quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Família Forever Alone

Dia desses, meu cunhado veio falar que minha família não sabe ter amigos. Que somos todos antissociais, fechados em nosso círculo de piadas internas, etc. E olha, por mais que exista certa implicância da parte dele, não acho que alguém essa semana tenha dito algo mais verdadeiro. E é o tipo de coisa que a gente sempre soube, mas nunca quis encarar. Nós cinco: eu, meu pai, minha mãe e meus dois irmãos mais velhos, não sabemos fazer amigos. Nunca aprendemos como se faz. Até porque, imagino que isso não seja o tipo de coisa que se ensine em algum lugar.

O fato de a minha família ser mineira explica boa parte do problema. Mineiros são extremamente apegados aos seus parentes mais próximos. Gostam de tomar o lanche da tarde, numa mesa grande, onde todos poderão sentar, sorrir, comer seus pães de queijo e fazer o papel de pai, mãe, filho e irmão, que é o certo a se fazer nessas situações. A família é tudo pra gente. Então, fora dela nada faz muito sentido. Nunca precisamos de amigo, sabe? Não dá pra entender, mas o raciocínio é justamente esse. Acho que a gente se bastava.

E daí, multiplicam-se as cenas de grandes festas, envolvendo pessoas das mais variadas origens, todas conversando entre si, e a minha família sempre unida, numa mesa, sem interagir com mais ninguém (e sem deixar que ninguém interagisse conosco). Não é nada premeditado. Tanto que só fui perceber dia desses. Simplesmente não nos damos bem com os outros. E não nos esforçamos pra isso.

Particularmente, posso dizer que tenho alguns poucos amigos, mas todos eles surgiram de forma completamente absurda, sendo a culpa da amizade muito mais deles que minha. Não sei ser espontâneo com as pessoas. No cursinho, quando tento falar com alguém que não conheço, sempre acabo parecendo um louco ou um retardado. Na maioria das vezes o resultado é um silêncio longo e constrangedor. Então, tenho preferido não falar.

Como todo mundo sabe (já que eu não canso de chorar essa pitanga aqui no blog), meus pais se mudaram de Brasília, me deixando sozinho em terras estranhas. E essa seria a grande oportunidade de desenvolver meus atributos sociais, já tão atrofiados. Com o rompimento temporário do clã familiar, naturalmente, eu teria mais tempo para me dedicar às novas amizades ou fortalecer as antigas. Eu poderia ficar mais natural com gente nova, eu poderia ficar menos antipático, eu poderia ficar mais sincero, eu poderia ficar tudo isso, mas o máximo que consegui até hoje foi mesmo ficar sozinho.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Os Corações Selvagens


Descobri Cartas Perto do Coração entre os livros ainda não lidos da minha irmã. Reconheci a edição da Record (no mesmo formato de O Homem Nu, O Bom Ladrão e O Menino do Espelho), tirei da estante e fiquei assombrado ao perceber que tratava-se de uma compilação de correspondências trocadas entre Fernando Sabino e Clarice Lispector. Apenas. E, né? Esses dois monstros juntos... Não tinha como ser ruim.

Fernando Sabino é o autor do meu livro preferido, O Encontro Marcado. Eu me identifico tanto com esse romance que fica até difícil explicar. Na verdade, nem gosto de explicar, porque o livro não tem um final muito louvável e me sinto invadido, vendo meus pensamentos, sonhos e medos expostos assim, de forma tão despudorada. E Clarice dispensa qualquer apresentação. É a queridinha da literatura moderna, indiscutivelmente genial, etc.

Basicamente, os dois escritores, ainda jovens, trocam experiências e originais de obras ainda por lançar. Falam sobre a dificuldade de conseguir uma editora, os mistérios do ato de criar e as saudades do país (ambos moraram fora do Brasil por muito tempo). É engraçado ver que Sabino já era bastante conhecido quando Clarice começou a fazer sucesso e ela meio que submetia seus textos à avaliação do amigo. Fernando Sabino CORRIGIA Clarice Lispector, ok? Hoje parece piada, já que a moça ficou muito mais famosa que Fernando Sabino, Paulo Coelho, Machado de Assis, Buda, ou qualquer ser vivente. Todos nós sabemos.

As cartas são tão boas que eu fiquei tentado a copiar o livro inteiro aqui no blog, mas fui comedido e separei só os trechos mais interessantes.

De Sabino para Clarice:

"Tenho uma grande, uma enorme esperança em você e já te disse que você avançou na frente de todos nós, passou pela janela, na frente de todos. Apenas desejo intensamente que você não avance demais para não cair do outro lado."

"Porque você por dentro não vai bem não, Clarice Lispector, você por três vezes já se esqueceu de sorrir quando era preciso"

"A arte não nos satisfaz porque não passa disso: é o testemunho de nós mesmos. O verdadeiro testemunho é o dos santos e a nossa tristeza mais irremediável é a de nem ao menos saber onde é que perdemos nossa única oportunidade de sermos santos."

"Nosso livro é o nosso testemunho, Clarice, é a única coisa que temos. Nele é que aprendemos a viver nascendo, nele é que vivemos, viajamos, temos filhos, amigos - é a nossa realidade, nosso testemunho. Às vezes contra nós mesmos. Ele é que vai viver sozinho, vai agir pró ou contra, vai ter uma individualidade da qual não participamos, de filho pródigo que não retorna. Nós não, nós perdemos. Nós perdemos sempre, Clarice."

"Você, de certo modo, me dispensa de escrever. Resta o consolo de pensar que se eu fosse capaz, como você, de dizer o indizível, eu teria a dizer certas coisas que você ainda vai dizer. E me limito a ficar esperando."

De Clarice para Sabino:

"Não trabalho mais, Fernando. Passo os dias procurando enganar minha angústia e procurando não fazer horror a mim mesma. Tem dias que me deito às 3 da tarde e acordo às 6 para em seguida ir para o divã e fechar os olhos até as 7 que é hora de jantar. Isso tudo não é bonito. Sei que é horrível. Caí inteiramente e não vejo um começo sequer de alguma coisa nascendo."

"Tive um verdadeiro cansaço em Paris de gente inteligente. Não se pode ir a um teatro sem precisar dizer se gostou ou não, e porque sim e porque não. Aprendi a dizer "não sei", o que é um orgulho, uma defesa e um mau hábito porque termina-se mesmo não querendo pensar, além de não querendo dizer."

"Cada vez que penso no seu livro [O Encontro Marcado] - e tenho vivido com ele nesses últimos dias - gosto mais. O envolvimento é insensível, é feito por acumulação, por estrangulamento gradativo que vem de todos os lados. Sei que estou usando palavras que talvez lhe soem fortes demais (tive uma noite de insônia, acredite...), mas, Fernando, foi assim que senti: encostada à parede, e me deu um desespero que me deu vontade de lhe dizer: Fernando, vamos mentir que não é assim."

Vamos, Clarice. Vamos mentir que não é assim.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Looser Like Me


Antes de dar minha opinião sobre Glee 3D, queria reclamar de duas coisas:

1. Todas as cópias são dubladas. Todas. Não é como se eu fosse contra o direito dos preguiçosos de ver o filme com o áudio todo cagado, mas uma coisa é dar essa opção, outra coisa bem diferente é obrigar todo mundo normal e alfabetizado a assistir o filme assim. Sério. Mas eu nem vou argumentar aqui, porque o Pablo Villaça já fez isso muito bem, dia desses. Leiam.

2. Por que diabos estão tratando Glee como High School Musical? Chega a ser ofensivo! Não sei se a culpa é dos fãs, incapazes de se controlar, ou se os blasés do Twitter não conseguem mesmo ver uma coisa legal fazendo sucesso sem criticar (tome como exemplo o clipe delícia dA Banda Mais Bonita da Cidade). Só sei que é um comportamento ridículo. Porque Glee pode não ser a melhor série no ar atualmente, mas é o primeiro musical pra TV que dá certo depois de décadas! E isso é inquestionável. Tudo bem. Ela é cheia de defeitos, tem episódios vergonhosos e alguns clichês completamente evitáveis. Tudo isso é verdade. Por outro lado, as músicas são muito bem selecionadas, as versões, em sua maioria, são ótimas, os atores são competentes e a proposta é boa. Então não entendo o recalque. Não entendo essa necessidade de parecer acima do populacho, porque Glee agora passa na Globo e, minha nossa, tem pobre assistindo, deve ser um lixo!

Enfim.

Gostei do filme (que na verdade é um show intercalado com trechos de bastidores e uma espécie de documentário com estudantes que se identificam com a série). Achei a parte documental bastante fraca, mas pode ser culpa da dublagem. Já as apresentações são muito boas, mas fiquei paranoico, tentando descobrir quem tava usando playback e quem tava cantando de verdade, o que me tirou completamente a concentração.

Amanhã a terceira temporada começa nos EUA. E ela vai contar com a presença do vencedor daquele The Glee Project (um reality show que, sozinho, foi responsável pelos momentos mais felizes do meu último mês - e por aí vocês imaginam quão empolgante tem sido minha vida).

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

É Impossível Comer um Só

Todo mundo, aos oito anos de idade, adora Fandangos. E Ruffles, chocolate, pizza, sorvete, batata frita, hambúrguer... Porque são alimentos que entregam de cara o que a gente está procurando: açúcar, sal e gordura. Alimentos que não dependem de muita elaboração ou cerimônia, não são sofisticados, mas cumprem o prometido. Acontece que as pessoas crescem e, naturalmente, aprendem a refinar o paladar. E começam a procurar sabores mais sutis e imprevisíveis, capazes de proporcionar novas experiências gustativas. Mas eu não cresci. E hoje passo por situações constrangedoras como: ter que ir pro banheiro com meu pacote de Fandangos pra ninguém ver um homem de 20 anos comendo salgadinho no intervalo do curso.

Em algum momento da vida, todo mundo toma consciência dos seus piores defeitos. E acho que esse momento chegou pra mim, quando descobri que sou medíocre. Na verdade, sempre desconfiei, mas tinha esperança de ser coisa da idade. Não era. E o Fandangos tá aí pra provar.

Eu sempre acabo preso naquilo que não é incrível, mas também não é um lixo (ok, Fandangos é um lixo). Por exemplo: meus lugares preferidos pra comer são Outback e Pizza Hut. Sabe? Tudo tão previsível! Eu não consigo preferir nenhum bistrô, cantina ou restaurante legal, por mais refinado que ele seja. Simplesmente aposto naquilo que já conheço e fico ali, estagnado, pedindo Quarterão Grill até os 50 anos de idade.

Nos campos culturais é assim também. Eu poderia estar lendo Guimarães Rosa, Eça de Queiroz, Dostoiévski ou Edgar Allan Poe, mas prefiro continuar com meus romances britânicos de fácil digestão. Porque uma preguiça enorme toma conta de mim quando penso em ler qualquer coisa que exija mais do que eu esteja disposto a oferecer. E ultimamente tenho estado disposto a oferecer muito pouco.

Também tenho pavor do que é novo. Não adianta olhar cardápio, porque eu sempre peço a mesma coisa e, minha nossa, como odeio experimentar! Sério. Pede pra eu tocar La Bamba com os dentes, mas não me pede pra "provar isso aqui".

Não estou reclamando. Acho inclusive que é muito mais fácil ser feliz assim: com filmes hollywoodianos, Agatha Christie e pacotes de Fandangos saboreados nas surdinas da vida.

PS: Esse blog está cada vez mais absurdo. Toda a sua proposta me parece incrivelmente tola (primeiro por não ter proposta, segundo por, ainda assim, não conseguir cumpri-la). E de uns tempos pra cá, acho que uma força tomou conta dos meus dedos e começou a digitar palavras que nunca levam a nada. Tenho sofrido muito pra terminar os textos, porque sempre acabo arrependido de tê-los escrito. Felizmente, a mesma força que me obriga a escrever, acaba por me convencer a clicar no botão laranjado de publicar postagem. Comentem, por favor. Nunca pedi isso, mas hoje estou numa carência de dar pena. E preciso saber se alguém tá entendendo alguma coisa, porque eu não tô.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Top 5 - Jogos para iPhone


Então vamos parar de fingir que fazemos alguma coisa da vida, né? Vamos parar. E assumir de vez o vício por essas maravilhas em forma de app. Porque sem eles, nossas viagens de ônibus, tardes de espera e noites de insônia seriam ainda mais insuportáveis.

Preparei um pequeno Top 5 com os jogos mais deliciosos, viciantes e essenciais para iPhone e iPod Touch. Tudo baseado na minha vasta experiência em tédio. Aproveitem!

5. Bejeweled 2

Bejeweled é uma evolução do Tetris. O tipo de jogo que funciona perfeitamente bem em celulares, por ser prático e dificilmente enjoativo. O objetivo é simples: unir 3 ou mais símbolos de cores iguais e somar o maior número de pontos, antes que o tempo ou suas opções de movimento terminem. Aqui em casa, é o único que minha mãe topa jogar. E ela não só joga, como é mais viciada que eu. Parece que dá pra jogar online aqui.




O clássico dos jogos para iPhone! Virou febre mundial, vendendo roupas, brinquedos e objetos de decoração, com direito a uma loja oficial só pra isso. Todo o sucesso do jogo se deve à combinação perfeita de física (movimento balístico) e à catarse oferecida pela destruição do cenário. Depois que começamos a arremessar passarinhos por aí, é muito, muito difícil parar. Já existem mais duas versões do game: Angry Birds Seasons e Angry Birds Rio, onde você tem que matar macacos e não porquinhos.



Vencedor do Apple Design Award 2011, Cut the Rope é o tipo de jogo que, além de ter um visual incrível, quebra a nossa cabeça. Já passei uma semana inteira tentando passar de uma fase. Tudo o que você precisa fazer é levar uma bala para a boca de um bichinho verde muito simpático. Para isso, você vai ter de cortar cordas, rodar manivelas, estourar balões, fugir de aranhas e, às vezes, fazer tudo isso em menos de 30 segundos. O universo do jogo é enorme e as fases, muito bem elaboradas. Também conta com a versão natalina: Holiday Gift.



Tap Tap Revenge se consolidou como o Guitar Hero para os dedos e já está em sua quarta edição. O jogo tem um repertório respeitável de música pop, embora a maioria dos tracks seja paga. E também é a franquia de jogos portáteis com o maior número de versões que eu já vi. Existe Tap Tap da Lady Gaga, Coldplay e até do Glee. Depois de alguns dias de treino, é possível jogar online, com gente de qualquer lugar do mundo. Aí sim, você percebe que existem dedos muito mais rápidos no gatilho.



Sem dúvidas, o meu preferido! Tiny Wings conta a história de uma ave que nasceu com asas muito pequenas pra voar. Por isso, ela precisa pegar impulso nas mais altas montanhas para tentar alcançar um pouco do céu. É tudo muito comovente e poético. Os gráficos são charmosos desenhos em aquarela que simulam o passar de um dia. É este o tempo que você tem para levar sua ave o mais longe (e mais alto) possível. A trilha sonora é linda, e me faz querer chorar.



PS: Espero que vocês não se importem com essa total falta de critério, sequência ou relevância na elaboração dos posts. Esse blog nunca foi bom de foco.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sobre a Incapacidade de Ser Feliz nas Manhãs

Todo dia, quando estou indo pro cursinho, passo perto de um grupo de idosos que se encontram pra fazer exercícios físicos ao ar livre. E aí que hoje eles estavam abraçando as árvores. Exatamente. Sete horas da manhã, friozinho gostoso, e alguém no mundo achou ok passar 15 minutos abraçando árvore. Árvore! Com direito a rostinho colado no tronco e tudo. O problema não é o exercício físico em si (tem gente por aí que abraça coisa muito pior que uma angiosperma), mas a capacidade heroica dessas pessoas de serem felizes pela manhã. E olha que elas não têm muito o que fazer a não ser esperar pela morte. É gente aposentada, que acorda antes do sol nascer, rega as plantinhas, troca a areia dos gatos e vai pra rua abraçar árvore. Um exemplo.

Pra mim, não existe nada no mundo pior que acordar. Repare que eu não falei "acordar cedo", é só acordar mesmo. Independente do horário, é horrível! Os ossos doem, o nariz entope, a garganta arranha, os dedos tremem, a boca arde... Sempre tenho a impressão de que teria sido melhor continuar dormindo por toda a eternidade a ter que enfrentar o infinito trajeto da cama ao banheiro. E outra... Com toda essa alergia e rinite, eu levo cerca de 40 minutos pra conseguir respirar direito. Qualquer dia, ainda calculo o número de espirros e os metros de papel higiênico.

Então saio de casa com o nariz vermelho e um ótimo humor. E aí começa a epopeia do transporte público. Enfrento ônibus lotado, motorista atrevido, gordinha safada, vendedor ambulante e ainda tenho que caminhar uns dois quilômetros até chegar ao meu destino. Então sempre que passo pelo grupo zen da terceira idade estou a ponto de desistir de tudo, sentar na calçada e começar a chorar. É talvez o momento mais crítico do dia. Sempre penso em desistir Mas aí me aparece um monte de velhinho fofo, com chapéu na cabeça... Abraçando árvores. E com os olhos marejados, sem entender se o que eu sinto é ternura ou pena, respiro fundo e dou mais um passo.