segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Eu sou palhaço. E você?


Aproveitei que uma aluna tinha desmarcado a aula da tarde e corri pro cinema, numa tentativa inútil de acabar com a lista "Quero ver" do Filmow. Comprei logo os ingressos pra duas sessões seguidas: Contágio, com Kate Winslet e grande elenco (grande mesmo) e O Palhaço, novo filme do Selton Mello (escrito, dirigido e estrelado por ele). Todos com um preço promocional maravilhoso de segunda-feira. Fiz os preparativos pra tarde, enchendo a mochila de salgadinho e refrigerante, e me joguei nas poltronas vermelhas do Kinoplex.

O primeiro filme, o relato de uma epidemia mortífera dominando a Terra, é bem amarrado, bastante tenso e conta com muita gente boa (de modo que eu não sabia se prestava atenção na Kate Winslet, na Marion Cotillard, no Jude Law ou no casal sentado à minha frente). Mas O Palhaço, esse sim, fez minha alma deixar Brasília, deixar esse tempo, e ir parar na estrada, ao lado de uma trupe circense e mambembe dos anos 70, onde a história acontece.

Benjamim (Selton Mello) é um palhaço que trabalha com o pai (Paulo José), o dono do Circo Esperança e também palhaço. Cansado, depressivo e sem a menor certeza de que é essa vida que ele quer, Benjamim passa a se arrastar nas apresentações e a causar estranheza fora de cena. Perdeu a graça. E em certo momento da projeção, o pai de Benjamim diz pro filho algo como: "A gente tem que fazer o que sabe fazer. O gato bebe leite, o rato come queijo e eu sou palhaço. E você?".

Benjamim não sabe responder. Não sabe o que é. Ele não tem identidade. Sério... A identidade mesmo, de papel... Ele não tem. Tem só uma certidão de nascimento um tanto amassada que não lhe vale nem pra comprar um ventilador. Então ele decide correr atrás da sua identidade. E aí eu já não tô mais falando de papel.

Só sei que minha namorada chorou no final, porque o filme é mesmo bastante bonito e sincero. Tem um ambiente muito melancólico, um povo muito sofrido, mas um povo que sabe sorrir. Sei lá... Circo é uma coisa meio depressiva. Um monte de gente pagando por um pouquinho de felicidade e outros tantos recebendo pela mesma coisa. E comercializar felicidade pode mesmo ser um pouco confuso. A gente acaba sem saber se é feliz porque pagou ou porque tá sendo pago.

Voltando pra casa, abri minha mochila e tirei umas latas de Pringles já pela metade, um biscoito de chocolate mais caro que gostoso, os ingressos usados do cinema, algumas revistas e um livro que estou lendo há sei lá quantos meses. E fiquei confortável, vendo aqueles símbolos. Fiquei confortável com a ideia de que, bem ou mal, isso sou eu.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

As Paredes Têm Ouvidos

Nunca foi tão difícil escrever. Estou completa e irreversivelmente travado, de modo que não sei se esse blog sobrevive por muito tempo. Os parentes estão por toda parte, eles brotam nas redes sociais... Eles e os velhos que nunca entendem nada, mas fazem questão de comentar, opinar e aconselhar em cada nova atualização. E eu morro de vergonha, fico me escondendo... Não sei o que responder, não sei o que fazer. Parece que estão invadindo um espaço que, logicamente, é público, mas que até então era só meu e de semi-desconhecidos que não se importavam muito com minha saúde e bem estar.

É um paradoxo. Porque eu escrevo na internet pra ser lido. Eu gosto de ser lido. É esse o objetivo, não é? E, de uma forma ou de outra, fui eu que acabei abrindo esse espaço. Não posso culpar meus pais por lerem um texto público, escrito pelo próprio filho, e divulgado amplamente nas redes sociais.

Eu gosto de ter minha família por perto, realmente não vejo problema em todos eles terem Twitter e Facebook. Mas o tipo de exposição que eu faço não é muito agradável. E muita gente fica incomodada. Faço autodepreciação, reclamo de muita coisa, falo besteira, exagero... E desculpa, mas é assim que sei me expressar. Não tô fazendo tipo. Não tô querendo impressionar. Tô só dizendo que ontem um piano caiu na minha cabeça, porque foi exatamente assim que me senti. A parte de ler e interpretar fica por conta do cliente.

Na maioria das vezes, acabo chateando e preocupando todo mundo, de uma forma ridiculamente egoísta. E isso me constrange. E ver alguém se preocupar comigo publicamente também me constrange. Não sei por que. Mas tem me irritado muito essa incapacidade de dizer o que eu quero falar, por medo de incomodar as pessoas que eu amo.

Das duas uma: ou você começa a cagar pra todo mundo e sai como o egoísta que não consegue disfarçar sua carência, ou você começa a se censurar e, pouco a pouco, vai limitando seu vocabulário, suas ideias e seus pensamentos até cair num silêncio eterno.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Selo Amy Winehouse de Garantia


Já acho que tá na hora das pessoas pararem de se referir à Dionne Bromfield como "a afilhada de Amy Winehouse", porque, apesar do prestígio da falecida, Dionne tem talento suficiente (de sobra, na verdade) para seguir um caminho independente. E é o que tem feito. Mês passado, através do selo Lioness Records, criado pela madrinha, Dionne lançou seu segundo CD: Good for The Soul. Ainda mais impressionante que o primeiro e, desta vez, com canções inéditas.

Ela só tem 15 anos, então o medo de todo mundo era que a moça fosse corrompida e embarangada pela indústria fonográfica e acabasse desperdiçando seu talento em uma carreira projetada para vender músicas no iTunes. Isso ainda não aconteceu, mas naturalmente, esse segundo trabalho já parece um pouco mais trabalhado que o primeiro, com participação de rapper, etc, mas continua excelente.

Dionne Bromfield é tão nova e tem uma voz tão incrível que o fato de também ter um refinadíssimo gosto musical só reforça a certeza de uma das mais promissoras cantoras da Inglaterra. E olha que estamos falando de uma Inglaterra que hoje conta com gente como Adele, Florence Welch e Duffy.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Lei do Interesse

Apareceram umas aftas na minha boca e tudo o que eu queria agora era ter minha avó por perto pra dizer que "isso aí é emocional". Porque pra ela, realmente, todos os males e doenças que nos atingiam, começavam na cabeça. Para parar de soluçar, vovó ensinava o truque: nada de tomar três goles d'água, prender a respiração ou levar um susto, o único jeito era se concentrar, contar 1, 2, 3 e dizer um "parou" com bastante fé. Se a sua mente conseguisse se controlar, naturalmente seu sistema digestório seguiria o mesmo caminho. E nessa brincadeira, nunca vi a danada falhar.

Pra minha vó, a mente era a origem e solução de todos os desvios de comportamento humano. A maldade não existia. Ninguém era mau, todo mundo era doente. Sim, porque meu avô sempre bebia, sempre aprontava, sempre fazia com que ela e os filhos sofressem... Chegou ao cúmulo de jogar cachaça no olho de um gatinho, por pura maldade. Mas até hoje, com meu avô já morto, ela continua dizendo que nunca teve raiva. Tinha pena. "Ele era um homem doente".

Nunca vi minha avó julgar ninguém por um erro, e olha que, às vezes, o erro era realmente digno de julgamento, quiçá, pena de morte. Ela conhecia a alma humana muito bem e essa compreensão fez com que entendesse que as pessoas não são ruins porque querem. Que ninguém escolhe o mal ou que, se acabou escolhendo, certamente foi porque não estava em seu juízo perfeito.

Acho que vou acabar exatamente como a minha avó. Colocando a culpa de tudo que é erro, afta ou cachaça em olho de gato nas doenças psicológicas. Estou julgando cada vez menos e sendo cada vez mais tolerante e compreensível com as falhas alheias. Talvez por também estar adquirindo certa compreensão da alma humana ou, na hipótese mais provável, por já estar pensando no meu próprio julgamento e desejando que a mesma misericórdia que dispenso ao meu próximo, seja dispensada a mim no último dia.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Milhares de Robs Flemings

Estou lendo Alta Fidelidade, do Nick Hornby, pela segunda vez. Na verdade, quando li pela primeira vez, não cheguei a terminar. Faltavam cerca de 80 páginas pro fim do livro, quando esqueci meu exemplar em um dos bolsões de uma aeronave da Gol. Eu estava indo de Brasília pra São Paulo e só fui me dar conta da perda quando cheguei na casa dos meus pais, em Campinas.

Tive que comprar outro, já que recuperar um livro perdido num avião de linha econômica é tarefa quase impossível (de modo que nem tentei). E como fui obrigado a interromper a leitura por alguns dias, decidi recomeçar, porque tenho TOC porque não gosto de interromper leitura de romances. Principalmente de romances britânicos.

Por incrível que pareça, estou achando o livro ainda melhor desta segunda vez. Alguns trechos são realmente geniais. Não por trazerem uma linguagem inovadora ou uma constatação inédita, mas por conseguirem resumir com clareza boa parte das mazelas que nós (os apaixonados por cultura pop) sofremos.

Estou me sentindo vingado! Compreendido! Consolado! E certamente, vou recomendar a leitura pra minha namorada, mãe, amigos e todo mundo que nunca entendeu essa paixonite por filmes, músicas e livros, pra eles verem que eu não tô sozinho.

"O que veio primeiro, a música ou a dor? Eu ouvia a música porque estava infeliz? Ou estava infeliz porque ouvia a musica? (...) As pessoas se preocupam com o fato das crianças brincarem com armas e dos adolescentes assistirem a vídeos violentos; temos medo de que assimilem um certo tipo de culto à violência . Ninguém se preocupa com o fato das crianças ouvirem milhares – literalmente milhares – de canções sobre amores perdidos e rejeição e dor e infelicidade e perda. As pessoas afetivamente mais infelizes que eu conheço são as que mais gostam de música pop; e não sei se foi a música pop que causou tal infelicidade, mas sei que elas vêm ouvindo as canções tristes há mais tempo do que vêm vivendo suas vidas infelizes."

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Quero que você me aqueça nesse inverno...


Game of  Thrones é o tipo de série que tinha tudo pra ser péssima: uma história grandiloquente, cheia de gente agasalhada e barbuda, jogos políticos chatos, batalhas medievais intermináveis e até um toque sobrenatural... Aparentemente, nada ali seria capaz de me segurar por mais de dois episódios. Assisti ao piloto achando tudo extremamente confuso e errado, mas na última cena, somente nela e por ela, eu tive certeza que assistiria a série até o fim.

Assistir uma série até o fim (isto é, até o último episódio disponível na internet) é de uma raridade absurda na minha vida atual. E nem é excesso de exigência, porque devo ter umas 16 séries na minha watchlist do Orangotag. O problema é que todas estão atrasadas. Não sei dizer ao certo quando comecei a perder os episódios. Na verdade só percebo o descompasso quando anunciam a 5ª temporada enquanto eu estou na metade da 2ª. Mas Game of Thrones eu fiz questão de não deixar atrasar. De separar todo e qualquer tempo livre, encher um copo de coca-cola, e colocar a série em dia. Devo dizer que valeu a pena.

A história não vai parecer grande coisa: temos uma família de nobres, cujo pai é um homem digno e justo (apesar de degolar um inocente logo em sua primeira cena). Temos um rei gordo e bêbado que é amigo desse homem justo e vive cercado por interesses obscuros. Temos uma loirinha que é obrigada a casar com um brutamonte, no melhor estilo A Bela e a Fera da Idade Média. Temos cinco lobinhos órfãos que são criados por uma família de humanos, no melhor estilo Mogli, Só Que ao Contrário. Temos um anão promíscuo que acaba apaixonado por uma prostituta, no melhor estilo A Branca de Neve e os Sete... Ok, parei. Temos tudo isso aí. E também temos o inverno, que está chegando. Esse inverno representa tudo o que existe de mais assustador no mundo: além de pessoas morrendo congeladas a torto e a direito, mendigos, bárbaros e monstros prometem surgir da neve para assombrar os sete reinos.

O fato de a série ser da HBO (a mesma que produz True Blood) pode nos garantir duas coisas: violência e safadeza. E as duas aparecem o tempo todo, de forma exagerada, surpreendente e até desnecessária. Game of Thrones é tão brutal e realista que, pela primeira vez na vida, precisei abaixar a cabeça pra não ver uma cena. Era alguma coisa envolvendo o sacrifício de um cavalo.

Para os mais fracos de estômago, o melhor mesmo é continuar vendo Glee, mas se você acha que aguenta o baque, recomendo que não faça mais nada esse ano. Só assista Game of Thrones.

PS: Muito obrigado a todo apoio que recebi na campanha Gabriel, Vai Dormir do post anterior. Consegui nos primeiros dias. Porque descobri que o truque é não pensar em nada. Simplesmente dormir. Porque se você começa a pensar, descobre que ainda precisa ler, organizar, baixar e fazer um monte de coisa antes de ir pra cama e acaba não indo nunca. Sei por experiência própria, e porque agora mesmo são quase meia-noite e ainda tô nessas de "pensar" em amanhã.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Campanha Política

Não é nem fundo do poço. O lugar aonde eu cheguei foi tão subterrâneo que nem nome ainda tem. Talvez "núcleo terrestre" se aplique. O fato é que precisei chegar lá, ao ponto de dormir em pé na escada rolante do shopping, pra decidir mudar.

Tenho uma amiga que é tipo minha terapeuta, já que nunca tive dinheiro coragem pra pagar por uma de verdade, e na madrugada de sábado pra domingo eu estava listando pra ela tudo o que tem me incomodado nos últimos meses. O que tem me feito infeliz. A lista foi realmente enorme, mas a maioria dos itens eram assim: incapacidade de acordar na hora, falta de concentração na aula, memória fraca, desânimo (muito, muito, muito desânimo), ansiedade, semanas de procrastinação alternadas com surtos de produtividade, etc. E chegamos à conclusão de que tudo isso é fruto de apenas um problema: eu não estou dormindo direito. Há muito tempo.

Mas é lógico que eu sabia. Todo mundo percebe esse tipo de coisa. Sempre que olho pro relógio e vejo o ponteiro marcando meia-noite sei que, se eu não for pra cama imediatamente, o dia seguinte vai ser um sacrilégio. Mas cadê força de vontade pra dormir sabendo que o que vem em seguida é mais um dia de estudos? Sempre acabo preferindo o modo zumbi e isso tem me feito um mal absurdo.

Então estou aqui, diante dos meus 5 leitores, prometendo que vou recuperar meu sono. Vou dormir cedo, acordar cedo e ser o orgulho da mamãe.

Prometo.

O único problema vão ser meus colegas do cursinho estranhando enormemente esse novo aluno que está prestes a surgir. Esse aluno aplicado e bem humorado, que não chega atrasado, não passa a aula escorado num canto, não anda cambaleante pelos corredores e, quem sabe, chega ao cúmulo de dar bom dia.

sábado, 1 de outubro de 2011

Direito de Resposta

O post de quarta-feira causou certa comoção lá em casa, então achei de bom tom esclarecer alguns pontos aqui.

Blog pessoal só serve pra isso mesmo. Você começa a se sentir íntimo, seguro, e passa a não pensar nas coisas que escreve. E esse filtro, eu faço mesmo questão de não ter, porque me preocupa demais não ser espontâneo. Pelo menos aqui. Aqui é o único lugar no mundo onde tenho o direito de falar bobagem. E vocês têm o dever de relevar.

Acontece que meus pais ficaram um pouco chateados com a abordagem do meu texto. Acharam que não condiz muito com a realidade, essa ideia de que nos isolamos em um grupo fechado. E olha... Eles me deram alguns exemplos que realmente comprovam relações de afeto com outras pessoas. E embora meu enfoque tenha sido na capacidade de "fazer novos amigos", talvez eu tenha mesmo exagerado, ou pior, tenha generalizado a situação da minha família com base na minha situação.

Porque eu, sim, sou um fracasso nessa área. De não ter nenhum traquejo social. De viver a maior parte do tempo sozinho mesmo. E nem é uma solidão solitária, porque sempre tem gente ao meu redor. Sou eu que me isolo aqui dentro. Porque gosto. Então pode ser que meus pais e irmãos não sejam exatamente assim. Mais uma vez, fui enfático demais. Desculpa.

Por isso as pessoas vivem se assustando com as coisas que escrevo no Twitter (não as pessoas do Twitter, que já são escoladas em matéria de hipérbole, mas as do Facebook). Então sempre tem alguém pra falar: menino, que horror! Fica chato, sabe? Ter que explicar situações hipotéticas, figuras de linguagem, pros loucos da interpretação que não fizeram 7ª série. Mas a culpa pode ser minha também. Confesso que já soube me expressar melhor. Hoje faço uma bagunça. Agora, por exemplo, são quase três da manhã e eu tô aqui falando de coisa que nem é assunto desse post, sem entender mais nada, de modo que é melhor acabar logo com isso.