quarta-feira, 6 de julho de 2011

Último Ato

Ontem terminei de ler Vergonha dos Pés, da Fernanda Young, e achei o livro muito inconstante. Alguns parágrafos são excelentes, enquanto outros parecem ter sido tirados do diário de uma pré-adolescente. A gente acaba se identificando com a protagonista, porque a Fernanda Young não tem medo de expor suas fraquezas. E eu acho que a gente tem muito mais fraqueza que virtude, então é bom ler alguém externalizando esse tipo de coisa (por isso o blog da Patrícia tem mais de mil seguidores, por exemplo).

Escolhi um trecho de extrema sinceridade, embora um pouco lugar comum, pra compartilhar com vocês. É uma carta que Ana, a protagonista, escreve pro ex-marido. E não sei por que, mas alguma coisa acontece quando as relações amorosas acabam que a gente não tem medo de parecer fraco. É como se a peça, finalmente, chegasse ao fim.

"Sou uma pessoa solitária. Mesmo acompanhada, sinto-me só. É de minha natureza, não sei que espírito ruim me possui, ou quais os males estou pagando, só sei que não consigo viver feliz. E nem mais quero, pois sinto-me totalmente despreparada e sem talento para a paz. O que tenho é tédio, tédio de tudo e tudo mais. Quero dormir, mas não consigo. Quero levantar-me e andar léguas, mas um sono incontrolável se apodera de mim. Sou assim. Uma pessoa que, por algum motivo misterioso, aprendeu a sofrer e, gostando ou não, viverá sempre assim: sofrendo. Nenhum motivo mais será necessário, nenhuma dor, nenhuma perda. Apenas o dormir ou o não dormir, o acordar e o nada a fazer, além de ficar na casa pensando sobre os meus pés e os pés de toda humanidade. Eu, que nenhum talento possuo, que passarei pela vida sem ter cometido uma grande obra. Sem ser herói ou assassino. Passarei pelo mundo como milhões que já passaram, os bilhões e trilhões de desconhecidos que não tiveram nada para deixar pro futuro."

terça-feira, 5 de julho de 2011

Ninguém É Perfeito


Sou fã declarado da Pixar. Tenho todos os filmes, sempre dou um jeito de assistir aos lançamentos na primeira semana de exibição, sei inúmeras falas de cor e chorei com Toy Story 3. Adoro a forma como esse estúdio elevou a animação a um patamar nunca antes alcançado. Sim, considero Procurando Nemo, Ratatouille e Wall-E filmes muito superiores até mesmo aos clássicos da Disney em sua fase de ouro. É claro que o elemento nostalgia conta a favor de A Bela e a Fera ou Aladdin, mas em matéria de personagens, roteiro e visual, ninguém conseguiu, até hoje, superar a Pixar. E o estúdio que nunca erra, o estúdio que é símbolo da criatividade, de repente começou a apostar nas continuações. Carros 2 é um filme bom, mas para quem está acostumado a fazer obras primas, isso soa quase como um xingamento.

Depois de ganhar várias Copas Pistão, Relâmpago McQueen, o vaidoso e adorável carro de corrida, é desafiado por um italiano da Fórmula 1 a competir no Grand Prix Mundial. Com a ajuda de Mate e sua equipe, Relâmpago viaja o mundo inteiro, participando de corridas acirradíssimas. Paralela à competição, uma história de espionagem, envolvendo fontes renováveis de energia, se desenrola; com direito a apetrechos dignos de James Bond. Por fim, Mate acaba confundido com um agente secreto e se mete em altas confusões.


Carros 2 tem ação, é divertido e muito engraçado, mas a todo momento parece um filme menor, se comparado ao seu antecessor. Parte dessa sensação é culpa de uma decisão arriscada, tomada por John Lasseter (o chefão da Pixar e um dos diretores do longa), que preferiu a comédia ao drama. Ele deixou o papel principal na mão de Mate, um caipira engraçado, enquanto Relâmpago McQueen assumiu o posto de coadjuvante. E a comédia carrega esse karma, de ser sempre uma forma de arte inferior.

Eu não tenho dúvidas de que as crianças vão surtar com as cenas de ação de Carros 2. O filme foi feito pra elas! Mas nós: pais, tios e primos mais velhos, somos um tanto egoístas e queríamos mais uma vez assistir a um filme adulto disfarçado de infantil. Vamos ter que esperar mais um pouco. Em 2012, a Pixar vem aí com Brave, uma produção que tem sido mantida a sete chaves, e talvez voltem a fazer o que eles sabem melhor: emocionar.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Balde de Água Potável

Certo dia meu pai apareceu lá em casa com um aquário. Um desses aquários grandões, quadrados, com peixes variados e pedras e algas de enfeite. Desde então só temos dado manutenção, com um punhado de comida por dia, já que não rola a necessidade de um carinho ou de levar o peixe pra passear. Sim, peixe é o bicho de estimação mais chato ever, perdendo apenas pros passarinhos (que, além de não fazer nada, ainda fazem barulho). Semana passada meus pais viajaram e eu fiquei responsável pela casa e pelos animais da casa: o Buddie, os peixes e as formigas (que, de tanto tempo que frequentam a cozinha, acabaram ganhando nome e apelido). O Buddie e as formigas ficaram bem, mas os peixes...

O aquário está nojento há dias e ninguém tem coragem de lavar. O que tem no vidro já não pode ser chamado de lodo, é algo mais próximo de uma floresta amazônica. E ontem fui colocar comida e achei dois peixes mortos, boiando. Um deles estava pela metade, o que foi assustador (já que a outra metade continua desaparecida). Decidido a salvar a vida dos outros animais, enchi um balde de água, coloquei umas pedrinhas no fundo pra eles não estranharem e fiz a transferência. Eles devem estar aliviados, pensei eu, vendo a água limpa do balde em comparação à imundície do aquário. E fui dormir feliz.

Hoje, quando acordei, todos os peixes estavam mortos. TODOS.

Sabe? É típico. Porque eu faço isso o tempo todo nos meus relacionamentos. Estou vendo a pessoa sofrer, atolada em uma sujeira impossível de se limpar, e acho que ela ficaria bem melhor em um balde com água limpa. Pego a pessoa, mudo ela de casa, tiro dela suas pedras, suas algas e seu lodo, tudo com a intenção de ajudar, é claro, de salvá-la dessa podridão, e no dia seguinte, quando acordo, cadê meu peixe? Está morto, flutuando numa água potável.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

20%


Tenho uma teoria em relação à capacidade das pessoas de mudar sua personalidade. E ela é a seguinte: com um esforço anormal e durante um longo período de tempo, você consegue uma mudança de 20%. Fora isso, você não muda, e está fadado a repetir os mesmos erros e sofrer por eles e decidir mudar e não conseguir em um loop infinito.

Acredito na máxima de que, até os 11 anos você está formando o seu caráter e que depois disso não adianta mais nadar contra a correnteza. Você pode até avançar alguns metros em direção à terra seca, mas logo seus braços ficarão cansados, suas pernas deixarão de bater e você será arrastado rumo ao seu oceano de origem.

Parece o contrário, mas eu realmente não gosto de fazer posts como este, meio autoajuda e meio autopiedade. É uma das centenas de coisas que preciso mudar e não consigo. Porque eu vejo essas pessoas brilhantes, apaixonadas pelas suas funções, e seguras do que querem da vida, e me estraçalho de inveja. Penso que, pra elas, é muito mais fácil levantar da cama. Elas tem um objetivo. E eu só tenho reclamações...

As pessoas têm percebido, e vêm falar comigo, que só reclamo no Twitter. Mas o que elas não sabem é que só tenho Twitter até hoje por dois motivos: 1) Rir e 2) Reclamar. E é uma ferramenta que permite esse tipo de coisa. O que eu não quero é nego vir me falar daqui a pouco que só reclamo no blog também. Porque aí já fica chato, sabe? Fica parecendo que nada mais no mundo me dá prazer, o que não é verdade.

O que eu quero dizer é que estou disposto a fazer esse esforço anormal pra conseguir meus 20% de mudança. Eu realmente estou. Mas, por favor, não esperem mais que isso.

Ou procurem outro Twitter, outro blog, outro amigo...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Roberta Campos


Conheci a voz de Roberta Campos enquanto olhava os LPs da Livraria Cultura (porque voltou à moda esse negócio de disco de vinil) e encontrei Varrendo a Lua, seu último álbum. A capa, com o desenho de uma menina com os olhos esbugalhados, me chamou a atenção e fui experimentar o som em um daqueles fones de ouvido públicos. Fiquei encantado. E fiz o que seria natural: comprei o disco anotei o nome pra baixar em casa.

Mais tarde vim descobrir que a menina era mineira, apesar de morar em São Paulo, e bebe na mesma fonte de gente como Beto Guedes e Lô Borges (toda uma vibe Coração de Estudante, aquela novela das seis com a Helena Ranaldi). Ou seja: amor. Mostrei o CD pra namorada, que também adorou, e cada um seguiu seu rumo. Mas parece que De Janeiro à Janeiro, a música que a Roberta Campos gravou com Nando Reis, começou a fazer sucesso - por causa do Nando Reis, é claro - e essa menina veio pintar aqui em Brasília pra fazer um show no fim de semana do dia dos namorados.

Tomei um susto porque, pelas fotos que eu tinha visto, ela parecia mais nova que a Mallu Magalhães e no show tava toda produzida, com os cabelos ao vento, maquiagem, etc. O som não estava muito bom (achei o microfone baixo e a bateria muito alta pro tamanho do teatro), mas a simpatia da moça e seus olhos azuis foram suficientes pra fazer a noite valer a pena. Ela cantou quase todas as músicas do álbum Varrendo a Lua, uma composição do primeiro CD (que ninguém conhecia e foi um pouco constrangedor), uma do Renato Russo e uma da Marisa Monte.

Fiz um vídeo dela interpretando Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor, do muso mineiro Milton Nascimento. Vê se você curte...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Férias


Fiz vestibular no fim de semana passado e fui tão mal que, depois de conferir o gabarito, passei umas duas horas no chão do meu quarto, rolando nas lágrimas e pensando em como vou sobreviver, já que não tenho dinheiro e tudo o que eu sei fazer, outras pessoas fazem muito melhor que eu. Mas isso durou só uma noite. No dia seguinte acordei recuperado, decidido a fazer cursinho por mais um semestre, e fui pro Festival Varilux de Cinema Francês que esse ano tá no Liberty Mall (um dos piores cinemas de Brasília).

Foi quando me dei conta de que estou de férias (todos comemora!). Não posso descrever o quanto tem sido maravilhoso acordar às onze da manhã, encher uma tigela de Nescau Cereal e ficar colocando minhas séries em dia. Ainda saio à tarde pra dar aula, mas à noite estou de volta e com tempo pra fazer pipoca, ver um filme ou ler algum livro de qualidade duvidosa.

Sobre as séries, finalmente terminei a primeira temporada de Modern Family (que, depois de Friends, é a única comédia capaz de me fazer gargalhar). Já não sei quem eu amo mais: o Cameron ainda tem as melhores cenas, com todos aqueles quilos de drama, mas o Phil consegue não fazer nada e ser sensacional. Porque ele entra numas situações tão estúpidas que a gente acaba se identificando. Eu, pelo menos, reconhecendo meu grau de babaquice, me identifico demais!

E hoje vi o piloto de The Killing. Achei tudo muito bem produzido, o que era de se esperar de uma série da AMC, mas ainda não tenho uma opinião formada sobre a história. Tudo gira em torno do assassinato de uma menina de 17 anos, então estou fugindo loucamente de spoilers, embora acredite que a série tenha muitos outros trunfos além do "Quem matou Rosie Larsen?". Até agora, estou desconfiadíssimo da mãe da menina (Michelle Forbes), mas acho que é porque ela era a vilã de True Blood na segunda temporada e eu acabei ligando a imagem dela a um demônio.

Fora isso, fui à pré-estreia de Meia-Noite em Paris, filme novo do Woody Allen, e escrevi minha opinião no Motim. Fiquem à vontade pra ler, comentar e compartilhar.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Eu, Robô

Há menos de uma semana pro vestibular e eu me pego com a garganta inflamada, nariz entupido, dores no corpo, coluna arrebentada, olheiras profundas, cabeça dolorida, vista cansada e febre. Fica parecendo que passei por algum tipo de tortura nos últimos quatro meses, quando tudo o que fiz foi sentar, ler, pensar, escrever e levantar. E o pior. Acho que não estudei o suficiente. Porque a gente NUNCA vai ter estudado o suficiente.

No começo do semestre, quando montei meus horários, achei que seria tranquilo estudar 10 horas por dia, dar aula particular, depender de transporte público, ser um bom namorado, ver um filme por semana, escrever em dois blogs, frequentar a igreja, cantar em coral, tocar violão... E no começo até foi. Mas dois meses depois, o seu corpo começa a gritar. E de repente você está indo pro banheiro jogar água na cara e se estapear pra ver se fica acordado até o fim da aula.

Quando faço esse tipo de programação, não sei se gosto de me iludir ou se realmente acredito que vou dar conta de tudo. A culpa é desse personagem ultra-eficiente que criei aos nove anos de idade e tomei como verdade absoluta. Um menino que consegue fazer o dia render, não aperta o botão de soneca do despertador, não cede a impulsos destrutivos e não procrastina tarefas desagradáveis. Acabei me programando como se fosse esse menino, mas vivendo como se fosse eu mesmo, ou seja, um caos.

É chato porque isso desestimula até o mais preparado dos candidatos. Você vê seus horários de estudo cheios de furos, suas apostilas em branco, seus cadernos incompletos... E acaba aceitando a triste verdade de que, mais uma vez, foi por pouco.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

domingo, 22 de maio de 2011

Forçando a Barra


Gosto muito de uma cena de Vicky Cristina Barcelona, onde a Cristina (Scarlett Johansson) se queixa de não ter talento, apesar de saber apreciar arte com bastante propriedade. Ela diz: "I just have to come face to face with the fact that I am not gifted, you know? I can appreciate art and I love music, but… It’s sad, really, because I feel like I have a lot to express and I am not gifted." Não vou fazer o modesto e dizer que não tenho talento. Até acho que ele existe em alguma proporção. Mas esse sentimento de que sempre tenho muito mais a expressar do que sou capaz é constante.

É complicado falar de talento. Porque tem gente que vê alguém tocando piano com desenvoltura e vai logo dizendo: "olha que dom maravilhoso esse menino recebeu" e, na verdade, só o menino sabe o tanto de horas que passou treinando e praticando antes de "receber" seu dom. É ilusão acreditar que as pessoas saem pegando um caderno (abrindo o Word, no caso) e escrevendo lindos contos, poemas ou romances. Escrever é um trabalho muito menos criativo do que se imagina. A criatividade é importante, lógico. Existe aquele momento em que a história surge na nossa cabeça e que alguns chamam de inspiração, mas isso é só o começo. A partir daí é preciso usar todo o seu vocabulário, experiência e conhecimento da língua pra pegar essa inspiração e transformar em texto.

Nunca tive problemas com a parte da criatividade, mas tentar transmitir esses sentimentos através de um código é sempre problemático. Por isso, estou convencido de que praticar a escrita é a única forma de realizar uma comunicação mais eficiente com o leitor. É preciso dominar as ferramentas. E resolvi criar um lugar onde eu possa treinar, publicando trabalhos um pouco mais pensados e polidos que os textos desse blog (já que o que eu faço aqui é simplesmente vomitar). Talvez assim eu me sinta desconfortável em manter um site desatualizado e acabe me obrigando a escrever mais.

Então, ainda que sem confiança no meu talento, a partir do dia 28 de maio entro para o seleto grupo de escritores de blogs metidos à literatura. Aguardem.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tenho fases, como a lua...


Aceito gente mentirosa, cruel, fofoqueira, egoísta, mesquinha, interesseira e até flamenguista, mas, por favor, não me pede pra ficar do lado de gente de lua. Não entra na minha cabeça essa dificuldade que a pessoa tem em perceber que o mundo não gira em torno do seu umbigo e que, por mais difícil que a vida esteja, os outros viventes não têm nada a ver com isso. Posso estar sendo inocente, mas quando eu era criança, minha mãe me ensinou a ser agradável com os outros. Aprendi que é melhor chorar no banheiro a estragar a festa do amiguinho.

Por isso fico tão indignado quando conheço alguém com constantes mudanças de humor. Um dia a pessoa te conta metade da vida dela, ri das suas piadas e faz comentários generosos, no outro ela não olha na sua cara. E você fica se perguntando se vive numa espécie de realidade paralela, porque até ontem, jurava que eram melhores amigos. É desgastante cumprimentar alguém sem saber que faceta virá à tona. E juro que passei da fase de pedir desculpas por coisas que eu não fiz.

Acho que existe uma regra básica que pessoas que vivem em qualquer tipo de sociedade devem respeitar. A regra é a seguinte: você não está sozinho (UFO_feelings). Pronto. Isso implica engolir o choro algumas vezes, sorrir sem vontade ou dizer bom dia quando na verdade você quer que o mundo se exploda. Não estou falando de falsidade, gente (por favor, não sejam retardados). Estou falando de guardar um pouco os sentimentos desagradáveis, sem que eles te transformem em um velho ranzinza. Depois conversa com sua mãe, com seu terapeuta, sei lá...

Cecília Meireles que me perdoe, mas a única fase que eu aceito é a puberdade (e dessa aí, que eu saiba, a grande maioria dos meus amigos já passou). Então, gente... A vida é uma bosta mesmo e estamos juntos nessa. Lide com isso e faça o favor de sorrir.