sábado, 14 de maio de 2011

All In


Hoje é meu aniversário e decidi não fazer nada. Ano passado armei festa, convidei os amigos, enchi balões e terminei o dia me sentindo vazio. Dessa vez quero ficar em casa... Acordar tarde, curtir minha família, beijar minha namorada, ouvir música boa e comer besteira. Quero ter tempo de fazer essas análises profundas que só as datas especiais nos permitem. Pegar um álbum antigo para ver as fotos da infância. Sentir um bocado de gratidão e outro bocado de remorso.


Sempre me incomodou pensar no que minha vida poderia ter sido se eu tivesse tomado algumas decisões diferentes. É triste ter que optar entre dois caminhos sem saber antes qual deles vai nos fazer mais feliz. Cada escolha é uma aposta baseada na nossa intuição, experiência e no erro dos outros. E como toda aposta, às vezes a gente perde e às vezes a gente perde menos.

domingo, 8 de maio de 2011

Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias


Semana passada a Vanessa da Mata fez um show lindo aqui em Brasília pra apresentar seu novo álbum: Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias. Demorei uma semana, mas finalmente consegui passar todos os vídeos que fiz pro YouTube. E achei justo dividir o espetáculo com vocês.



Na hora do bis, a gente foi pra frente do palco e ela veio cantando "Se você quiser eu vou te dar um amor desses de cinema...". Quando eu vi, já tava esticando a mão pra tocar nela, feito um tiete cafona. Defina a vergonha da minha namorada, assistindo a cena.


PS: Tem mais no meu canal do YouTube.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Tá no inferno...


Eu tenho essa tendência de deixar tudo um pouco pior do que já está. Porque preciso de um argumento que justifique meu desânimo. É inconsciente. Crio uma lista mental de pelo menos 10 coisas que eu possa usar a meu favor na hora de uma discussão. 10 coisas que, na minha boca, parecem realmente terríveis e cruéis, mas que na verdade todo ser humano normal consegue superar com uma mão nas costas.

Por exemplo, eu preciso acordar cedo e ir de ônibus pro cursinho. Coisa normal, que mais da metade da população brasileira faz desde que nasceu. Mas se eu te contar isso, usando todo o meu vocabulário dramático e minhas hipérboles sutilmente bem colocadas, você é capaz de chorar de pena (ou me dar um carro no dia seguinte). E o pior é que eu internalizo o argumento. Acredito nele, fico nele e a gente vai convivendo, de mãos dadas.

Sou completamente a favor do nosso direito de sofrer por bobagem. Se a sua internet saiu do ar, você tem sim o direito de chorar por isso. A internet é sua, as lágrimas são suas e só você pode definir o preço delas. Não dá pra ser Poliana o tempo todo. Sempre alguém vai estar passando fome, morrendo, perdendo braços e pernas... O que não te impede de ficar de mau humor por ter acordado com o cabelo feio. Mas às vezes a gente precisa parar de birra e enfrentar as coisas feito gente grande. E já que não adianta remoer um problema sem solução, vamos todos engolir o choro e abraçar o capeta.

PS: A foto é do Tumblr Sun-Shower.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Forjando Analógicas


Há alguns meses, falei aqui sobre dois aplicativos da Apple que simulam uma câmera fotográfica analógica. Nunca tive a chance de usar nenhum deles, porque meu robusto iPod de primeira geração nem câmera tinha, mas essa semana as coisas mudaram. Dei muita aula, passei muita fome, mas consegui juntar dinheiro pra comprar um iPod novo. Com câmera. E o primeiro aplicativo que baixei foi o Hipstamatic (mentira, o segundo, porque o primeiro foi Angry Birds mesmo). Dois dias e 60 fotos depois, só consigo encontrar uma palavra pra descrever minha relação com esse programa: amor.

O Hipstamatic conta com várias lentes, filmes e flashes que reproduzem os efeitos das antigas toy cameras: câmeras baratas, feitas em sua maioria de plástico e com contraste e saturação acima da média. Segundo a Wikipédia, "muitos fotógrafos profissionais já usaram as toy cameras e seus estranhos efeitos óticos para tirarem fotografias vencedoras de prêmios". E os criadores são tão safados espertos, que criaram uma loja dentro do aplicativo, pra quem quiser adquirir novas lentes e acessórios. É claro que a gente não resiste e acaba com uma pequena falência a cada mês.

Ontem passei a tarde no zoológico e aproveitei pra experimentar todas as combinações de lentes possíveis, embora tenha usado muito a Helga Vinking, que tinha acabado de comprar. O mais legal é que a sua visualização prévia da foto (o que agora conhecemos como visor LCD) é de péssima qualidade e muitas vezes o resultado sai completamente diferente da sua intenção (o que, na verdade, é a graça de quase todas as analógicas). Tudo bem que, a cada três fotos, duas ficavam péssimas, mas algumas saíram tão interessantes que eu quase esqueci que estava lidando com um iPod Touch e comecei a procurar preço de revelação em laboratório.





quarta-feira, 20 de abril de 2011

19 Anos e Mais Nada

Ontem foi confirmada a transferência do meu pai pra Campinas e agora ninguém sabe o que fazer. Porque nossa família nunca se separou. Meus dois irmãos mais velhos, apesar de casados, moram aqui no DF (um em cada extremo, é verdade, mas ainda aqui) e todo mundo já tem sua vida estabelecida, seus empregos, suas casas, etc. Eu sou o filho que não tem nada. Tenho um cachorro e uma namorada, mas, fora isso, nada me impede de mudar de cidade, estado, país ou planeta.  O único problema seria ganhar bem menos com as aulas particulares de redação e literatura, porque a hora-aula que se paga aqui (principalmente a hora-aula que os alunos do Galois pagam aqui) não existe em nenhum outro lugar. Em outros tempos eu adoraria a ideia, mas hoje tenho medo de ficar sozinho. Mais uma vez.

Demorei a reconhecer que sou extremamente dependente da minha família. Uma dependência emocional mesmo. Porque, no fundo, eu não tenho mais nada. Nunca fui de amizades profundas, de entrega completa e sinceridade desmedida. Até porque, sempre tive muito mais amiga que amigo (descobri cedo que nós, meninos, somos muito desinteressantes e abobalhados) e amizade entre homem e mulher, quando não tem segundas intenções, está fadada à superficialidade. Sobrou minha família, onde sempre depositei essa enorme bagagem de medo e insegurança.

Tenho a sorte de ser o caçula e poder contar com dois irmãos razoavelmente estabelecidos, mas não acho que aguentaria passar 4 anos numa casa que não é minha. Por mais à vontade que eu me sinta, não seria confortável pra nenhum dos lados. E nessas horas bate um desespero, porque eu vejo que não tenho muitas outras opções. Não construí nada onde eu possa me agarrar. Não tenho faculdade, salário fixo ou um teto pra fugir do sereno. E o mundo tá aí, querendo me engolir. E eu aqui, com medo de encarar.

E eu aqui, preso num tempo entre 1991 e a puberdade.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Fotossíntese

Estava ouvindo o CD novo da Adriana Calcanhoto e pensando que a gente precisa mais de samba. Que tá todo mundo extremamente travado e amedrontado com o futuro. Gente estudando pra concurso público, porque o único objetivo da vida é estabilidade. Olha... Se fosse pra ser estável, eu preferia ser, sei lá, uma árvore, não um ser humano. Parece bem mais fácil ficar ali, com as folhas abertas ao sol, só fazendo fotossíntese e puxando nutrientes de canudinho. Mas eu decidi aceitar o fato de que, infelizmente, não sou uma planta. Preciso de um pouco mais pra ser feliz.

Eu não sei quando foi que as pessoas ficaram tão covardes. Não lembro de ouvir esse tipo de proposta aos oito anos de idade. Naquela época a gente achava que podia ser o que quisesse quando crescesse. E ninguém queria ser funcionário público. O medo de ser pobre (ou desempregado, ou não ter o carro do ano) é tanto que as pessoas vão abrindo mão de quem elas realmente são. Minha nossa, isso tá ficando de uma breguice vergonhosa.

O fato é que tem gente achando que sabe o que é melhor pro meu futuro. E nem é meu pai ou minha mãe, ou meus irmãos. É gente que me conheceu ano passado e se julga no direito de vir e, oh, pobre menino... Por que você não desiste da universidade e vai estudar pra concurso? Vai cuidar do sustento dos seus filhos...

Antigamente eu tinha vontade de rir. Agora tenho vontade de sambar.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Todo Mundo Nu e Cru

Não por acaso, Nick Hornby (o escritor do aclamado Alta Fidelidade) é considerado por muitos a maior voz desta geração. Sua literatura é recheada de iPods, e-mails, blogs, fóruns e outros elementos tão comuns à vida dos jovens adultos de hoje. Seu último romance, Juliet, Nua e Crua, conta uma história de amor madura. O que é irônico, já que os personagens tem na infantilidade sua maior característica.

Annie é casada há 15 anos com Duncan, um entusiástico fã de Tucker Crowe (cantor e compositor de sucesso que não lança nada desde os anos 80). E Duncan é um babaca, porque coloca a relação dele com a música acima de todas as outras (mais ou menos o que eu faço com o cinema). Annie acaba tendo acesso a "Juliet, Nua e Crua", uma versão demo do álbum mais famoso de Tucker Crowe, e resolve fazer uma resenha lúcida (não a babação de ovo que seu marido faz) sobre o mesmo na internet. Para a sua surpresa, o próprio Tucker Crowe lê a resenha e entra em contato. Os dois começam a se corresponder, descobrem infelicidades comuns e fecham o triângulo amoroso.

Hornby tem essa facilidade de mostrar o pior lado de seus personagens. E fica a sensação de que todos são reduzidos a seus defeitos. Duncan é um deslumbrado enfadonho, Annie, uma solitária depressiva e Tucker, um cafajeste beberrão. E por mais triste que isso seja, a gente acaba se encaixando em uma das três cartilhas da derrota.

"Duncan não fazia Annie sentir-se incompetente ou insegura de si e de seus gostos. Era o contrário. Ele não sabia nada sobre coisa alguma, e ela nunca se permitira reparar nisso, até agora. Sempre pensara que o interesse apaixonado dele por música, filmes e livros mostrava inteligência, mas claro que aquilo não indicava nada disso, se constantemente ele entendia tudo errado. Por que ele estava ensinando aprendizes de encanadores e futuros recepcionistas de hotel a assistir à televisão americana se era tão esperto? Por que escrevia milhares de palavras para websites obscuros que ninguém lia? E por que estava tão convencido de que um cantor, a quem ninguém jamais dera muita atenção, era um gênio capaz de rivalizar com Dylan e Keats?"

PS: A arte da capa, criada por Kai Regan, é talvez a melhor coisa de Juliet, Nua e Crua.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

As Coisas que Escrevo Sem Consciência

A coisa mais comum no ensino médio é aluno entediado tirando um cochilo na carteira. Às vezes fazendo o próprio casaco de travesseiro, às vezes fazendo do caderno, aparador de babas. E no cursinho isso não acontece. As pessoas não debruçam na carteira pra dormir. Elas simplesmente perdem a luta contra o sono e, involuntariamente, dormem eretas, com os braços cruzados e a cabeça pendendo do pescoço. Ao contrário do que acontece na escola, os professores sentem pena. Porque sabem que ninguém ali quer dormir, não se trata de desinteresse, é mais uma questão de limite mesmo, de exaustão. E também rola um compadecimento dos colegas de classe. Amanhã o pescador pode ser você.

Perdi as contas de quantas vezes acabei dormindo enquanto copiava a matéria. Sem brincadeira: com a caneta na mão! E meu caderno agora é cheio de frases que começam lindas e acabam em rabiscos desatinados.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Geração Multitasking


Desde os 12 anos, eu não sei o que é fazer uma coisa de cada vez. Aprendi a almoçar enquanto leio revistas, falar ao telefone enquanto jogo no computador, fazer dever de casa enquanto assisto televisão e, às vezes, tudo isso ao mesmo tempo. Com a internet (e principalmente o wi-fi) as coisas ficaram ainda piores. Por exemplo, qual foi a última vez que você, durante 30 minutos, se dedicou apenas a uma refeição? Sem celulares, iPods ou qualquer tipo de distração entre sua boca e a picanha (ou a pizza, ou a salada).  A ideia de que o tempo é curto demais pra ser desperdiçado com uma coisa só parece bem lógica, mas não passa de ilusão. E temos essa tendência de querer preencher ao máximo nossos segundos. Quer dizer, se eu ainda estou com uma mão livre, tem alguma coisa errada, né?

Na Info do mês passado, saiu uma reportagem exatamente sobre isso. E o texto caiu como uma luva, porque estou sentindo muita dificuldade em me concentrar nos estudos. Minha mente não era acostumada a passar 10 horas por dia com um único objeto de foco. A sensação é de desperdício. Como se eu estivesse usando um computador com 4GB de memória só pra escrever no Word.

"Há uma corrente de estudos que ganha força e defende a ideia de que nosso cérebro realiza bem apenas uma atividade cognitiva, que envolve pensa­mento e raciocínio, de cada vez. Aparentemente, apenas ouvir música não atrapalha a produtividade. Uma pesquisa ainda inédita que o especialista em gestão do tempo Christian Barbosa está realizando há um ano para avaliar o modelo mental das pesso­as em situações de multitarefa mostrou que o des­perdício médio de tempo ao realizar atividades simultâneas é de 35%. Ou seja, no lugar de ganhar tempo com a multitarefa, você perde. O estudo já conta com respostas de 2100 participantes. "É inte­ressante ver que apenas 2% das pessoas tiveram uma performance melhor com multitarefa, mas to­das cometeram algum tipo de erro", diz Barbosa, CEO da consultoria Triad PS. Você pode até conseguir fazer mais de uma coisa, mas provavelmente errará algo.

O fato é que não somos tão multitarefa quanto gostaríamos. Mas muitas pessoas se sentem força­das a dar conta de inúmeras tarefas ao mesmo tem­po. "Há uma grande pressão cultural para respon­dermos imediatamente quando qualquer pessoa entra em contato. Isso leva à rnultitareta", diz Clifford Nass, pesquisador na área de psicologia da Universi­dade de Stanford, nos Estados Unidos. Ele participou de um estudo recente para identificar o grau de rnul­titarefa das pessoas. As que disseram fazer muitas atividades simultâneas tiveram uma performance pior nos testes cognitivos e de memória quando comparadas às que se diziam monotarefa."

PS: Escrevi esse post com apenas duas abas abertas no navegador. Um recorde!

sábado, 19 de março de 2011

Simulação

Eu queria muito que alguém entrasse na minha mente e visse como ela funciona, porque eu tento explicar e parece que as pessoas não entendem realmente a dimensão da coisa. Por exemplo, hoje tive um simulado de exatas no cursinho (semana passada foi o de humanas, que eu já achei incrivelmente difícil) e minhas expectativas nem eram das melhores. E também... Acho que estava muito cansado. Tinha acordado às 5h30, andado de ônibus, tomado chuva e estudado a manhã toda. Apesar disso, juro que comecei a fazer a prova com bastante confiança. Garrafinha de água cheia, calculadora em cima da mesa, Club Social... Vinte minutos depois e eu já estava pensando em voltar pra casa.

O Cespe (esse órgão responsável por toda a tristeza e amargura do mundo, que faz as provas da UnB) tem um sistema de pontuação no mínimo cruel. Aquele onde uma questão errada anula uma certa. O que te impede de chutar, se não quiser terminar a prova com ponto negativo. Então eu fui deixando as questões que eu não sabia em branco... E foi ficando TUDO em branco. Aí desesperei e comecei a fazer algumas que eu tinha uma leve desconfiança, mas cheguei a conclusão que essa estratégia ia mudar minha nota de 0 pra, sei lá, -81.

E eu tenho estudado muito. É o meu limite, sabe? Não dá pra fazer mais que isso (ok, talvez dê, se eu passar a dormir 3 horas por noite). E me irrita muito não poder marcar uma questão porque não lembro se a gástrula vem antes ou depois da blástula (coisa que eu já tinha estudado, mas minha memória fez questão de abstrair). Quer dizer... Como se não bastasse as matérias acumuladas, eu ainda vou ter que voltar nas que eu já tinha fechado porque não deu pra absorver tudo? Realmente. Não tô em condições.

Por causa de tudo isso, comecei a pensar em desistir do simulado. Simplesmente jogar a prova no lixo e ir pra casa. Depois pensei em desistir do meu curso. Talvez se eu fizesse letras, conseguiria passar e viver uma vida que eu não escolhi. Então pensei em desistir da UnB. E no fim eu já estava pensando em desistir da vida. As coisas sempre terminam aí. Essa é a linha de pensamento que minha mente, ansiosa e doentia, tem o costume de adotar. E na hora faz todo o sentido. A minha sorte é que nesse ponto eu começo a cair na real. Vejo que não vai ser possível morrer agora e faço o caminho de volta, até chegar numa chuvosa tarde de sábado.

Tenho estado muito instável, sabe? E eu não tinha esse costume de pensar em desistir. Eu costumava suportar bem as adversidades. Bem mais do que eu tenho suportado. Minha disciplina era brilhante, minha concentração, de dar inveja. Não sei o que está acontecendo. E olha que era só simulação.