terça-feira, 27 de março de 2012

Verbo Impessoal

Há muito tempo quero fazer um post sobre O Haver, poema de Vinícius de Moraes que, além de ser o meu preferido, é também um dos textos que mais soube traduzir essa angústia com relação à vida, ao tempo e ao amor.

Por sua extensão poética (e temática), nem se eu quisesse conseguiria falar dele num dia só. Então resolvi separar as estrofes e ir fazendo breves comentários sobre cada uma conforme a vontade ou inspiração surgirem.

Recomendo fortemente que vocês ouçam o poema na íntegra, narrado pelo próprio Vinícius nesse vídeo, antes de ler o post. E que tirem suas conclusões. E falem sobre elas aqui, porque poesia tem essa vantagem de não ser conclusiva. E de não precisar fazer sentido.

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
Perdoai! Eles não têm culpa de ter nascido

O poema já começa falando do que resta. Muito já se perdeu, não tem o que fazer. Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura. E nem é pra todo mundo. Ser terno é um esforço e um talento. Os artistas conseguem, as mulheres conseguem, as crianças conseguem...

E essa intimidade perfeita com o silêncio só quem já se sentiu realmente sozinho consegue alcançar. É uma espécie de conforto de se bastar. De conseguir passar horas inteiras sem ouvir outra voz e sem se desesperar por isso. De fazer do silêncio um companheiro íntimo.

É um cenário por demais melancólico esse que o poeta desenha pra apresentar seu eu-lírico. E quando ele começa a falar de perdão, aí você percebe o tamanho do "desamparo" e da total falta de esperança desse homem. Não estamos só pedindo perdão. Estamos pedindo perdão por tudo.

E o final da estrofe quase sempre me faz chorar, com o discurso bíblico e a voz de Cristo a pedir perdão por nós. É justo e necessário.

Não temos culpa de ter nascido.

5 comentários:

Anônimo disse...

vc precisa de amigos

Anônimo disse...

Vc precisa de amigos só que eles não estão à altura do seu nível intelectual, procure conhecer novos locais mais elitizados com pessoas mais parecidas com o seu jeito de pensar e entender o mundo, só assim conseguira manter um nivel de dialogo que não se encerre no final de uma aula universitaria e que continue no decorrer da sua vida que voçe mereçe SIM viver, aproveitar, curtir e ser feliz.

Anônimo disse...

Abuso irremediável de dor
E confusões
Entre Caos e Amor
vacuo em meu peito ó sera preenchido
Odeio dizer
Que isto tudo que me faz sofrer
É o que me mantém vivo...
Morto vivo!
Dentro do quarto
Uma imagem desfocada querendo apenas estar feliz... Ou morrer!

Sâmia disse...

Meu contato com a poesia de Vinicius de Moraes foi pouca - e devo admitir que grande parte da culpa é minha. Tive que ler Antologia Poética pra fazer um vestibular; digo "tive" porque tinha uma birra com o Poetinha, por causa do fatídico "que me desculpem as feias, mas beleza é fundamental", em Receita de Mulher. Comecei a ler meio emburrada, cheia de dedos. Mas foi questão de tempo pra entrar nesse universo dele - cheio de fases, como há de ser em casa poeta - e de ser contagiada por todos os sentires que podia colecionar.

"O Haver" é bem emblemática pra mim... Me parece um caminho de redescobrimento do mundo. Num primeiro momento, o desespero do tudo, da realidade posta à frente. Depois, a esperança crescente que aflora à pele, diante da recuperação da consciência de sua presença no mundo, a mudança que esta representa e o início do caminho para se situar em tamanho caos. Por fim, o encontro com a coragem de viver e de ser para seguir o seu caminho.

O comentário ficou grande demais (e bem viajadão, rs), ainda mais se levarmos em conta que é o primeiro. Mas não podia deixar esse post ótimo com os comentários de um anônimo tão pedante.

Um abraço!

Fabi disse...

Porra, eu poema preferido do Vinicius. Decorei ele quando eu tinha uns 13 anos... Ele me doía sem eu entender direito porque, hoje eu compreendo melhor. Fala sobre a dificuldade de ser adulto, de enfrentar a roupa da pele, é a visão de um homem que viveu bastante.
É um poema melancólico, mas apesar desse peso e dessa dor, sinto a esperança, porque restam coisas, resta a coragem, e resta o medo.