Dia desses, meu cunhado veio falar que minha família não sabe ter amigos. Que somos todos antissociais, fechados em nosso círculo de piadas internas, etc. E olha, por mais que exista certa implicância da parte dele, não acho que alguém essa semana tenha dito algo mais verdadeiro. E é o tipo de coisa que a gente sempre soube, mas nunca quis encarar. Nós cinco: eu, meu pai, minha mãe e meus dois irmãos mais velhos, não sabemos fazer amigos. Nunca aprendemos como se faz. Até porque, imagino que isso não seja o tipo de coisa que se ensine em algum lugar.
O fato de a minha família ser mineira explica boa parte do problema. Mineiros são extremamente apegados aos seus parentes mais próximos. Gostam de tomar o lanche da tarde, numa mesa grande, onde todos poderão sentar, sorrir, comer seus pães de queijo e fazer o papel de pai, mãe, filho e irmão, que é o certo a se fazer nessas situações. A família é tudo pra gente. Então, fora dela nada faz muito sentido. Nunca precisamos de amigo, sabe? Não dá pra entender, mas o raciocínio é justamente esse. Acho que a gente se bastava.
E daí, multiplicam-se as cenas de grandes festas, envolvendo pessoas das mais variadas origens, todas conversando entre si, e a minha família sempre unida, numa mesa, sem interagir com mais ninguém (e sem deixar que ninguém interagisse conosco). Não é nada premeditado. Tanto que só fui perceber dia desses. Simplesmente não nos damos bem com os outros. E não nos esforçamos pra isso.
Particularmente, posso dizer que tenho alguns poucos amigos, mas todos eles surgiram de forma completamente absurda, sendo a culpa da amizade muito mais deles que minha. Não sei ser espontâneo com as pessoas. No cursinho, quando tento falar com alguém que não conheço, sempre acabo parecendo um louco ou um retardado. Na maioria das vezes o resultado é um silêncio longo e constrangedor. Então, tenho preferido não falar.
Como todo mundo sabe (já que eu não canso de chorar essa pitanga aqui no blog), meus pais se mudaram de Brasília, me deixando sozinho em terras estranhas. E essa seria a grande oportunidade de desenvolver meus atributos sociais, já tão atrofiados. Com o rompimento temporário do clã familiar, naturalmente, eu teria mais tempo para me dedicar às novas amizades ou fortalecer as antigas. Eu poderia ficar mais natural com gente nova, eu poderia ficar menos antipático, eu poderia ficar mais sincero, eu poderia ficar tudo isso, mas o máximo que consegui até hoje foi mesmo ficar sozinho.