terça-feira, 18 de outubro de 2011

Lei do Interesse

Apareceram umas aftas na minha boca e tudo o que eu queria agora era ter minha avó por perto pra dizer que "isso aí é emocional". Porque pra ela, realmente, todos os males e doenças que nos atingiam, começavam na cabeça. Para parar de soluçar, vovó ensinava o truque: nada de tomar três goles d'água, prender a respiração ou levar um susto, o único jeito era se concentrar, contar 1, 2, 3 e dizer um "parou" com bastante fé. Se a sua mente conseguisse se controlar, naturalmente seu sistema digestório seguiria o mesmo caminho. E nessa brincadeira, nunca vi a danada falhar.

Pra minha vó, a mente era a origem e solução de todos os desvios de comportamento humano. A maldade não existia. Ninguém era mau, todo mundo era doente. Sim, porque meu avô sempre bebia, sempre aprontava, sempre fazia com que ela e os filhos sofressem... Chegou ao cúmulo de jogar cachaça no olho de um gatinho, por pura maldade. Mas até hoje, com meu avô já morto, ela continua dizendo que nunca teve raiva. Tinha pena. "Ele era um homem doente".

Nunca vi minha avó julgar ninguém por um erro, e olha que, às vezes, o erro era realmente digno de julgamento, quiçá, pena de morte. Ela conhecia a alma humana muito bem e essa compreensão fez com que entendesse que as pessoas não são ruins porque querem. Que ninguém escolhe o mal ou que, se acabou escolhendo, certamente foi porque não estava em seu juízo perfeito.

Acho que vou acabar exatamente como a minha avó. Colocando a culpa de tudo que é erro, afta ou cachaça em olho de gato nas doenças psicológicas. Estou julgando cada vez menos e sendo cada vez mais tolerante e compreensível com as falhas alheias. Talvez por também estar adquirindo certa compreensão da alma humana ou, na hipótese mais provável, por já estar pensando no meu próprio julgamento e desejando que a mesma misericórdia que dispenso ao meu próximo, seja dispensada a mim no último dia.

2 comentários:

Priscila Blazko disse...

Como me lembrei de o "Auto da Compadecida" ao ler seu texto! Sua avó pensava exatamente como a Compadecida...
Já você, Gabriel, me lembrou João Grilo ao afirmar que sua aparente bondade não passa, no fundo, de interesse próprio...
Mas, havendo ou não interesse e qualquer que seja ele, exercer a tolerância e a misericórdia é sempre um ótimo exercício. Só não me pergunte pra quê.
Abraço.

José Laerton disse...

Avós são sempre amáveis.
Esse texto me fez lembra minha avó, sempre digo que ela é o ser humano que eu mais admiro...
Engraçado que eu tava pensando hoje que ando mais compreensivo, acho que esse entendimento do humano talvez seja um processo "natural" para alguns.
Até mais! abraços!


(há algum tempo que leio seu blog, hoje tomei coragem pra comentar, me diverto muito por aqui. =] )