sábado, 15 de janeiro de 2011

Matei Minha Mãe e Vim Contar


Fernanda Young é uma figura tão controversa pra mim que, no mesmo dia, sou capaz de considerá-la genial e uma fraude. Adoro Os Normais e acho Os Aspones a coisa mais engraçada que a Globo já fez, mas não sei o que pensar sobre seu ensaio na Playboy, por exemplo. No GNT ela já participou do Saia Justa, que eu gosto bastante, mas causou vergonha alheia generalizada com as entrevistas do Irritando Fernanda Young. Minha irmã tem todos os seus livros na estante e resolvi ler o último, pra tentar chegar a um veredicto.

Tudo que Você Não Soube é um relato maldoso escrito por uma filha a seu pai, quando este está prestes a morrer. Segundo a narradora, o objetivo é oferecer ao velho uma última chance de conhecê-la, mas logo a gente percebe que não é nada disso. O objetivo é vingança. Dentre as abominações cometidas pela jovem, a maior e mais perturbadora, foi ter martelado a cabeça da mãe. E é claro que ela se justifica, descrevendo com detalhes a série de abusos e descasos sofridos na infância.

O texto tem um andamento terrível e me pareceu pouco trabalhado, mas Fernanda Young usou de sapequice, explicando tudo através da sua personagem: "Isso aqui não é um diário, entendeu? Não foi escrito aos pouquinhos, com o passar do tempo. É minha história, contada de uma só vez, e sem grandes considerações, já que eu soube que você está nas últimas. Perdoe, portanto, este estilo conturbado". Pra mim isso tem outro nome: preguiça de revisar.

Em matéria de literatura, Tudo que Você Não Soube me pareceu um primo pobre de Dostoiévski (embora eu nunca tenha lido Dostoiévski). Mas é sempre divertido ver alguém exorcizar seus traumas de infância num romance. E gostei tanto do final (especificamente da última frase) que fechei o livro com a impressão de ter lido uma coisa boa. O que pode não ser verdade.

"Qual era, afinal, o grande problema comigo? Pai, é simples: eu vivia o inferno completo e um martelo foi o que me sobrou para tentar fugir. Porque, além de ser uma vítima da sua ausência, eu era a maior culpada dela. Já que eu tossia demais e nenhum homem aguenta ficar trancado dentro de casa com uma criança tossindo sem parar, o tempo inteiro. Você, então, estava fugindo de mim, e estava certo em fazer isso. Era isso o que me diziam, pelo menos. Entre um programa do SBT e outro. Olha, pai, tossir me dava tanta culpa, mas tanta culpa, que eu me trancava no banheiro, ligava o chuveiro para fazer barulho e sufocava minhas crises nas toalhas. Que ficavam manchadas de sangue, e aí me acusavam de porca. Eu, vomitando pelas narinas, não passava de uma porca."

PS: Tudo que Você Não Soube não é o último livro da Fernanda Young. Em dezembro do ano passado ela lançou O Pau, que minha irmã ainda não tem.

4 comentários:

Lari Reis disse...

Ai, não fiquei com vontade nenhuma de ler ;x

Marlon disse...

Gosto da Fernanda Young, mas ela força demais na imagem de "sou fodona e me basto"! =/

Anônimo disse...

Em dezembro do ano passado ela lançou O Pau, que minha irmã ainda não tem.
kkkkkkkkkkkkkkkkkk

Matheus Rufino disse...

Também achava Os Aspones hilário, mas até que Os Normais, acho. Bom saber que mais alguém também achava. Mas hoje meio que cago pra essa moça.