quinta-feira, 24 de março de 2011

Geração Multitasking


Desde os 12 anos, eu não sei o que é fazer uma coisa de cada vez. Aprendi a almoçar enquanto leio revistas, falar ao telefone enquanto jogo no computador, fazer dever de casa enquanto assisto televisão e, às vezes, tudo isso ao mesmo tempo. Com a internet (e principalmente o wi-fi) as coisas ficaram ainda piores. Por exemplo, qual foi a última vez que você, durante 30 minutos, se dedicou apenas a uma refeição? Sem celulares, iPods ou qualquer tipo de distração entre sua boca e a picanha (ou a pizza, ou a salada).  A ideia de que o tempo é curto demais pra ser desperdiçado com uma coisa só parece bem lógica, mas não passa de ilusão. E temos essa tendência de querer preencher ao máximo nossos segundos. Quer dizer, se eu ainda estou com uma mão livre, tem alguma coisa errada, né?

Na Info do mês passado, saiu uma reportagem exatamente sobre isso. E o texto caiu como uma luva, porque estou sentindo muita dificuldade em me concentrar nos estudos. Minha mente não era acostumada a passar 10 horas por dia com um único objeto de foco. A sensação é de desperdício. Como se eu estivesse usando um computador com 4GB de memória só pra escrever no Word.

"Há uma corrente de estudos que ganha força e defende a ideia de que nosso cérebro realiza bem apenas uma atividade cognitiva, que envolve pensa­mento e raciocínio, de cada vez. Aparentemente, apenas ouvir música não atrapalha a produtividade. Uma pesquisa ainda inédita que o especialista em gestão do tempo Christian Barbosa está realizando há um ano para avaliar o modelo mental das pesso­as em situações de multitarefa mostrou que o des­perdício médio de tempo ao realizar atividades simultâneas é de 35%. Ou seja, no lugar de ganhar tempo com a multitarefa, você perde. O estudo já conta com respostas de 2100 participantes. "É inte­ressante ver que apenas 2% das pessoas tiveram uma performance melhor com multitarefa, mas to­das cometeram algum tipo de erro", diz Barbosa, CEO da consultoria Triad PS. Você pode até conseguir fazer mais de uma coisa, mas provavelmente errará algo.

O fato é que não somos tão multitarefa quanto gostaríamos. Mas muitas pessoas se sentem força­das a dar conta de inúmeras tarefas ao mesmo tem­po. "Há uma grande pressão cultural para respon­dermos imediatamente quando qualquer pessoa entra em contato. Isso leva à rnultitareta", diz Clifford Nass, pesquisador na área de psicologia da Universi­dade de Stanford, nos Estados Unidos. Ele participou de um estudo recente para identificar o grau de rnul­titarefa das pessoas. As que disseram fazer muitas atividades simultâneas tiveram uma performance pior nos testes cognitivos e de memória quando comparadas às que se diziam monotarefa."

PS: Escrevi esse post com apenas duas abas abertas no navegador. Um recorde!

sábado, 19 de março de 2011

Simulação

Eu queria muito que alguém entrasse na minha mente e visse como ela funciona, porque eu tento explicar e parece que as pessoas não entendem realmente a dimensão da coisa. Por exemplo, hoje tive um simulado de exatas no cursinho (semana passada foi o de humanas, que eu já achei incrivelmente difícil) e minhas expectativas nem eram das melhores. E também... Acho que estava muito cansado. Tinha acordado às 5h30, andado de ônibus, tomado chuva e estudado a manhã toda. Apesar disso, juro que comecei a fazer a prova com bastante confiança. Garrafinha de água cheia, calculadora em cima da mesa, Club Social... Vinte minutos depois e eu já estava pensando em voltar pra casa.

O Cespe (esse órgão responsável por toda a tristeza e amargura do mundo, que faz as provas da UnB) tem um sistema de pontuação no mínimo cruel. Aquele onde uma questão errada anula uma certa. O que te impede de chutar, se não quiser terminar a prova com ponto negativo. Então eu fui deixando as questões que eu não sabia em branco... E foi ficando TUDO em branco. Aí desesperei e comecei a fazer algumas que eu tinha uma leve desconfiança, mas cheguei a conclusão que essa estratégia ia mudar minha nota de 0 pra, sei lá, -81.

E eu tenho estudado muito. É o meu limite, sabe? Não dá pra fazer mais que isso (ok, talvez dê, se eu passar a dormir 3 horas por noite). E me irrita muito não poder marcar uma questão porque não lembro se a gástrula vem antes ou depois da blástula (coisa que eu já tinha estudado, mas minha memória fez questão de abstrair). Quer dizer... Como se não bastasse as matérias acumuladas, eu ainda vou ter que voltar nas que eu já tinha fechado porque não deu pra absorver tudo? Realmente. Não tô em condições.

Por causa de tudo isso, comecei a pensar em desistir do simulado. Simplesmente jogar a prova no lixo e ir pra casa. Depois pensei em desistir do meu curso. Talvez se eu fizesse letras, conseguiria passar e viver uma vida que eu não escolhi. Então pensei em desistir da UnB. E no fim eu já estava pensando em desistir da vida. As coisas sempre terminam aí. Essa é a linha de pensamento que minha mente, ansiosa e doentia, tem o costume de adotar. E na hora faz todo o sentido. A minha sorte é que nesse ponto eu começo a cair na real. Vejo que não vai ser possível morrer agora e faço o caminho de volta, até chegar numa chuvosa tarde de sábado.

Tenho estado muito instável, sabe? E eu não tinha esse costume de pensar em desistir. Eu costumava suportar bem as adversidades. Bem mais do que eu tenho suportado. Minha disciplina era brilhante, minha concentração, de dar inveja. Não sei o que está acontecendo. E olha que era só simulação.

sábado, 12 de março de 2011

Arizona Nunca Mais


Rango, a primeira animação de Gore Verbinski (diretor de Piratas do Caribe), conta a história de um camaleão, criado em aquário, que acaba perdido num deserto hostil e perigoso. Rango é um ator. Um ator tão bom que se perde nos inúmeros personagens que sua condição camaleônica proporciona. De repente ele se vê jogado num mundo real, não num palco, e precisa usar tanto suas habilidades cênicas quanto sua sorte fora do comum para escapar com vida de um terreno inóspito; e nesse meio caminho, talvez, descobrir quem realmente é.

A cidade que abriga nosso frágil protagonista é habitada por roedores e répteis dos mais diversos tipos (todos com características humanas peculiares, rostos sofridos ou marcas de idade). A água, que nunca foi muito abundante por aquelas bandas, praticamente desapareceu; e os moradores parecem não ter mais perspectivas de uma vida melhor. Então surge esse camaleão, disposto a bancar o herói, e que, na sua luta pela sobrevivência, acaba tornando-se a única esperança da cidade.


Rango é um western clássico (com mocinha, herói e pistoleiros), o que já é bastante inovador para o terreno dos filmes animados. Além disso, percebe-se um esforço para tornar cada ângulo único e inesperado. A trilha sonora de Hans Zimmer (acho que esse homem fez 9 das 10 trilhas sonoras deslumbrantes da última década), ao mesmo tempo que evoca um outro tempo, brinca com referências cinematográficas de um jeito particularmente moderno.

Gosto quando sou pego de surpresa numa sala de cinema (o que não é mais possível com os filmes da Pixar, por exemplo, porque a gente já vai esperando algo sensacional), e Rango definitivamente superou minhas expectativas. Não sei se o público infantil vai ser capaz de compreender e curtir todas as figuras de linguagem embutidas no desenho, mas ainda que o filme não fosse tão profundo (e é), ele já seria uma aventura das mais divertidas.

quarta-feira, 9 de março de 2011

De Tudo, ao Meu Amor Serei Atento

Somos crianças que não cresceram, brincando de namorar.
Todo mundo sabe que ciúme é a causa mortis de 9 entre 10 relacionamentos. O problema é que a falta dele pode ser tão prejudicial quanto. Nenhum romance é saudável se houver possessividade e desconfiança, mas também ninguém quer namorar um robô, incapaz de demonstrar qualquer tipo de medo ou instabilidade. E eu sempre fui do grupo inteligência artificial. Não que eu seja imune ao ciúme. Pelo contrário. Sou extremamente apegado à tudo, mas considero sinal de fraqueza demonstrar esse apego.

Massageia o ego saber que sua namorada tem medo de te perder. E, de uma forma ou de outra, a gente está sempre tentando alimentar esse medo. Porque sem ele, não dá pra saber se somos realmente amados. Acaba que o mais inseguro não é o ciumento, mas seu objeto de ciúmes. Porque é ele quem precisa dessa confirmação diária de apreço. Em contrapartida, ele não está disposto a dar essa confirmação. Ele precisa manter uma espécie de imagem inabalável, de alguém muito seguro de si, e essa imagem não pode ser arranhada por uma imperfeição tão humana.

E quanto menos a pessoa se sente amada, mais insegura ela fica, e mais ciumenta ela é, e mais seguro fica o outro, e menos ciúme ele demonstra, e tudo se repete, num loop infinito.

PS: Acho isso tudo tão infantilóide, que é mesmo vergonhoso eu ter chegado a esse ponto. De precisar desabafar.

segunda-feira, 7 de março de 2011

A Mesma Cozinheira

Chegou no barracão soltando fumaça.

— Quem ela pensa que é? "Isso aqui tá imundo!" Imunda tá cara dela, que eu passei a tarde inteira limpando aqueles vidros...

— Calma, mãe. — pediu a filha mais velha, levantando do sofá.

— Isso não é justo! — ela começava a tirar a roupa, indignada — Trabalhar em casa de família só dá nisso mesmo... É uma humilhação atrás da outra.

Tomou banho, ligou a TV de 17 polegadas no jornal e foi preparar o jantar dos filhos. Mas continuava nervosa, com uma centena de desaforos intalados na garganta.

— Ela se acha muito chique, comendo naquelas louças importadas dela... Mas a comida que eu faço lá, eu faço do mesmo jeitinho aqui em casa. Vocês, pobres do jeito que são, têm a mesma cozinheira que ela.

O filho do meio pegou um prato e foi se servir no fogão.

— A única diferença é que os ingredientes de lá são melhores, né mãe?

— Não. A única diferença é que na comida dela... Eu cuspo!

PS: Conto escrito por mim em março do ano passado e publicado no falecido Frenesi.

terça-feira, 1 de março de 2011

Parachute


Descobri o novo single da Ingrid Michaelson na noite de ontem e, de lá pra cá, já ouvi cerca de sete vezes. Acho que posso me orgulhar de ser um dos maiores conhecedores de Ingrid Michaelson do Brasil, porque aqui quase ninguém conhece. Tenho seus quatro álbuns (todos ótimos) e sei a maioria das faixas de cor. É o tipo de CD que sempre sobrevive às atualizações do iPod, porque a música dela tem a incrível vantagem de nunca enjoar. Durante muito tempo esse foi meu maior segredo musical, mas em maio do ano passado gravei um cover de You and I com minha irmã e todo mundo (três pessoas) começou a perguntar que música era aquela.

Parachute, sua primeira promessa pra um novo álbum, fala sobre um casal que todo mundo quer ver fracassar (coisa que quase não acontece nesse mundo de solteiros invejosos, não é mesmo?). E ela diz que não vai contar pra ninguém sobre como eles são felizes juntos, pra evitar o mal olhado. Não sei nem o que dizer, porque é exatamente o tipo de política que eu adoto no meu namoro. Tem dado certo. O refrão é sobre ela não precisar de paraquedas quando está com ele e a partir daí começa uma série de metáforas sobre os dois caindo, segurando um ao outro.

Just hold on to me, I'll hold on to you
It's you and me up against the world


E o que dizer desse vídeo? Acho a Ingrid linda e com uma sensualidade velada que é de matar. Adorei a batida um pouco mais grave que o normal, os vocais do início (a especialidade dela, inclusive, né? fazer pa-ra-ras e pa-ra-pas), a montagem cheia de takes repetidos pra combinar com a música e toda essa atmosfera urbana de vídeo gravado às sete da matina. Sem falar nos óculos novos, que caíram muito bem. Não sei quando sai o próximo álbum, mas se depender de mim, até o fim do ano Ingrid Michaelson já entrou pra lista de mais baixadas do iTunes.