo e dando as mesmas reboladinhas que dei o ano todo.
9. Rock'N'Roll Sugar Darling - Thiago Pethit
Confesso que quando ouvi pela primeira vez tive uma opinião parecida com a da Nara, quando lhe mostrei os versos “doce como açúcar / explode na sua boca / vem chupar meu rock’n’roll": parece música da Xuxa, mas com putaria. E a verdade é que eu nem gosto de rock. O som de guitarras e amplificadores me excitam demais a ponto de me perturbar. Ano passado comecei a gostar de bateria, prestar mais atenção no instrumental das músicas e até mesmo a tolerar um ou outro chorinho de guitarra, mas nada que chegue perto do tanto de rock(!!!) que eu ouvi em 2014. E, claro, quando eu falo de rock, eu tô falando do meu limite aceitável de rock, que, sim, parece estar em evolução bastante íngrime até, mas ainda não chega perto de ultrapassar um Pato Fu ou uma Cássia Eller na fase média. Acontece que mesmo eu não gostando de rock e mesmo achando que o Thiago Pethit realmente tem certa inclinação a paquita, não resisti a uma segunda ouvida. Parece que comecei a entender que o cara estava cagando e andando pra tudo (no sentido da despretensão mesmo), que aquilo ali ele tinha feito num país distante, com pessoas não daqui, e que era o momento dele de chutar esse bode. O álbum é uma coisa safadíssima, cheia de trocadilhos infames e um instrumental ao mesmo tempo pesado (voz distorcida, tudo muito difícil de entender) e glamuroso (backing vocals, palminhas…), coisa que eu não tinha percebido tão bem à primeira audição. Acho que porque fiquei preso nas letras e, realmente, você também não deveria ir por esse caminho. Recomendo Vodoo, altamente viciante, e 1992, que é o tipo de música que eu gostaria de ter feito pra alguém.
8. Sound of a Woman - Kiesza
É o que aconteceria se a Madonna dos anos 70 fosse um pouco mais 'disco' e resolvesse lançar um álbum novo hoje, com toda a tecnologia disponível, etc. Kiesza faz música pra dançar (ela própria é uma dançarina super descolada, que adora ressuscitar uns passinhos que ficaram perdidos no tempo) e conquistou todo mundo com Hideway, que, penso eu, tocou em todas as academias do ocidente. E tome barulhinho de videogame pulsando na orelha, batidas eletrônicas retrô-modernizadas (ou moderna-vintagizadas), tome gritinhos e mais gritinhos de UH, AH, mesmas frases sendo repetidas à exaustão… e você só quer ficar ali, ouvindo uma atrás da outra e ressuscitando uns passinhos que ficaram perdidos no tempo.
7. Coraçao a Batucar - Maria Rita
Teve Copa sim e também foi horrível, nos golearam, nos humilharam, cuspiram na nossa cara etc, mas a gente é brasileiro, claro, e não desiste nunca. Eu, particularmente, aproveitei o CD novo da Maria Rita (o segundo só de sambas) pra curar essa dor de tom tão canarinho O CD segue um ritmo impressionante, pendendo pra porta-bandeira e mestre-sala diversas vezes. Fala de samba, de natureza, de Brasil, tem Maria Rita cantando absurdos e eu te desafio a ouvir No Mistério No Samba sem dar pelo menos uma quebradinha.
6. The New Classic - Iggy Azalea
Deixa a branca fazer o rap dela.
5. Olhos de Onda - Adriana Calcanhotto
Simplesmente a melhor gravação ao vivo que ouvi em muito tempo. Já falei sobre a tristeza absurda desse disco
aqui, mas a verdade é que Olhos de Onda é um álbum muito simples. São vinte músicas, uma atrás da outra, cantadas e tocadas pela Adriana Calcanhotto num show no Rio de Janeiro. O que faz diferença mesmo é o repertório. Que repertório! Tenho quase certeza de que ela canta pra uma mulher só.
4. My Favourite Faded Fantasy - Damien Rice
Mais uma tristezinha em forma de álbum que me acompanhou por muitos dos momentos de ansiedade e desespero de 2014. Damien Rice é meu cantor vivo preferido (pau a pau com Chico, se considerarmos o mundo todo), certamente o da voz mais bonita, e desde 2007 não lançava nada. Agora, se antes suas canções folks já indicavam certa danação emocional, com My Favourite Faded Fantasy Damien Rice atinge o lugar mais sombrio do poço. E é lá de baixo, numa sombra formada por outras sombras maiores, que ele chora um amor que, se algum dia ele teve, já não tem há muito tempo.
3. Ultraviolence - Lana Del Rey
Outro exemplar do tipo de rock que eu consumo. Lana Del Rey é conhecida pela languidez, rivotril e botox, mas em Ultraviolence, seu terceiro álbum de estúdio, a moça mostrou que sabe mexer também com guitarra e bateria. Todas as músicas partem de um cenário melancólico, que já era o cenário original da Lana em músicas como Yayo, Videogames e Blue Jeans, por exemplo, mas supera a pegada pop e reveste toda aquela massa de voz oceânica e letra depressiva em uma camada bem grossa de rock minimalista. Fora a corta-pulso Black Beauty e a impecável West Coast, Lana Del Rey ainda me vem com Brooklin Baby, onde cantarola lindamente, e Florida Kilos, onde mostra que ainda dá pra dançar.
2. Esmeraldas - Tiê
Nem o pessoal daqui de casa aguenta mais, do tanto que eu não paro de ouvir esse álbum. Sempre tive uma certa fascinação pela Tiê, que era um pouco por conta da beleza, mas principalmente pela veia autoral nítida desde o seu primeiro trabalho, Sweet Jardim (pra quem não conhece, indico uma boa ouvida em A Bailarina e o Astronauta), e o que era fascínio, depois do lançamento de Esmeraldas, virou obsessão. As letras da Tiê parecem bobas, mas alguma coisa me diz que elas não são. Também não posso afirmar que são cheias de duplo sentido, rancores maduros e recalques sofridos, porque as músicas têm o sentido que a gente dá pra elas. Falo por mim, quando digo que aprendi uma vida de coisas com essas 12 faixas tão fáceis de ouvir. Os arranjos estão muito menos minimalistas, o que também não significa que estejam pauleira, e se conectam às letras com uma organicidade tão grande que eu não imagino uma coisa nascendo antes da outra. O final de Depois de um Dia de Sonho sempre me faz quase chorar e a letra de Urso é tão boa e nonsense, que virou meu hino particular de 2014. Decore você também.
Ok, se a família já está reclamando do tanto de Tiê que escutei ao longo do ano, o mesmo é válido para o BEYONCÉ da Beyoncé. Não só a família, mas os amigos, os vizinhos, os colegas de curso, os contatos do Snapchat… Ninguém mais aguenta me ouvir ouvindo Haunted, ou Partition, ou Flawless, ou Blow, ou Drunk In Love… E olha que o álbum foi lançado no finzinho do ano passado (o que não o classificaria como melhor álbum de 2014, mas parece que Beyoncé também pensou nisso e mês passado relançou tudo num pacotão deluxe com mais umas três músicas inéditas, uns três remixes e um kit de brinquedos eróticos + um beck bem bolado que vem de brinde para clientes Itaú Card, mediante apresentação da carteirinha de um dos 863 fã-clubes oficiais do Jay-Z). Não tenho muito a acrescentar. Apenas que foi a melhor coisa que Beyoncé já fez. Um CD inteiro tingido de preto, com um neon rosa piscando no meio. Falar que é sobre feminismo seria mentira, falar que é sobre amor, também. Falar que é sobre sexo… É… Podemos falar que é sobre sexo.
Bônus (porque o post também é Deluxe Edition):
Também fiz uma lista rápida dos 10 melhores singles lançados em 2014, que estão aqui no final, de castigo, ou porque seus álbuns de origem ainda não foram lançados, ou porque foram lançados mas não tiveram seu conjunto da obra classificado para o Top 10 álbuns, o que não torna essas 10 músicas listadas abaixo menos maravilhosas, muito pelo contrário. A ordem é alfabética, porque eu já estou cansado de fazer escolhas difíceis.
Blue Gangsta - Michael Jackson
Já morreu há anos e ainda faz música melhor que metade desses bunda-branca de hoje em dia.
Every Other Freckle - alt-J
O CD novo do alt-J me decepcionou um pouco, mas não por causa disso:
Froot - Marina and the Diamonds
2014 foi living la dolce vita como se não houvesse amanhã.
Habits (Stay Hight) - Tove-Lo
Pra cantar bem alto quando o mozão estiver longe.
Let Me Down Easy - Paolo Nutini
Revelação do ano, segundo minha própria cara de perplexidade ao ouvir esse homem pela primeira vez.
Magic - Coldplay
Se você ainda não chorou ouvindo essa música, pode voltar pra janeiro e repetir 2014.
Make Her Say (Beat it Up) - Estelle
Pra ouvir com catuaba.
My Club - Asteroids Galaxy Tour
Talvez a única bandinha que eu realmente ame. Voltou com esse single belíssimo, mas entregou um álbum meia-boca depois.
NEW DORP. NEW YORK - SBRKT
Foi o carinha do Vampire Weekend que emprestou a voz pra essa que é a música eletrônica mais gostosa de se ouvir na face da terra.
Paradise - Big Sean
Rebola, safado!
E ainda tem os filmes...