Quando assisti ao primeiro episódio de Glee, a série ainda não era conhecida. Lembro de ter lido alguns comentários na internet sobre o que parecia ser o programa mais cool do momento e ficado curioso, porque qualquer coisa que envolvesse adolescentes ou música me interessava muito. Comecei a ver sem fazer ideia do que esperar e, quando dei por mim, estava chorando na frente do computador. Isso foi em 2009, ano em que Don't Stop Believing liderou o ranking de execuções no meu iPod.
Muito tempo passou, a série se consolidou como um sucesso teen, ganhou fãs, vendeu discos, cresceu e piorou. A segunda temporada foi difícil de assistir. Com um enredo cada vez mais perdido, onde as tramas eram visivelmente manipuladas com o único objetivo de inserir canções famosas no repertório, Glee parecia não ter mais salvação. Era difícil encontrar um episódio tão agradável quanto os da primeira temporada, onde tudo era mais natural e verdadeiro. A terceira também não foi excelente. Alguns personagens muito bons sumiram, outros muito ruins ganharam destaque e as coisas foram mudando de lugar. Por isso (e pela má vontade de uma gente um tanto implicante) a série virou piada. E o sinismo foi tomando conta de tudo como uma epidemia.
Ontem terminei de ver a terceira temporada e fiquei feliz por ela ter acabado com dois dos episódios mais bonitos de todo o programa. Alguns dos personagens principais estavam se formando, então o clima era de despedida; e alguns flashbacks do primeiro episódio fizeram todo aquele encantamento de 2009 voltar. Pude perceber como foi legal acompanhar esses meninos rejeitados, humilhados e confusos, e suas descobertas através de um coral numa escola pública do interior dos EUA. De um jeito ou de outro, cada um deles havia mudado, aceitado suas diferenças e transformado suas vidas. A treinadora casca grossa agora torcia pelo sucesso do grupo, a orientadora paranóica resolveu dar uma chance ao que antes considerava sujo, o pai homofóbico dançou Single Ladies pro filho gay e os valentões, em vez de jogar raspadinhas na cara dos excluídos, jogaram confetes.
Acho que Glee, por mais problemática que seja, carrega consigo alguns méritos. Não só por ter sido a primeira série musical a dar certo em anos, mas por ter dado voz a toda uma geração de jovens atormentados pelo bullying que, através de Finn, Kurt, Santana, Artie ou Mercedes, puderam sonhar com o dia em que não precisariam mais se esconder. E ninguém melhor que Rachel Berry pra traduzir tudo isso. A menina com mania de estrelato, que gostava de colar estrelinhas douradas ao lado do seu nome e era ridicularizada por quase todos os colegas, termina sua trajetória com uma vaga pra estudar na Broadway.
Todos nós tivemos alguns desses sonhos cafonas quando crianças. Ainda não tínhamos sido contaminados pela epidemia do sinismo, nosso futuro parecia brilhante e nada era tão difícil. Com o tempo, a gente vai se esquecendo de lutar, vai andando pelo caminho mais confortável e quando percebe, não existe mais sonho nenhum. Nos damos por satisfeitos com nossos gabinetes abafados e trabalhos desinteressantes e seguimos com a vida, buscando aspirações menores e mais fáceis. Somos todos Rachel Berry. Tínhamos sonhos ridículos e colávamos uma estrela dourada ao lado do nosso nome, exatamente como ela. A diferença é que no último episódio da nossa terceira temporada, em vez de ir pra New York, preferimos ficar em Ohio.