Certo dia meu pai apareceu lá em casa com um aquário. Um desses aquários grandões, quadrados, com peixes variados e pedras e algas de enfeite. Desde então só temos dado manutenção, com um punhado de comida por dia, já que não rola a necessidade de um carinho ou de levar o peixe pra passear. Sim, peixe é o bicho de estimação mais chato ever, perdendo apenas pros passarinhos (que, além de não fazer nada, ainda fazem barulho). Semana passada meus pais viajaram e eu fiquei responsável pela casa e pelos animais da casa: o Buddie, os peixes e as formigas (que, de tanto tempo que frequentam a cozinha, acabaram ganhando nome e apelido). O Buddie e as formigas ficaram bem, mas os peixes...
O aquário está nojento há dias e ninguém tem coragem de lavar. O que tem no vidro já não pode ser chamado de lodo, é algo mais próximo de uma floresta amazônica. E ontem fui colocar comida e achei dois peixes mortos, boiando. Um deles estava pela metade, o que foi assustador (já que a outra metade continua desaparecida). Decidido a salvar a vida dos outros animais, enchi um balde de água, coloquei umas pedrinhas no fundo pra eles não estranharem e fiz a transferência. Eles devem estar aliviados, pensei eu, vendo a água limpa do balde em comparação à imundície do aquário. E fui dormir feliz.
Hoje, quando acordei, todos os peixes estavam mortos. TODOS.
Sabe? É típico. Porque eu faço isso o tempo todo nos meus relacionamentos. Estou vendo a pessoa sofrer, atolada em uma sujeira impossível de se limpar, e acho que ela ficaria bem melhor em um balde com água limpa. Pego a pessoa, mudo ela de casa, tiro dela suas pedras, suas algas e seu lodo, tudo com a intenção de ajudar, é claro, de salvá-la dessa podridão, e no dia seguinte, quando acordo, cadê meu peixe? Está morto, flutuando numa água potável.