Até 2006, quando lançou Carioca, Chico parecia desconhecer qualquer coisa sobre MP3, iPods ou YouTube. E hoje tá aí... Conversando com os internautas e até fazendo o louco do pântano em depoimentos descontraídos. Acho graça, porque o Chico Buarque parece um tio meu, que levou mais ou menos 15 anos pra aceitar esse negócio de computador. Mas é um caminho inevitável. Até o mais tradicional dos artistas está percebendo que, em vez de lutar contra o inimigo, é melhor ficar do lado dele e tentar tirar algum proveito. Então poucos meses antes de lançar seu último álbum, Chico Buarque colocou no ar um site onde publicava vídeos periódicos dos bastidores das gravações pra manter o público interessado e vender mais cópias. Eu falo "Chico" como se ele próprio tivesse montado o site após um cursinho de Dreamweaver, mas é claro que o velho foi forçado incentivado a fazer tudo isso por alguém com muito mais visão de mercado. O resultado é Chico, um disco minimalista com 10 faixas muito boas e algumas excelentes.
Querido Diário, que abre os trabalhos, tem uma harmonia bem mais interessante que a letra. Não gosto de algumas rimas, principalmente aquela que ele confessa amar uma "mulher sem orifício" (WTF?). Mas do meio pro final entra uma segunda voz extremamente sofrível que enriquece tudo e faz a gente querer repetir o mesmo trecho 500 vezes. Já a segunda faixa, Rubato, é a que menos me agradou. Acho que o Chico chegou num nível de dissonância que ultrapassa o limite do bonito. É tanto medo de ser previsível que a coisa acaba ficando esquisita.
O álbum ainda conta com uns sambas bem gostosinhos, como Sou Eu e Barafunda. E outras canções mais depressivas, como Sem Você 2 e Nina, onde ele fala de um romance online (sério!): "Nina diz que se quiser eu posso ver na tela / A cidade, o bairro, a chaminé da casa dela / Posso imaginar por dentro a casa / A roupa que ela usa, as mechas, a tiara / Posso até adivinhar a cara que ela faz / Quando me escreve".
Essa Pequena parece muito outro clássico do Chico, Ela É Dançarina, mas com um pouco menos de glamour: "Sinto que ainda vou penar com essa pequena, mas / o blues já valeu a pena". E Se Eu Soubesse, que é uma das minhas preferidas, tem a participação de Thais Gullin, a namorada do Chico (uma fofa de aparentes 15 anos de idade). A música ficou linda! Talvez pela química do casal, talvez pelos "lararis" e "lararás" que escondem parte da letra e fermentam nossa imaginação.
A canção que fecha o disco é Sinhá, que tem participação de João Bosco e já entra diretamente pro Top 10 músicas mais tristes do Brasil. Conta a história de um escravo que viu a patroinha se banhando e, por isso, vai perder as pernas, os olhos e a vida. Uma volta ao passado, pra encerrar o primeiro passo de Chico em direção ao futuro.
4 comentários:
lindo blog!!!
adorei este post!!!
Nina fala de um amor virtual sim. O Chico fez a música para mim. Até escrevi sobre isso aqui ó: http://sobrefatalismos.wordpress.com/2011/07/14/nina/
Beijão.
Olha... Um dos melhores textos mesmo sendo mais dissertativo que artístico. Conectou todas as informações.. super fechadinho. Invejável.
Achei que já tinha superado essa coisa de negligenciar albuns importantes e acabar ouvindo-os cem anos depois, sendo que tive toda a condição de ouvi-los na época de lançamento. Mas olhaí, até hoje não ouvi esse "novo" do chico. tsc, matheus, tsc. O que me consola é que, lendo seu texto, tive o incentivo definitivo de que precisava =)
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